Fraude muda estratégia de fiscalização do leite

Jornal O Popular, 01/11/2007

Fraude muda estratégia de fiscalização do leite

Órgãos de defesa agropecuária passam a atuar juntos na fiscalização das indústrias e do comércio de leite e de seus derivados no Estado de Goiás

Sônia Ferreira

Os órgãos públicos do setor agropecuário goiano decidiram atuar de forma integrada na fiscalização da indústria de laticínios e do comércio de leite e seus derivados, tendo em vista as últimas denúncias sobre a qualidade do leite em Goiás e em Minas Gerais. Durante reunião realizada ontem, durante todo o dia, no auditório da Secretaria da Agricultura, os representantes do setor público e privado acertaram mais quatro medidas que serão adotadas a partir de hoje.

As medidas envolvem a intensificação da inspeção e fiscalização nas indústrias de leite e no comércio varejista; realização, a cada 15 dias, de coletas de amostras de leite para análises laboratoriais; a realização de concurso público para contratação imediata de cerca de 350 fiscais pela Agência Goiana de Defesa Agropecuária (Agrodefesa) e a formação de equipes que trabalharão em rodízio .

Atualmente, 160 técnicos da Agrodefesa e 9 do Ministério da Agricultura atuam na inspeção e fiscalização de 71 indústrias de laticínios em Goiás. As normas do Ministério da Agricultura determinam as coletas de amostras do leite para análise pelo menos duas vezes ao ano. Os órgãos de fiscalização garantem, entretanto, que em Goiás elas são feitas, em média, a cada 60 dias. Mas, a partir de hoje devem ser feitas quinzenalmente.

O Sindicato da Indústria de Leite no Estado de Goiás (Sindileite) se comprometeu a facilitar ainda mais o trabalho dos fiscais dos órgãos de defesa agropecuária e garante que vai agir, junto com os órgãos competentes, para retirar do mercado as empresas que fraudam produtos.

Apesar da mudança na estratégia de vigilância, os órgãos de defesa agropecuária insistem em afirmar que a fiscalização é eficiente e que as medidas serão tomadas para dar mais segurança ao consumidor quanto ao leite produzido e comercializado em Goiás.

O secretário da Agricultura, Leonardo Veloso, e o superintendente do Ministério da Agricultura em Goiás, Helvécio Magalhães, asseguram que o leite produzido e comercializado no Estado é de boa qualidade, apesar do laudo apontando problemas em 18 marcas. Garantem que foram pontuais as falhas apontadas nos exames realizados no Laboratório da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás e divulgados pelo Procon-GO, na última sexta-feira.

Falhas
De acordo com eles, falhas podem ocorrer, provocadas por pessoas ou mesmo por máquinas. Helvécio Magalhães e Leonardo Veloso afirmam que, no caso do leite em Goiás, o índice do produto fora do padrão de qualidade é inferior a 1% do total produzido. O cálculo contraria estimativas divulgadas pelos próprios produtores de leite que, reunidos na maior feira do setor da América Latina, realizada em São Paulo, revelaram ontem que cerca de 30% do leite produzido no País não segue regras da Vigilância Sanitária.

O superintendente do Ministério da Agricultura lembrou que, nos laudos divulgados pelo Procon-GO, o problema maior foi o índice de gordura abaixo do padrão recomendado pelo Ministério da Agricultura. “Isso é uma fraude econômica, que não prejudica a saúde das pessoas.”

O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite, Jorge Rubez, revelou ontem, também na feira do setor, que fraudes parecidas foram detectadas há 4 anos pelo Ministério da Agricultura, como a adição de soro que aumenta em até 20% a quantidade do produto. No entanto, afirmou, a denúncia foi arquivada. Ele atribui a continuidade de crimes à impunidade. O Ministério afirmou que está investigando as denúncias.

O secretário da Agricultura do Estado de Goiás, Leonardo Veloso, explicou que o uso de soda cáustica é obrigatório na higienização dos equipamentos das indústrias, mas esse tipo de utilização não causa mal à saúde humana, desde que a quantidade residual seja muito pequena.

Pela inspeção realizada pela Agrodefesa desde junho, uma única indústria, que produz a marca Big Leite, estava produzindo leite com adição de soda cáustica e ela encerrou suas atividades depois de ser multada. O superintendente do Ministério da Agricultura em Goiás lembra que, no Brasil, não existe metodologia que detecta 100% de certeza de presença de soda cáustica no leite. Por isso, afirma, “estamos fazendo fiscalização preventiva nas indústrias”.

Além de detectar soda cáustica em duas marcas de leite, os exames realizados pelo Procon de Goiás e Centro de Pesquisa em Alimentos da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás – divulgados na sexta-feira – apontaram problemas diversos nas amostras, como contaminação bacteriana, falta de gordura, de sais minerais, de proteínas e de vitaminas, presença de água oxigenada, excesso de água, de acidez e de soro.

Os representantes dos setores público e privado ligados à cadeia do leite em Goiás repudiaram a forma com que o Procon divulgou os laudos dos exames do leite comercializado em Goiás. Eles consideraram a forma “intempestiva, precipitada e alarmista”, uma vez que não foi realizada a contraprova das amostras pelas indústrias.