A volta das gordurinhas

Jornal Diário da Manhã, 03/11/2007

A volta das gordurinhas

Thatiane Rocha Abreu
thatianerocha@dm.com.br
Da editoria de Cidades

A cirurgia de redução do estômago, chamada pelos médicos de cirurgia bariátrica, existe desde a década de 50, mas começou a se popularizar no Brasil apenas nos últimos dez anos. A cada ano, cerca de 25 mil pessoas procuram o método após tentar de tudo para se livrar do excesso de peso sem êxito. Mas, em torno da grande procura pelo método, especialistas alertam que existe um grande erro de quem deseja encontrar no procedimento a solução eterna para o excesso de peso. Quem faz a cirurgia e continua ingerindo alimentos calóricos, como doces, gorduras, refrigerantes e bebidas alcoólicas em grande quantidade, aliados ao sedentarismo, pode recuperar os quilos perdidos com o tratamento e voltar a engordar.
É o que explica o cirurgião do aparelho digestivo e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás (UFG) Oscar Barroso Marra. Para ele, a cirurgia de obesidade tem de ser encarada pelo paciente como uma etapa no processo de emagrecimento, e não como uma fórmula mágica para a perda rápida de peso. Ele explica que muitos pacientes ficam satisfeitos com os resultados a médio prazo que a cirurgia proporciona, mas se esquecem de que o tratamento não termina com a cirurgia e precisa ter continuidade. Ele avalia que, após três anos, se o paciente que se submeteu à cirurgia não seguir o acompanhamento médico, nutricional e psicológico, pode voltar a engordar.
“Esse paciente operou o estômago, e não a cabeça”, avalia. Por isso, segundo o médico, por mais que o paciente tenha a compulsão por comida reduzida, devido à diminuição do hormônio da fome (grelina), e tenha a quantidade de hormônios saciadores aumentada (PYY) por causa da cirurgia, sua mente continuará assimilando que o corpo ainda necessita de uma grande quantidade de comida.
Por isso, o especialista destaca a importância de um acompanhamento psicológico, já que, na terapia, o paciente irá trabalhar a antiga dependência por comida e treinar a mente até esta assimilar que não precisa mais de uma grande quantidade de alimentos para saciar o corpo. Já um nutricionista avaliará a dieta correta com os alimentos ideais para o paciente, enquanto o cirurgião acompanhará desde a cicatrização do local até a quantidade de vitaminas que precisa ser reposta no organismo. “Os efeitos da cirurgia bariátrica no corpo são os mesmos de uma pessoa que se expôs a uma longa dieta, mas a curto prazo, e, assim, perde importantes nutrientes, que precisam ser repostos.”
A obesidade está relacionada a três características: à genética, ao sedentarismo e à dieta hipercalórica, regrada a doces e alimentos gordurosos. De acordo com Oscar Barroso Marra, por mais que o estômago tenha sido reduzido, se a pessoa voltar a comer como antes, ela pode voltar a engordar e prejudicar o processo cirúrgico.
O médico Oscar Barroso Marra explica que repetir a cirurgia de redução do estomâgo, caso o paciente volte a engordar, não é simples como a maioria pensa. “As pessoas precisam compreender que a cirurgia bariátrica não deve ser feita com objetivo estético, mas para ganho de saúde.” E ressalta que o sucesso do tratamento depende apenas do paciente.
A alteração fisiológica de quem se submete ao método, por conta das alterações hormonais, pode ser benéfica, ajudando a combater o diabetes e o colesterol alto. Essas são as principais doenças que pessoas com problema de excesso de peso podem apresentar.
Só quem já pesou 154 kg e hoje está com 67 kg pode dar valor ao esforço para se chegar ao peso sonhado desde a adolescência. Essa é a história da estudante Keilla Cristina Ribeiro, que diz que ganhou uma nova vida depois que fez a cirurgia bariátrica, em fevereiro do ano passado. Ela diz que hoje precisa correr atrás e se esforçar muito porque não quer engordar novamente. “Todo o sucesso da minha cirurgia depende de mim”, afirma.
Ela conta que aprendeu que o ato de comer está ligado ao emocional e que isso teve que ser trabalhado em seu processo pós-cirúrgico. “É um casamento com o nutricionista, com o psicólogo e com o cirurgião para o resto da vida”, avalia.

Consciente
Com apenas três meses de cirurgia, a estudante Renata Machado Guerra, 29, está com 18 quilos a menos, mas enfrenta a fase mais difícil do tratamento, que é o pós-operatório. “No primeiro mês, eu chorava bastante”, revela. Nesse período, a paciente precisa se alimentar apenas de líquido e comer apenas legumes peneirados.
Ela conta que já havia tentado de tudo para emagrecer, desde dietas ao uso de fórmulas químicas. Diz que agora não quer perder os benefícios alcançados com o tratamento. Para isso, ela afirma que irá seguir todas as prescrições do médico e que continuará com o tratamento pós-cirúrgico com a psicóloga e nutricionista.