Cena teatral renovada

Jornal O Popular, 06/11/2007

Cena teatral renovada

6º Goiânia em Cena terminou com saldo positivo, com apresentação de 18 espetáculos e público de cerca de 10 mil pessoas

Valbene Bezerra

Com o espetáculo Uma História Invisível, da Quasar Cia. de Dança, terminou sábado à noite a sexta edição do Festival Internacional Goiânia em Cena. Promovido pela Secretaria Municipal de Cultura, em parceria com a Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás, o evento consolida-se como um dos mais importantes do calendário cultural da cidade. Além de oferecer atrações inéditas fora do circuito comercial e de apostar na pesquisa de novas linguagens, o festival atrai um público cada vez maior. Este ano, cerca de 10 mil pessoas assistiram aos 18 espetáculos em cartaz e participaram das oficinas, minicursos, debates, mostra de videodança e mercado de produção cênica.

Durante duas semanas, grupos de Goiânia, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Bahia e Paraná apresentaram produções inovadoras. O Cirk Bolshoi trouxe artistas da Rússia e as companhias Amor Y Circo e Harapo vieram da Argentina.

Aberto em plena segunda-feira, 22 de outubro, com a primorosa montagem de Pinocchio, do Giramundo Teatro de Bonecos, de Belo Horizonte, o festival teve como ponto alto a apresentação do espetáculo A Pedra do Reino, do Macunaíma Grupo de Arte Teatral e Centro de Pesquisa Teatral do Sesc/SP, dirigido por Antunes Filho. Em duas sessões no Teatro Goiânia, a companhia exibiu o texto de Ariano Suassuna, tendo à frente do elenco o goiano Lee Thalor, revelação do teatro em 2006, indicado ao Prêmio Shell de Melhor Ator. Com rara habilidade, Antunes condensou a extensa obra de Suassuna em um texto conciso e ágil, e Lee arrebatou a platéia com a interpretação impecável de Pedro Dinis Quaderna.

A apresentação de Danças de Repertório, da Cia. de Dança da Cidade, do Rio, foi também um dos bons momentos do Goiânia em Cena. Dirigido por Marise Reis e Roberto Pereira, a companhia apresentou um pouco do que os grupos de dança fizeram nos anos 1970/80. Roberto traçou um panorama da dança, expondo didaticamente detalhes de cada coreografia. O grupo mostrou seis produções de coreógrafos como Graziela Figueiroa, Carlota Portela, Lia Rodrigues e João Saldanha, Nina Verchinina, Renata Melo e Sônia Mota. Com competência e bailarinos impecáveis, a companhia da UniverCidade do Rio de Janeiro recriou com bastante precisão os movimentos e até o figurino das montagens originais.

Goianos
Entre as atrações de Goiânia, é preciso destacar o trabalho do grupo Arte & Fatos, com Balada de um Palhaço. A montagem foi um grande acerto de Danilo Alencar e desde a estréia, em dezembro de 2006, tem conquistado prêmios com o texto de Plínio Marcos. Um dos melhores trabalhos do Teatro Ritual, Travessia — Parte 1 — A Partida revive, por meio dos movimentos sutis do butô, a tragédia do césio 137 em Goiânia.

Apesar da precariedade do local, abandonado à própria sorte desde que Carlos Brandão entregou o bastão para assumir o Goiânia Ouro, o Centro Cultural Martim Cererê foi palco da nova proposta de Hugo Rodas para Édipo, a tragédia grega de Sófocles. Professor da UnB, Hugo tem fortes ligações com Goiânia. Dessa vez, arrebatou a platéia com a encenação contemporânea da história de Édipo e Jocasta, arrancando de Adriana Veloso e Thiago Benetti uma interpretação arrebatadora.

No último dia do festival, a Quasar lotou o Teatro Goiânia com a coreografia A História Invisível. Mais intimista do que os trabalhos anteriores, a coreografia investe nos movimentos corporais sofisticados, exigindo alto grau de perfeição dos bailarinos.

Parceira pela segunda vez, a Escola de Música de Artes Cênicas da UFG contribui para o aprimoramento da programação, a organização e a pontualidade das sessões. Investe também na qualidade de cada atração, que rompe com os padrões estéticos convencionais, apostando na inovação da linguagem cênica. Para uma cidade que vive a ebulição teatral, são mais do que bem-vindos festivais do porte do Goiânia em Cena.

Este ano, o festival prestou uma homenagem aos expoentes do teatro goiano, entregando aos diretores Marcos Fayad e Hugo Zorzetti e à atriz Ingrid Guimarães o Troféu Goiânia em Cena. Maneco Maracá, do Circo Laheto, o cenógrafo Shell Júnior, o coreógrafo Henrique Rodovalho, da Quasar , e Delmari Rossi, diretora do Mvsika! Centro de Estudos e o ator carioca Oswaldo Loureiro também foram agraciados com uma pequena escultura que tem um enorme significado: reconhece o valor de cada um para manter vivo o teatro, a dança e o circo em Goiás.