Risco de desemprego após vencer funil do vestibular

Jornal O Popular, 12/11/2007

Risco de desemprego após vencer funil do vestibular

Primeiro, candidatos enfrentam forte concorrência em cursos e, Depois de formados, amargam falta de trabalho ou baixos salários

Deire Assis

Cada um dos interessados em uma vaga no curso de Fisioterapia oferecido pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) teve de enfrentar a concorrência de mais de 50 candidatos no último vestibular da instituição. A graduação mais concorrida do Estado já chegou a registrar 80 candidatos por vaga em anos anteriores. Porém, nem tudo são flores na saída da faculdade. Depois de superar o apertado funil do vestibular, muitos dos recém-formados desse e de outros cursos que registram elevada concorrência nas instituições públicas de Goiás (veja quadro na página 3) enfrentam o drama do desemprego, do subemprego e da baixa remuneração.
O curso de Direito da Universidade Federal de Goiás (UFG) é o segundo mais disputado da instituição, de acordo com levantamento divulgado há cerca de três semanas pela universidade. Considerando os formandos do curso oferecido pela UFG e das 33 graduações da área existentes no Estado, aproximadamente 8,2 mil estudantes tornam-se bacharéis em Direito por ano em Goiás.

A expansão acelerada da oferta de cursos de Direito no Estado e no restante do País produz uma enorme massa de desempregados entre esses profissionais. Mais de 75% estão fora do mercado de trabalho, estima a Ordem dos Advogados do Brasil, seccional de Goiás (OAB-GO), que alerta para a saturação do mercado em todo o País.

No Estado, são 17 mil advogados inscritos na seção goiana da OAB, de acordo com seu presidente, Miguel Ângelo Cançado. Para o presidente da entidade, os porcentuais de profissionais sem registro na Ordem – portanto sem condições de exercer a profissão – podem ser aplicados também em Goiás. Isso significa dizer que em torno de 50 mil bacharéis em Direito devem estar fora do mercado de trabalho no Estado, em ocupações temporárias ou em subempregos. “A situação é alarmante. Há oito anos, o número de inscritos em cada Exame de Ordem, no Brasil, era de cerca de 6 mil. Hoje, esse número passa de 80 mil inscritos. É preciso dar um freio nisso”, frisa o presidente da OAB-GO.

Carlos Stuart Coronel Talma Júnior, de 32 anos, concluiu o curso de Direito em 1999. O convite para fazer um mestrado fora do País acabou por levá-lo à docência. Carlos hoje dá aulas de Direito para alunos de duas instituições superiores e não pensa, como no começo, em investir na magistratura. O professor, que optou por não se inscrever na OAB, entende que o sucesso na carreira, mesmo numa área tão inchada como a do Direito, depende mais do profissional do que de qualquer outro fator.