Chuva traz velhos problemas

Jornal Hoje, 13/11/2007

Chuva traz “velhos” problemas

Wanessa Rodrigues

Com a chegada do período chuvoso, a população começa a enfrentar velhos problemas. Ruas alagadas, trânsito complicado e queda de árvores são exemplos de contratempos que, todos os anos, ocorrem durante este período. Ontem, por volta das 17h30, durante a chuva que caiu na Capital, uma árvore caiu na Cidade Jardim, atingiu a fiação de alta-tensão e afetou duas residências. Dados da Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg) revelam que 80% das quedas de árvores são causadas por interferência do tempo.

O presidente da Companhia de Urbanização de Goiânia, Wagner Siqueira, explica que, normalmente, a queda de árvores é uma conseqüência das tempestades, típicas do início do período chuvoso. Ele ressalta que as áreas da Capital que estão mais sujeitas a este tipo de incidente são aquelas que foram urbanizadas há mais tempo, como é o caso Vila Nova, Nova Vila, Setor Central, Setor Universitário e Setor Campinas. Isso porque, segundo explica, com o tempo as plantas ficam mais frágeis e podem apresentar mais problemas. Mas isso não chega a ser uma regra. “Onde a tempestade desce e atinge o solo é onde as árvores são derrubadas”, diz.

Se de um lado não se pode especificar as áreas mais suscetíveis a quedas de árvores, é possível saber aquelas que são atingidas por um outro problema bem conhecido dos goianienses, principalmente motoristas e pedestres: os alagamentos. Em dias chuvosos é fácil visualizar trânsito caótico na maioria das ruas da região Central, do Setor Campinas, na Assis Chateaubriand, no Setor Oeste, na T-10, T-5 e T-9, no Setor Bueno, na Avenida Independência, na Marginal Botafogo e em boa parte do Jardim América.


O diretor de fiscalização de trânsito da Superintendência Municipal de Trânsito (SMT), Duílio Furtunado Rodrigues, ressalta que, neste período, o índice de acidentes que envolvem veículos aumenta consideravelmente. “Podemos observar um acréscimo de 30% a 40%”, explica. As principais causas dos transtornos são redes pluviais com dimensões insuficientes para suportar o volume de água, bocas-de-lobo entupidas com lixo e a impermeabilização do solo, que não absorve a água. Duílio diz que esses fatores fazem com que qualquer local se torne crítico durante o período de chuva.

INSUFICIENTE

O diretor de comunicação do Dermu/Compav, Fernando Contart, explica que Goiânia tem redes pluviais construídas há mais de 50 anos e que medem na faixa de 30 a 40 centímetros de diâmetro. Redes de pequena dimensão que não comportam o volume de água.

O excesso de lixo nas bocas-de-lobo e em margens de córregos piora a situação. A prefeitura retira de bocas-de-lobo, em média, 3,2 mil metros cúbicos de lixo por ano.


CENTRO É MAIS AFETADO


Professor da escola de Engenharia Civil da Universidade Federal de Goiás (UFG), José Vicente Granato de Araújo explica que os problemas de drenagem de Goiânia estão relacionados ao crescimento da cidade e conseqüente diminuição de áreas permeáveis. O número elevado de construções, em detrimento de áreas nativas, faz com que o volume de escoamento das chuvas seja muito maior do que o infiltrado no solo. A conseqüência imediata: alagamentos em diversos pontos da capital.

Os locais mais críticos, segundo José Vicente, estão na região central de Goiânia. Isto porque essas áreas situam-se na parte mais baixa da cidade e acabam recebendo água de outros setores. “As galerias pluviais não têm capacidade de suportar um volume para as quais não foram planejadas”, esclarece. Entre as avenidas passíveis de problemas estão a Assis Chateaubriand, no Setor Oeste, e T-9, no Setor Bueno.


O professor cita três medidas que podem amenizar os gargalos presentes no sistema de drenagem da capital – já que seria oneroso quebrar o asfalto para readequar a tubulação existente. A primeira delas, informa, é impedir que os terrenos sejam totalmente concretados. “Uma porcentagem precisa ser natural para permitir a infiltração da água no solo”, diz. A outra alternativa passa pelo conceito de pavimentos permeáveis – são calçadas com espaços para gramas. E a última diz respeito à implantação de poços de infiltração nos empreendimentos (buracos com brita e pedras, que armazenariam o volume precipitado – o escoamento para as galerias pluviais ocorreria, então, de forma paulatina). ( Carla Lacerda)


ESTRAGOS PARA O BOLSO


Os transtornos causados pelas chuvas alcançam o bolso do cidadão. Principalmente daqueles mais desavisados, que deixam os carros expostos durante as precipitações hídricas ou passam pelas poças d'água que se formam nas avenidas. Segundo o mecânico Antônio Carlos Gonçalves, o movimento nas oficinas automotivas aumenta cerca de 40% nesta época do ano, quando as chuvas são mais constantes.

Ele diz que a parte elétrica é mais prejudicada nos carros antigos. “São problemas na tampa do distribuidor, cabo de vela, bobina.” Nos veículos mais novos, as dificuldades aparecem nos sensores do sistema de injeção eletrônica. Os prejuízos podem variar de 150 reais a 500 reais nesses casos, que ocorrem com chuvas leves. “Uma chuva forte pode afetar o motor e dar um prejuízo de até R$ 5 mil”, diz Antônio.