Art Déco customizado
Jornal Diário da Manhã, 16/11/2007
Art Déco customizado
Ricardo Gomes
rg@dm.com.br
Editor de Moda
Na noite de quinta-feira, os alunos do terceiro período do curso de Design de Moda da Universidade Salgado de Oliveira mostraram seus trabalhos em desfile e exposição nas dependências da instituição. Foram 18 looks mostrados para um público bastante eclético. O Customizarte já teve como tema as obras de Siron Franco, os 250 Anos de Mozart, o surrealismo de Salvador Dali, a flora do Cerrado, as Cavalhadas de Pirenópolis, a magia circense e o centenário de Cândido Portinari. Para a oitava edição, o tema escolhido foi “o estilo arquitetônico art déco de Goiânia”.
Os alunos do terceiro período do curso de Design de Moda passaram dois semestres executando o projeto que mixa ensino, trabalho e responsabilidade social envolvendo alunos e professores numa atividade interdisciplinar. No primeiro semestre realizaram a pesquisa bibliográfica, elaboraram a arte do convite do desfile, criaram os croquis e confeccionaram protótipos das roupas. Neste semestre, pesquisaram, criaram uma coleção e modelaram o look selecionado para o desfile ou exposição.
Paralelamente ao trabalho acadêmico, os alunos foram para a comunidade desenvolver uma ação social. “Eles repassam o que aprenderam sobre customização à comunidade”, afirma a professora Meire Santos, coordenadora do projeto. Nessa edição, os estudantes ensinaram nas férias escolares as técnicas de customização e de desenho de moda aos estudantes da Escola Municipal Carla Escaliz, em Aparecida de Goiânia. Para completar a interação dos alunos com a comunidade acadêmica, professores, alunos e funcionários da universidade desfilam as criações dos designers.
formas em destaque
O estilo arquitetônico que marcou a construção de Goiânia ganhou novas versões nas criações de moda. Apesar de muito singelo, o art déco goiano foi implantado pelo arquiteto Atílio Corrêa de Lima, que nos legou, na década de 30, um projeto com soluções modernas, sem esquecer o padrão urbanístico tradicional e as deliciosas cidades jardins da Europa. Desta forma nascia a “Capital art déco” do Brasil. Assim é considerada não pela ostentação dos monumentos e detalhes e, sim, pelo conjunto de prédios e monumentos erguidos no centro da Capital. Em dezembro de 2002, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan – declarou patrimônio nacional um conjunto de 22 edifícios e monumentos art déco em Goiânia. Esse conjunto art déco foi o primeiro a ser tombado nacionalmente.
Nas criações, percebeu-se claramente a geometrização das formas, uma das maiores marcas do estilo art déco. Tons de rosa, verde e cinza, entre outros, formaram a paleta de cores das criações. O desfile foi dividido em seis blocos. Os alunos formaram grupos desde o início do projeto, simulando o trabalho de uma equipe de criação. A partir de inspirações semelhantes, cada equipe criou uma minicoleção, harmonizando cores, formas e estilo.
No primeiro, as designers Juliana de Almeida, Marciana Morais Souza e Bárbara Vieira Rodrigues mostram um art déco mais austero, com composições cheias de recortes em tons de preto e cinza. Como inspiração, as linhas geométricas das escadarias do Coreto da Praça Cívica.
Efeito cascata
O verde e o vermelho pintaram o segundo bloco de Renilde Ayres da Silva, Stefânia Laís Silva e Aparecida Martins, que não abusaram de volumes. O efeito cascata usado na fachada dos prédios e monumentos migrou para as criações de Mariana Quinan Bittar, Monique Roriz, Paula Rodrigues de Paula e Tatiana Barros França. Os volumes e os recortes geométricos foram a base das criações de Ligia Rosana Barbosa e Daiana Schiavini, que apostaram nos vestidos curtos balonês.
As formas das colunas dos mo-numentos art déco foram trabalhadas nos modelos de Danielle Vale Pereira e Suzi Cristina Ribeiro. O último bloco do desfile trouxe as criações de Cyntia Moura de Oliveira, Roberta Silva, Lilia Maria Paes Borges e Andréa Carrijo Oliveira, que trabalharam com uma estamparia inspirada no relógio da antiga Estação Ferroviária de Goiânia, além das referências ao peso horizontal da arquitetura das fachadas de edifícios, como o Teatro Goiânia e o Palácio das Esmeraldas. Destaque para o vestido de Lilia Jorge, que foi a melhor criação do projeto e que contou ainda com esmero no acabamento e na modelagem. Coisa de gente grande.
O Customizarte cresceu e a cada edição fica mais distante de um mero trabalho de faculdade e se aproxima das criações profissionais. Claro que ainda tem muito a melhorar, mas está no caminho certo. A exemplo dos trabalhos da Faculdade Santa Marcelina de São Paulo, esperamos que os exercícios criativos dos acadêmicos das nossas instituições sirvam de base para a contratação de designers pelas indústrias. As coordenações dos cursos de Design de Moda da Capital (UFG, Universo e UEG) estão trabalhando na melhoria do imaginário de moda dentro e fora da academia, a fim de elevar Goiás a um Estado criador e lançador de moda, deixando para trás o estigma de mero produtor de roupas.