Prova de Geografia divide professores
Jornal O Popular, 22/11/2007
Prova de Geografia divide professores
Docentes condenam exclusão de temas mais regionais e da atualidade. Centro de Seleção diz que proposta é aprimorar concurso
Patrícia Drummond
A prova de Geografia do vestibular 2008 da Universidade Federal de Goiás (UFG), realizado no domingo, foi alvo de críticas de professores do Colégio Visão, que questionaram o conteúdo do teste e a exclusão de temas que eles consideram importantes e que vinham sendo tratados com os estudantes. Henrique de Oliveira, Jutorides Damascena e Wilmont de Moura Martins classificaram como “pífia” a prova, que, segundo eles, “não fez justiça à importância da disciplina.”
Os três citam exemplos de temas que ficaram de fora “apesar de terem esquentado o sangue de acadêmicos, alunos, professores e opinião pública”, criticam diretamente as questões 51, 53 e 60 e consideram que a prova de Geografia da UFG “pecou por revelar claros ranços ideológicos, por situar-se fora do debate pertinente.”
A opinião, polêmica, não é geral, pelo menos entre outros professores da disciplina de outras instituições de ensino ouvidos pelo POPULAR. Para o professor Marcelo Segurado, do Colégio Classe, houve uma melhora no nível da prova, principalmente em relação aos anos anteriores, que, na opinião dele, “chegaram a ser ridículas”. Marcelo elogia, particularmente, a questão 53, sobre a cota para negros nas universidades, uma das criticadas pelos colegas. “Trata-se de um tema atual, que envolve interdisciplinaridade. A questão pode até não ter sido bem-elaborada, mas acho que a UFG foi muito feliz na escolha do tema. Nós, professores da área de Humanas, somos responsáveis também pela formação da cidadania de nossos alunos e a política de inclusão faz parte desse processo”, argumenta o professor.
Para Henrique, Jutorides e Wilmont, do Colégio Visão, a questão “recebe a clara visão valorativa de quem a elaborou”. E acrescentam: “Sabemos que o tema cota para negros esquenta um debate entre os que o sustentam e aqueles outros que enxergam nele apenas um critério racial para distribuição de vagas nas universidades, o que equivale à oficialização do racismo.” A única ressalva apontada pelo professor Marcelo Segurado, do Classe, na última prova de Geografia da UFG, diz respeito à não-regionalização de algumas questões do exame, sem privilegiar o Estado de Goiás, em vez de outras regiões.
Linguagem
Felipe Augusto Nery Tahan, professor de Geografia nos Colégios Delta, WR, Protágoras e Prevest, avalia que o grau de profundidade da prova da UFG, na primeira fase do vestibular, não foi alto, mas apresentou uma linguagem mais voltada para universitários do que para alunos do ensino médio. Dessa forma, acredita, ficou “mais aprimorada, o que não quer dizer que tenha sido tão difícil, como alegam alguns vestibulandos. Pela linguagem deles, acharam mais difícil, porque não conseguiram interpretar questões”, destaca.