Balada química em alta

Jornal O Popular, 25/11/2007

Balada química em alta

Consumo de drogas sintéticas cresce e se populariza no País devido à facilidade na produção e transporte de substâncias

Isabel Czepak

Ativistas, especialistas e policiais observam, na prática, o que pesquisas comprovam desde 2005: O uso de drogas sintéticas (produzidas em laboratório) segue, no Brasil, tendência de crescimento alarmante verificado em países desenvolvidos. Da 1ª para a 2ª edição do Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas, realizado pelo Centro Brasileiro de Informações Sobre Drogas (Cebrid), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), duplicou o índice de uso na vida dos estimulantes (medicamentos anorexígenos), grupo em que está incluído o ecstasy.

No primeiro levantamento, de 2001, o índice foi de 1,5% – na época, um porcentual bem inferior ao registrado no Reino Unido (9%), Espanha (2%) e Estados Unidos (6,6%). Em 2005, pulou para 3,2%, taxa muito próxima às de vários países como Holanda, Alemanha e Suécia, mas menor que o dos Estados Unidos, que continua de 6,6%. Proporcionalmente, foi o consumo que mais cresceu (ver quadro). O uso na vida representa a utilização da substância pelo menos uma vez, o que é diferente da dependência, caracterizada pelo uso freqüente. No caso dos estimulantes, esta, inclusive, caiu, de 0,4% para 0,2%, conforme os estudos.

Vários fatores são apontados por estudiosos, usuários e investigadores para o aumento do consumo. A variedade de fórmulas é uma delas. No dia 14, a Polícia Federal (PF) fez, no Centro de Tratamento de Cartas e Encomendas (CTCE) dos Correios, na Vila Brasília, em Aparecida de Goiânia, a primeira apreensão do País da droga clorofenil piperazina (mCPP). Conhecida internacionalmente como Big Head (cabeção ou cabeça grande), a droga causa efeitos semelhantes aos do ecstasy. Os mil comprimidos foram postados por Sedex em Goiânia com destino ao Rio. Mas os endereços eram falsos. Ninguém foi preso.

Atrativos
As características das drogas sintéticas – como ecstasy, GHB (gama-hidroxibutirato), quetamina, entre outras – seu modo de produção e a facilidade com que pode ser comercializada, são outros atrativos. “São drogas mais fáceis de produzir (não dependem de tempo, solo ou chuva como as drogas naturais) e podem ser fabricadas em grande escala”, observa o farmacêutico toxicologista Jamil Issy, professor aposentado da Universidade Federal de Goiás (UFG).

“São mais fáceis de utilizar e comercializar, porque não exalam cheiro, podem circular sem serem percebidas e rendem mais para o traficante”, comenta a ex-delegada estadual de Repressão a Narcóticos, Renata Chein. “R$ 5 mil de ecstasy é muito mais fácil de transportar do que o mesmo valor de maconha”, cita o titular da Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos (Denarc), Juracy José Pereira.