Pesquisa científica, retorno garantido

Jornal O Popular, 24/11/2007

Pesquisa científica, retorno garantido

Romão da Cunha Nunes

A importância do desenvolvimento científico, nos seus mais variados campos de atuação e produção, tem se revelado um instrumento catalisador dos processos de desenvolvimento econômico e social e da sustentabilidade das políticas ambientais, de preservação das riquezas naturais, de geração de emprego e renda, de inclusão social e, fundamentalmente, de produção de novos conhecimentos para o benefício da humanidade.

No cenário nacional, os desafios tecnológicos para transferir conhecimentos do setor de pesquisa para os setores estratégicos e produtivos têm sido conduzidos eficazmente. No entanto, o desafio maior – cuja solução independe da competência da comunidade científica – é o de remover os impedimentos impostos por uma burocracia opaca e capciosa, exercida em nome da estrutura organizacional do Estado e dos controles políticos, ou, ainda, por razões econômicas. Esses impedimentos estão longe de ser definitivamente removidos.

Os investimentos em pesquisa têm amplo retorno, conforme estudos do National Research Council (NRC). A análise dos investimentos em pesquisa agrícola no período de 1948/1971, revelou um retorno, depois de dez anos, de 31 dólares nos países desenvolvidos e de 80 dólares nos países em desenvolvimento, para cada dólar investido.

Foram observadas oscilações em algumas taxas, possivelmente influenciadas pelas inovações introduzidas por países e áreas concorrentes. Nos Estados Unidos, a taxa de retorno foi de 54% (1996); na França, 55% (1984); no Canadá, 50% (1988); no Japão, 30% (1990). Convém lembrar que esses países investem até 3% de seu Produto Interno Bruto (PIB) em pesquisas.

Praticamente todos os Estados brasileiros criaram uma Fundação de Amparo à Pesquisa, mantidas com recursos do tesouro estadual. Não por acaso, São Paulo concentra o maior PIB do Brasil, já que, desde 1880, investe no desenvolvimento científico. Em 1960, por meio de trabalho articulado da comunidade científica, criou a Fapesp, cuja receita orçamentária é da ordem de 1% da receita tributária do orçamento estadual – e os números comprovam o êxito dessa estratégia.

Na década de 1990, das 355 patentes registradas pelas universidades brasileiras no Instituto da Propriedade Industrial (INPI), 56% foram requeridas pelo Estado de São Paulo. Destas, 125 pela Unicamp e 76 pela USP. Também pertence a pesquisadores da Unicamp apoiados pela Fapesp, o mérito de haver terminado o seqüenciamento do genoma da bactéria Xanthomonas citri, causadora do cancro cítrico, e da Xilella fastidiosa, causa da Clorose Variedade de Citrus (CVC), vulgarmente conhecida por amarelinho.

Os resultados dessa pesquisa devem ter amplos reflexos em São Paulo, pois segundo dados do Instituto de Economia Agrícola e Abastecimento de São Paulo, o Brasil é responsável por um terço de tudo o que se produz no mundo e, neste ranking, São Paulo produz 80% do total brasileiro. Anualmente, os 850 mil hectares de laranjais em produção são superados em extensão de área cultivada somente pela cana-de-açúcar e pelas pastagens. Além disso, os efeitos da combustão de recursos minerais para a geração de energia e suas conseqüências ambientais exigem alternativas de solução menos poluentes e mais eficientes. Neste cenário, é bastante promissora a alternativa de produção dos biocombustíveis – o etanol seria uma opção estratégica economicamente viável – cuja matriz poderá atender à demanda local e gerar excedentes exportáveis. Nosso Estado possui as condições edafo-climáticas perfeitamente adequadas para a exploração desse nicho de mercado.

É bom lembrar que o cidadão tem de pagar impostos, parar nos semáforos, respeitar os direitos de terceiros, zelar pela harmonia com os semelhantes, lutar pelo crescimento do País e pela dignidade do ser humano. E o Estado? Também não tem obrigação de respeitar normas e leis? Diante de tudo isso, extinguir a Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapeg), conforme previsto na reforma administrativa, seria um grande equívoco. Que prevaleça o bom senso, como já sinalizou o governo de Goiás, e seja mantida essa imprescindível alavanca de pesquisa científica.

Romão da Cunha Nunes é professor e pesquisador da Escola de Veterinária da UFG e tesoureiro da Secretaria Regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC-GO)