Goiânia: cidade planejada ontem, desafios hoje

Jornal Diário da Manhã, 02/12/2007

Goiânia: cidade planejada ontem, desafios hoje

Lembrar de Goiânia é lembrar do planejamento urbano. Lembrar de Atílio Correa Lima, Godoy e irmãos Coimbra Bueno. Pedro Ludovico e Venerando de Freitas, que construíram Goiânia de 1933 a 1954. Algum intervalo. Estes foram dois artífices da primeira história goianiense com a Campininha das Flores que já existia na Esplanada do Anicuns, escoadouro do Cascavel, Macambira e até o querido Meia Ponte de sete pontes. Goiânia do Córrego Botafogo, que está na bandeira verde branca da capital dos cerrados. Cerrados, bioma, das águas emendadas e caixa d’agua que abastece as bacias do São Francisco, Paranaíba, Tocantins e Araguaia de tantas areias, músicas e noites enluaradas, belas e eternas enquanto durem.

Neste período Goiânia teve domínio do espaço público, depois vieram loteamentos, especulações acima e abaixo da avenida que homenageia quem mais roubou Goiás, que é o Anhangüera. Diversos governadores e prefeitos tiveram seus papéis, poderes, funções e contribuíram para o bem e para o mal no crescimento da cidade. Em 1950, Goiânia tinha mais de cinquenta mil habitantes, cresceu muito. Dependia fortemente do Estado. Entre Venerando de Freitas Borges e outra vez Venerando eleito (1950), tivemos Eurico Viana. Em 1955 é eleito João de Paula Teixeira, depois Jaime Câmara, Dr. Hélio de Brito e Iris Rezende. Estes últimos deram mais autonomia para a cidade, que dera outro salto de crescimento, principalmente com a construção de Brasília (cidade também planejada) com JK até Lula. Lembrar de Lúcio Costa, João Filgueiras e a grandiosidade dos 100 anos de Oscar Niemayer. Brasília também planejada, mas com problemas de exclusão social/entorno.

Depois vieram os ensaios de Luiz Saia e Iris Rezende contrata Jorge Wilheim/Serete/SP para realização de um plano diretor/desenvolvimento integrado/PDIG. O prefeito Iris é cassado e quem vai implementá-lo é Leonino Caiado, Manoel dos Reis, Rubens Guerra, Goiamérico, Francisco de Castro, Hélio Lobo, Índio Artiaga, prefeitos agora nomeados por governadores que eram também nomeados. Todos contibuíram. Tivemos outras contribuições de planejamento com Jaime Lener, Cássio Taniguchi, que geriram planos de transportes (Transurb) na Avenida Anhangüera, 1976. Com o PDIG foram criados outros órgãos, como a Fumdec e a Superplan, depois Iplan, agora Secretaria Municipal de Planejamento. Desde setenta, vieram gentes boas planejando Goiânia. Gente como Luiz Cordeiro, Nazareth, Paulo Freire, Luiz Fernando, Fernando Rabelo, Solimar, Márcio Ceva, Zezinho, Paulo Souza, Sebastião Leite, Lana Jubé, Sérgio Paulo, Marta Horta, Henrique Labaig, Aristides Moisés, Júnior, Valéria, Américo, Amparo. E muito mais, muito mais gente. Boa gente que ajudam Goiânia ontem e hoje ser melhor. O Iplan, hoje secretaria dirigida pelo dr. Francisco Júnior, tem quadros técnicos dos melhores que auxiliam prefeitura, Câmara Municipal de Vereadores e sociedade a lutar por uma Goiânia participativa e solidária (mas existem forças contraditórias por aí, nestes dias de sol e agora de chuvas).

Em 1979/80 o Brasil embarca na Anistia e nas Diretas-Já. E novamente temos eleições diretas para prefeito na capital cerradina. Daniel Antônio (que já tinha assumido como presidente da Câmara Municipal), depois Nion Albernaz, Darci Accorsi, Pedro Wilson e agora Iris Rezende. Tempos idos, planejados e vividos pela cidade que já tem mais de um milhão de moradores vindos de todas as partes do planeta azul. Goiânia teve um prefeito que foi nomeado e eleito, Venerando. Goiânia teve seis prefeitos que foram vereadores: João de Paula, Iris, Daniel, Nion, Darci e Pedro Wilson. E tivemos um prefeito interventor, Roriz. Além de prefeitos, tivemos vereadores que marcaram nossa cidade, como Boaventura, Messias, Contart, Cruvinel, Antônio, Roxo, Maria, Germino, Tabajara, Geraldão, Bráulio, Luiz, Sampaio, Vieira, Elias, Rassi, Paulo Souza, Marina, Santana, Serjão, Cidinha, João, José, Djalma, Carlos, Jorge Moreira, Denise, Olívia, Silene, Valdi, Aldo, Helinho, Darcizo. E todos os 34 vereadores da atual legislatura. Tivemos nos anos 80 novo plano diretor que deveria ter uma revisão dez anos depois, o prefeito era Nion. Tivemos a nova Lei Orgânica e mesmo sugestões da sociedade. Em nosso período, como prefeito, realizamos muitos esforços, atividades, ações para realizar este novo plano diretor com reuniões, congressos da cidade, conferências, Compur, Orçamento Participativo, movimentos sociais conjuntamente com Agenda 21. Foi feito muito, mas dadas as eleições, deixamos para a nova administração, que agora entrega para todos nós, goianienses, um plano diretor para os próximos dez, vinte anos vindouros. Oxalá para o progresso material, cultural e espiritual de nosso povo.

Parabéns ao prefeito Iris Rezende e ao secretário Francisco Júnior e a toda equipe, bem como à Câmara Municipal e toda cidade de Goiânia, que ganha um instrumento de planejamento, direção para o desenvolvimento sustentado, econômico e social no século XXI. Oxalá todos nós possamos ganhar mais e melhor com este meio de planejamento e realização de uma cidade com qualidade de vida crescente nestes 74 anos de existência. Existência que mil, milhares de homens e mulheres contribuíram muito. Queremos ressaltar a contribuição de trabalhadores e empresários, professores e estudantes, servidores públicos e privados, donas de casa e comerciários, técnicos, profissionais liberais, políticos, religiosos e a mocidade de nossa terra.

É preciso registrar em toda a história de Goiânia a bela contribuição de igrejas, universidades como UCG, UFG, Cefet, Iphan, UEG, Unip, Universo, Anhangüera, faculdades, colégios. E academias, Crea, TCM, MP, IAB, CCAB, CUT. E movimentos sociais e populares de categorias e bairros, conferências, conselhos, Ongs, fóruns e grupos sociais. Ressaltamos especialmente o Departamento de Artes e Arquitetura/Escola Edgar Albuquerque Graef da UCG e a Escola de Engenharia Civil e Elétrica da UFG (professores, arquitetos, engenheiros, estudantes, artistas, urbanistas e servidores), como centros de estudos, pesquisas, planejamentos, estágios que possibilitaram à cidade ter mais gente para melhorar sua realidade social. E quantas teses, exercícios, relatórios foram feitos e trouxeram mais luzes, reflexões e propostas e projetos para nossa cidade verde do azul dos céus do Cruzeiro do Sul. A história nos revela que cidades mesmo planejadas, como Goiânia, BH, Londrina, Palmas e Brasília, tiveram melhorias mas também problemas econômicos, sociais e espaciais que geraram exclusão e marginalização nas áreas urbanas, como demonstram vários estudos, a exemplo dos de Lúcia Moraes, Selma Antônio, Lana Jubé, Elza Chaves e Aristides Moisés.

Questões de terras, águas, saneamento, emprego, segurança, moradia, transportes, lazer, esporte, cultura, educação, saúde, flora, estão presentes aqui e alhures. Cabe a todos nós continuarmos a luta por uma cidade mais democrática, livre e libertadora para a humanidade de Deus, dará. Nosso olhar é de alegria e esperança por este novo plano diretor, que deve ser visto como instrumento permanente de aperfeiçoamento pela prefeitura, pela Câmara Municipal e por toda sociedade goiniense. É preciso olhar para a região metropolitana. As cidades/municípios vizinhos podem ser espaços de integração e/ou de exclusão e conflitos. Cremos na política do quanto melhor, melhor. Cremos que este como todos os outros planos e propostas ajudam a fazer de Goiânia, de Goiás e do Brasil espaços e tempos de vivências mais justas e mais fraternas.

Assim, tenhamos consciência e engajamento de nossas vidas e responsabilidades para construção de uma cidade solidária, aberta, planejada, debatida, democrática. E cheia de cidadania, poesia, pão, mel, trabalho, casa, condução, conforto. E felicidade para todos homens e mulheres goianienses e goianos/brasileiros, de todas as idades, raças, cores, origens sociológicas, geográficas e históricas. Viva Goiânia. Viva o plano diretor e todos empreendimentos e projetos de melhorias concretas das condições de vida e trabalho para nossas pessoas, famílias e comunidades urbanas e rurais. Um outro mundo é possível e desejável aqui e agora em Goiânia. Um mundo da cultura de paz e da justiça social.


Pedro Wilson
é deputado federal PT (GO). Professor da UFG e UCG. Advogado/sociólogo. Militante de Movimentos Sociais (Fé e Política, Direitos Humanos, Educação, Cultura, Ecologia e Participação Popular)