Tudo pelo Martim Cererê
Jornal Diário da Manhã, 05/12/2007
Tudo pelo Martim Cererê
Me lembro perfeitamente da primeira vez que eu entrei no Martim Cererê. Era criança, deveria ter uns 8 ou 9 anos. Meu pai estava organizando um evento de literatura e tinha que pegar uns papéis e documentos no Centro Cultural. Eu fiquei brincando com minha irmã naquele pátio, debaixo das mangueiras, enquanto meu pai resolvia seus problemas. Depois, ele passou no bar e comprou uma Soda Limonada para que eu e minha irmã dividíssemos. Achei o local sinceramente divertido e agradável.
Depois, comecei a freqüentá-lo com um pouco mais de assiduidade. Minha tia se mudou para a menos de um quarteirão do local e nos levava lá para assistir a peças infantis, brincar no pátio, assistir a alguns shows de MPB... Coisas assim. Quando adentrei no universo do rock, o espaço já estava de portas fechadas para o estilo. Parecia que o Cererê só viveria em minha memória, já que a programação do local (pequenininha, diga-se de passagem) não atendia meu gosto púbere. O DCE da UFG e as festas da Escola Técnica Federal de Goiás tinham mais a ver com meu desejo de diversão imberbe.
Quando eu já estava na universidade, comecei a sacar que existia uma movimentação diferente no Martim Cererê. Ele passou a ter uma programação mais antenada com o que eu esperava de um Centro Cultural: shows de rock, festas de música eletrônica, espaço para convivência com pessoas legais, bar agradável, mostras de cinema interessantes... Enfim, Júpiter Maçã o definiria como um “lugar do c...” Vou poupar você, nobre leitor, da palavra de baixo calão. Mas creio que já deu para pegar o que quero dizer, né?
Freqüentando o espaço como público destes eventos, me lembrei da infância e do quanto eu tinha carinho por aquele local. Conheci o Carlos Brandão, que era o gestor do espaço. Ele me estimulou na produção de eventos lá, pelo fato de que eu já estava engatinhando com a organização de alguns shows nas casas de rock que havia na cidade. Marquei meu primeiro evento no Cererê e o Brandão me chamou em um canto e pagou um sapo daqueles, cobrando total organização na produção e me lembrando de pontos do trabalho dos quais minha inexperiência não havia me deixado enxergar. Ele finalizou a conversa dizendo assim:
– Pablo, quero tudo ORGANIZADÍSSIMO!
Depois desse sapo todo, eu não poderia fazer diferente. E não fiz. O evento foi ótimo e eu acabei pegando gosto por esse trabalho de produção.
O tempo passa, o tempo voa, e a situação do Cererê não é nada boa. É preocupante. Neste ano de 2007, o espaço perdeu muito do que tinha conquistado nos últimos anos. A aparelhagem de som e luz foi furtada de maneira até hoje não esclarecida ao público e aos produtores que trabalham no espaço. Os banheiros, camarins, administração têm sérios problemas físicos. A agenda cultural não é mais farta como em outros tempos.
Diante dessa situação calamitosa, nós da Fósforo Records (empresa da qual faço parte) e nossos parceiros da Monstro Discos resolvemos encarar o trabalho e levantar a bandeira pela defesa do Martim Cererê. Reunimos bandas dos selos mais expressivos do rock goiano, pedimos preço de custo a nossos fornecedores e bolamos o Rock pelo Cererê, onde a totalidade da bilheteria será revertida para a reforma do espaço. Nós, enquanto agentes públicos que trabalham no espaço e se sentem responsáveis pelo bom funcionamento do mesmo, não poderíamos ficar omissos perante a situação. Neste sábado, dia 8 de dezembro, oito bandas (sete de Goiânia e uma do Rio de Janeiro) vão tocar em prol da casa mor do rock goiano.
Nós estamos fazendo nossa parte. Trabalhando de graça por um bem que é de todos. E você? Não vai fazer a sua não? Vá lá neste sábado, pague os R$ 10 de ingresso com gosto, se divirta com as bandas e volte para casa de consciência tranqüila, pois você fez um bem danado para um espaço importantíssimo para a cultura de Goiás.
Pablo Kossa escreve
quinzenalmente neste espaço