O futuro da Nação já era
Jornal DIário da Manhã, 05/12/2007
O futuro da Nação já era
Os jovens estão no centro das atenções do meio político de Goiânia, pelo menos agora, com a realização da Semana da Juventude e da Conferência Municipal da Juventude. Há muito tempo que a articulação política envolvendo jovens superou o estereótipo limitador de “movimento estudantil cara pintada”, que foi importante em épocas não muito remotas, mas que, agora, não abarca os principais dramas vividos pela juventude. Em todas as discussões, o que se percebe é que os jovens pedem passagem para mais um avanço em seu engajamento social.
Questões fundamentais dessa “pós-modernidade” juvenil aparecem a toda hora nos debates, oficinas, palestras e shows da Semana da Juventude. Há poucos anos, a mobilização de jovens era sinônimo de movimento estudantil que, à direita ou à esquerda, poucas vezes perdia o foco da reivindicação de melhorias educacionais, inculando-se a esse ou aquele interesse partidário.
Exigir educação pública de qualidade está longe de ser uma bandeira superada, mas os jovens de hoje querem mais. Podem não ter a exposição que os caras pintadas tiveram durante o processo que culminou no impeachment do ex-presidente Fernando Collor, mas os jovens estão cada vez mais ativos e informados.
Operadores do meio político precisam estar atentos aos novos canais de comunicação da juventude, seja na blogosfera ou na micropolítica dos movimentos sociais, como o do hip-hop e do grafite. Os jovens continuam preocupados com a educação, mas esperam dos políticos maior sensibilidade a muitos detalhes que teimam não aparecer nas políticas públicas que dizem ser destinadas a eles. O diálogo, portanto, é o primeiro passo para que não se erre tanto nessas iniciativas. Mas precisa ser um diálogo franco e com o menor grau possível de hipocrisia e paternalismo. Conversar de igual para igual e descobrir o que eles esperam de cada esfera de governo.
Nesse movimento de conhecer melhor o jovem, é provável que os políticos descubram que é essencial esquecer essa história de “futuro da nação”. Mais do que nunca, a juventude quer ser o “presente do Brasil”. Exige, para agora, a análise de suas demandas. Parece um argumento simplório, mas não é.
Voltando ao exemplo da educação: como pensar apenas em uma boa escola, se o garoto precisa ajudar a bancar o sustento da família ou se a garota parou de estudar porque não tem onde deixar o filho recém-nascido? E por que eles precisam chegar a essa situação-limite? Como evitar esses dramas?
Além disso, a educação, que era antes um objetivo final da mobilização juvenil, transformou-se em meio para se conquistar outra meta: o emprego. É preciso rachar a mentalidade pré-concebida de que só a escola convencional (ensino médio-faculdade) salvará o destino dos jovens. Intensificar o ensino profissionalizante e aproximá-lo radicalmente da realidade do mercado de trabalho é mais do que um imperativo. Já se tornou uma questão de sobrevivência. Se o negócio é discutir, vai aqui outra sugestão: por que os programas de primeiro emprego, com raras exceções, acabam frustrando os jovens?
Com todas essas questões na cabeça, a Câmara Municipal de Goiânia dará, nos próximos dias, um passo decisivo na representação desse público: a criação da frente parlamentar da juventude. Como vereador mais jovem da Capital, sei a importância dessa articulação. Logo que assumi o mandato, no início deste ano, passei a apresentar uma série de projetos direcionados à juventude. São temas interessantes, como o que obriga as empresas que recebem incentivos fiscais da prefeitura a destinar no mínimo dez por cento das vagas para primeiro emprego.
Outro projeto de lei isenta estudantes de baixa renda (até três salários mínimos) e da rede pública do pagamento da taxa de vestibular. Apresentei também o que destina vagas prioritárias, em creches municipais, para jovens mães trabalhadoras. Na área cultural, propomos que os grandes eventos artísticos e culturais de Goiânia devam ser abertos por bandas locais e, ainda, a criação do Dia do Hip-Hop no calendário turístico da Capital. Mais um projeto propõe a melhoria das linhas de ônibus que dão acesso às universidades e escolas.
Essas e outras idéias apenas amenizam o universo de demandas da juventude. Uma frente parlamentar específica, tendo a premissa do diálogo como maior parâmetro, poderá acelerar a articulação com o governo municipal. Poderá até servir de modelo para outras casas de lei e outras administrações públicas. Como nos blogs e nos movimentos sociais, é a partir de uma centelha que a coisa se alastra.
Virmondes Cruvinel Filho
(PSDC) é professor da Faculdade de Direito da UFG e vereador