Um monumento à altura da obra de Pedro

Jornal Diário da Manhã, 06/12/2007

Um monumento à altura da obra de Pedro

O expoente escritor José Mendonça Teles escreve as suas Crônicas & Outras Histórias há décadas n’O Popular. Na de 3 de dezembro de 2007, intitulada “O cavalo de Pedro Ludovico”, lançou o desafio aos homens públicos, verdadeiramente comprometidos com Goiânia: “Já pensou um mirante, com turistas à vontade e o Pedrão lá em cima, montado a cavalo, olhando a cidade que ele carinhosamente construiu?”.
O sábio escritor nos propõe a instalação da monumental obra de Neusa Morais – a estátua eqüestre de Pedro Ludovico, montado a cavalo, vistoriando a área onde seria construída a nova capital de Goiás – no Morro Serrinha. Noutra crônica, escrita em 29 de dezembro de 1996, afirmou: “Foi vistoriando as terras, montado a cavalo, na região da Serrinha, que Pedro Ludovico decidiu-se de que aqui seria a nova Capital”.
Além dos aspectos históricos e culturais envolvidos, acrescento outros de natureza ambiental para reforçar a proposta lançada. O Morro Serrinha ocupa uma área de cento e oito mil metros quadrados, entre o Setor Pedro Ludovico e o Bairro Serrinha, próximo ao Setor Bueno, com um perímetro de um mil quatrocentos e cinqüenta metros. Nesta região da cidade há carência de espaços livres e, em especial, de áreas verdes, com desequilíbrio entre áreas construídas e não construídas, na qual prevalecem as primeiras, reduzindo a disponibilidade de espaços livres. As áreas públicas alienadas no entorno direto do Morro Serrinha somam seiscentos e oitenta e um mil metros quadrados, correspondendo a uma dilapidação de 20,5% do patrimônio público.
Somente no Setor Bueno, foi privatizado um total de área pública de trezentos e cinqüenta e sete mil metros quadrados. O processo de alienação, parcelamento e edificação das áreas públicas da região é intenso e levou à formação de um passivo de um milhão e trinta e sete mil metros quadrados de áreas públicas desvirtuadas da sua função original, destinadas à proteção do meio ambiente, ao lazer e recreação, à educação, saúde e segurança públicas. Este processo está associado à impermeabilização do solo e à manifestação de episódios de enchentes causadores de prejuízos ao patrimônio público e particular, à saúde pública e à vida humana.
Apesar da elevada densidade demográfica da região, são poucas as Unidades de Conservação existentes com áreas expressivas, como o Jardim Botânico, que possui uma área de quase um milhão de metros quadrados. Portanto, pode-se afirmar que trata-se de uma região com um déficit de espaços públicos, comprometendo funções urbano-ambientais relevantes ao equilíbrio do meio urbano, de lazer e de recreação ao goianiense.
O Morro Serrinha se constitui hoje em uma das pouquíssimas – talvez a única – reservas de Cerrado, que é o tipo predominante na região e que, por sua fisionomia menos “exuberante” que as matas, vem sendo equivocadamente relegado a um segundo plano – dentro da área urbana de Goiânia. Essa constatação aponta para a necessidade de preservação da vegetação daquele morro.
Do ponto de vista fisionômico, a vegetação da Serrinha é de “cerrado típico”, com dois estratos, um rasteiro e outro arbustivo-arbóreo, este formado por árvores de porte baixo. No aspecto florístico, levantamento feito pelo professor Heleno de Freitas, do Departamento de Botânica da UFG, registrou 71 espécies vegetais, como jatobá-do-cerrado, ipê-do-cerrado, barbatimão, faveira, carobinha. Esse número de espécies é próximo da média observada em áreas de Cerrado. Esse dado indica que, apesar do intenso nível de degradação sofrido, a área da Serrinha milagrosamente conserva as características ecológicas típicas dos ecossistemas de Cerrado. A proposta de José Mendonça Teles é uma alternativa de preservação deste patrimônio, frente às ameaças que o submetem à permanente extinção.