Com criança, todo cuidado é pouco
Jornal Diário da Manhã, 16/12/2007
Com criança, todo cuidado é pouco
Hacksa Oliveira
hacksa@dm.com.br
da editoria de cidades
Quando se trata de crianças em casa, os pais não podem piscar os olhos. Especialistas alertam que para evitar acidentes domiciliares, as famílias precisam seguir alguns requisitos básicos, mas que deixam de ser óbvios para alguns adultos. Não deixe ao alcance das crianças moedas, cotonetes, grãos, objetos pequenos, produtos químicos e outros. No mês de outubro, 5 mil atendimentos foram realizados no pronto-socorro do Hospital Materno Infantil (HMI). Destes, 292 tratam de acidentes ocorridos em casa.
Diretora-geral da unidade, Lucimar Rodrigues Ferreira diz que a maioria das entradas é decorrente da falta de cuidados, atenção e educação. Dos casos registrados nesse período, as quedas, traumatismos e fraturas representaram 3% dos atendimentos. A intoxicação exógena foi responsável por 50 atendimentos. A ingestão de corpo estranho, como moeda, miçangas e grãos correspondeu a 1,4% dos casos.
Um estudo científico feito pelas enfermeiras Karina Machado e Janaína Ramalho, no período de seis meses no Materno Infantil, detectou que grande parte dos acidentes de crianças é causado pela intoxicação. De 121 casos registrados, 34% foram por medicamentos, 14% por produtos como raticidas e em terceiro lugar ficou os produtos químicos com 13%. Dos casos apontados na pesquisa, 51,3 % das crianças foram do sexo masculino e tinham idade entre um e três anos. Cerca de 82% estavam em casa.
De acordo com a pediatra do HMI Eliane Marie Fonseca, todos os dias são registrados casos de crianças que engolem moedas. Ela explica que em todas as fases as crianças apresentam algum perigo e o melhor a se fazer é prevenir. Ela aconselha observação de sinais na criança, ou alguma variação de comportamento. “Fique esperta, mãe. A criança pode de ter ingerido um objeto.” Outra ocorrência registrada diariamente trata de recém-nascido que cai da cama e sofre traumatismos.
Segundo a pediatra Eliane Marie, são inúmeros os acidentes ocasionados por falta de atenção dos pais dentro de casa. Dentre alguns estão os que acontecem com mais freqüência, como colocação de corpos pequenos como miçangas e grãos dentro do nariz ou no ouvido. Nesse caso, ela aconselha os pais a ficarem tranqüilos e com calma e retirar ou levar ao médico para retirar. Outro caso que é freqüente no Materno Infantil é ingestão de produtos químicos, como soda cáustica, detergentes, perfumes, cremes e outros.
A soda se apresenta como açúcar e a maioria delas tem uma coloração que chama a atenção das crianças. Por isso, o ideal é nunca deixar esses produtos em armários de pia ou em lugares que as crianças tenham acesso. “São produtos concentrados e os componentes podem corroer a boca, o esôfago e causar irritação e alergias”, comenta.
A ingestão de certos produtos químicos pode ser fatal. Outro detalhe da casa são as tomadas, que apresentam grandes riscos e chamam a atenção das crianças. Para evitar acidentes, utilize sempre protetores para tomadas elétricas, assim se evita choque.
O pediatra e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) Roque Gomide relaciona todos esses cuidados com a forma dos pais educarem os filhos. Segundo ele, existem poucas discussões a esse respeito e na maioria dos casos os familiares tomam as providências em casa mesmo.
“Criança é igual terrorista, se sumir de vista, apronta”, afirma o professor ao relacionar a importância da atenção dos familiares com as crianças.
Roque Gomide cita alguns cuidados necessários para a boa educação e segurança da criança em casa, como todo medicamento deve ser guardado em lugares fora do acesso das crianças, que devem ser lugares mais altos e com chave.
Quando as crianças engatinham, não devem circular perto de escadas. Devem ser usados protetor e barreira no local.
Para a pediatra Eliane, a faixa etária de maior risco é a que compreende os dois primeiros anos de vida, fase em que a criança leva tudo à boca e quer desbravar o mundo com seus dedinhos. Isso, inclusive, faz parte da aprendizagem.
Walquiria Rodrigues Soares, 26, é mãe de Kevin, de apenas 2 anos. Ela conta que passa parte do dia trabalhando e ele fica com a babá. Segundo ela, o menino já sabe ligar e desligar os eletrodomésticos. É uma criança muito levada. Mas Walquiria e o marido tiveram a preocupação de fazer algumas adequações na casa quando Kevin nasceu.
Walquiria diz que na casa os produtos químicos são guardados em partes mais altas e as tomadas são cobertas com protetor. “Graças a Deus, nunca aconteceu nenhum acidente com Kevin, mas para isso tenho o maior cuidado e oriento a babá para que faça o mesmo. Temos que redobrar a atenção com as crianças”, afirma.