(UFG) Drama das estátuas sem praça
Drama das estátuas sem praça (Diário da Manhã, 15/02/2008)
Wanda Oliveira
wanda@dm.com.br
DA EDITORIA DE CIDADES
Homenagear por meio de monumentos líderes e benfeitores que fizeram a história de Goiás é assunto polêmico e causa discussão. Um drama que divide opiniões e se arrasta há meses. Enquanto a estátua do bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva, localizada no cruzamento das avenidas Anhangüera com a Goiás, no Centro, pode ser substituída pela do arquiteto Atílio Correia Lima, autor do plano-piloto da cidade, a de Pedro Ludovico Teixeira, fundador da Capital, encontra-se sem lugar para ser erguida. Produzida há cerca de 20 anos pela escritora Neusa Morais, a escultura, feita em gesso e banhada em bronze, está à espera de reconhecimento político à luz da população.
Em princípio, a Agência Goiana de Cultura Pedro Ludovico Teixeira (Agepel) decidiu instalar o monumento no Morro da Serrinha. Segundo a explicação da agência ao DM em entrevista anterior, a idéia partiu da importância histórica do local. Foi no alto daquele setor que o então interventor no Estado da época (1930-1945) teria decidido o lugar onde a nova Capital seria erguida. O caso virou projeto de lei. O vereador Rusembergue Barbosa (PRB) apresentou a proposta no plenário da Câmara Municipal no ano passado. O texto propõe a realização de um plebiscito para encontrar um local onde será edificada a obra de arte.
Quatro locais estão na pauta de avaliação da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa: as praças Cívica – lugar onde já existe um busto de Pedro Ludovico Teixeira, no Centro; do Cruzeiro, no Setor Sul, e do Trabalhador, além de um lote na Rua 24, onde está plantada a árvore moreira, também no Centro. Para o autor do projeto, o assunto será discutido com a sociedade. A obra foi idealizada por Neusa Morais. Ela morreu em fevereiro de 2004. A peça retrata Pedro Ludovico Teixeira montado em seu cavalo. A estátua mede sete metros de altura, 1,8m de largura e três metros de comprimento.
Outra polêmica é a substituição da estátua do bandeirante pela de Atílio Correia Lima, que sequer foi apresentado oficialmente. A maioria dos moradores ouvidos pela enquete do DM é contra a retirada da estátua. O vereador Rusembergue é o autor também desta proposta. O texto que está pronto será apresentado na próxima terça-feira (19) pela manhã, no plenário da Câmara Municipal.
A idéia do político da retirada do símbolo dos bandeirantes surgiu há quatro meses. De acordo com ele, enquete realizada em outubro do ano passado pelo Fantástico, da Rede Globo, mostrou a “fábrica de heróis que eram os bandeirantes”, título do qual discorda. A partir da exibição, ele pesquisou a verdadeira saga do “homem” que desbravou o sertão goiano e que há cerca de sete décadas encontra-se “imortalizado” em um pedestal, praticamente no coração de Goiânia.
Para Rusembergue, é preciso desmistificar essa imagem de herói em torno de Bartolomeu. Resgatar a verdadeira história goiana e dar o devido valor àqueles que contribuíram realmente para o progresso de Goiás. “Os bandeirantes cometeram várias atrocidades. Foram homens bárbaros e massacraram mais de 500 mil índios”. De acordo com o vereador, nada mais justo do que prestar homenagem a Atílio, um homem íntegro, que merece ser chamado de herói. “A história precisa fazer justiça e apostamos nessa inversão de valores.”
O vereador prevê resistências à aprovação do projeto dentro e fora do plenário. “Convencer a oposição não será fácil, mas existem aqueles que poderão votar a favor da retirada da imagem”, explica Rusembergue, que ainda terá pela frente encontros com representantes de todas as tribos indígenas do Estado, universidades, religiosos e vários líderes de outros segmentos da sociedade civil.
Segundo ele, a proposta não tem interesse político, mas sim o de fazer com que os goianienses conheçam os heróis que fizeram a história do Estado. Defende que a estátua deve ser devolvida à Faculdade 11 de Maio, em São Paulo, de onde veio para Goiânia, em 1940, no mandato de Venerando de Freitas.
Retirada gera polêmica
O projeto de remoção do bandeirante já divide opiniões. O historiador José Mendonça Teles é contra a remoção da estátua. Para ele, Goiás deve muito a São Paulo, do qual fazia parte até 1744, quando houve a separação. Lembra que a escultura de Bartolomeu Bueno foi presente doado pelos estudantes paulistas, tendo à frente, na época, o ex-parlamentar Ulysses Guimarães. “Não concordo com essa mudança. Tirar a estátua é como dar um tapa na cara dos paulistas”, diz. De acordo com Teles, em vez de se preocupar em mudar a história, é necessário que sejam apresentados projetos importantes, na Câmara, principalmente, para a população carente.
O historiador Nasr Chaul, presidente da Fundação de Rádio e TV Educação e Cultura da Universidade Federal de Goiás (UFG), é a favor do projeto. Para ele, é justa a homenagem a Atílio Correia Lima, porém ressalta que o fato de tirar a imagem do bandeirante não muda a referência da população. “Os moradores sempre falarão Praça do Bandeirante”, diz.