(UFG) Um raio-x da Febre amarela em Goiás
Um raio-x da Febre amarela em Goiás (Tribuna do Planalto, 16/02/2008)
Noêmia Ataíde
O surto de febre amarela, com registro de nove óbitos ocorridos em Goiás, entre dezembro de 2007 e os primeiros meses deste ano, chamou a atenção das autoridades de saúde sobre a necessidade de desenvolver pesquisas científicas que possam ajudar, no futuro, a controlar e prevenir a doença em todo o Estado. Para isso, técnicos da Superintendência de Políticas de Atenção Integral à Saúde (Spai), do Laboratório Central Giovanni Cysneiros (Lacen), e do Hospital de Doenças Tropicais (HDT), da Secretaria Estadual de Saúde (SES), além de professores e pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG) e representantes do Ministério da Saúde, reuniram na semana passada para, em parceria, constituir um grupo de estudos com o objetivo de fazer uma avaliação profunda do que aconteceu no Estado em relação à febre amarela, a partir dos dados coletados até momento.
O avanço da febre amarela no Estado justifica a preocupação das autoridades de saúde. Levantamento da SES aponta que a contaminação pelo vírus da febre amarela resultou na morte de 57 pessoas em Goiás em menos de uma década. Desde 1987, foram confirmados 101 casos da doença no Estado, uma média de 56,4% de letalidade. "É um porcentual considerado alto", diz o médico e diretor do HDT, Wilson Boaventura. Segundo ele, hoje os cuidados para evitar o reaparecimento da doença, que acontece a cada ciclo de cinco a sete anos, precisam ser redobrados. Dentre os motivos para isso, está a proximidade das cidades com áreas de matas, como é o caso de Goiânia, onde muitos condomínios residenciais estão próximos de reservas verdes, locais infestados pelo mosquito Aedes haemagogus, e que têm nos macacos o principal hospedeiro do vírus da doença.
Outra questão lembrada por Boaventura é a alta infestação das áreas urbanas pelo mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue e também da febre amarela urbana. "A proximidade do habitat (área de mata e urbana) dos dois tipos de mosquitos preocupa, embora a competência para transmissão do vírus da doença pelo Aedes Haemagogus seja superior ao do Aedes aegypti", esclarece o diretor do HDT.
Evolução
Gerente de Vigilância Epidemiológica da Superintendência de Políticas de Atenção à Saúde Integrada (Spai), da SES, Magna de Carvalho informa que o objetivo do grupo é aproveitar o apoio da UFG, através do IPTSP, desenvolver estudos e registrar de maneira científica os dados sobre a febre amarela em Goiás. A diretora do IPTSP, Regina Maria Bringel Martins, esclarece que os especialistas vão avaliar as rotinas, a evolução da doença, epidemia animal, humana, além de questões ambientais e vacinas, de forma integrada. De acordo com ela, a morte de macacos (epizootias) serve de alerta do que pode acontecer. "Precisamos fazer uma avaliação profunda da febre amarela para nos anteciparmos e não ficarmos esperando os ciclos da doença", frisa o secretário de Saúde, Cairo de Freitas. Dae, diz o secretário sobre a parceria com a UFG, a importância de tratar estes casos de febre amarela de forma acadêmica.
Durante a reunião realizada no IPTSP, a semana passada, profissionais das áreas de doenças infecciosas e parasitárias, imunologia, virologia, patologia geral e epidemiologia discutiram temas ligados à questão da febre amarela urbana e silvestre. Entre os temas, a validade e efeitos colaterais da vacina, circulação do vírus, diagnóstico dentro do hospital.
De acordo com o Ministério da Saúde, Goiás fica localizado dentro da zona endêmica da febre amarela no Brasil, juntamente com os demais Estados do Centro-Oeste, da região Norte, além do Maranhão, totalizando 12 unidades da federação, que somam uma população de cerca de 30 milhões de habitantes. Por isso, o Estado é considerado um local propício para desenvolver pesquisas e estudos sobre a doença. "Goiás foi o Estado que mais vacinou desde o surgimento dos primeiros casos da doença", diz Magna Carvalho.
Levantamento recente da SES, aponta que entre abril de 2007 e até o início da semana passada, haviam sido confirmados 21 casos da doença no Estado. Quatorze pessoas morreram. Outros oito casos estão sendo investigados. Ainda de acordo com a SES, 79 municípios goianos figuravam entre os que registraram casos de epizootias (morte de macacos suspeitas de febre amarela). Com o reaparecimento da doença, 2,4 milhões de vacinas foram aplicadas entre 1º de dezembro de 2007 e 15 de janeiro de 2008, sendo 1,8 milhão só nos primeiros dias do ano.
Ainda conforme dados da SES, na última epidemia da doença entre 1999 e 2000, dos 64 casos registrados da doença, no Estado, 28 evoluíram para o óbito. A taxa de mortalidade foi 43,8%, enquanto que as mortes registradas este ano, elevaram o índice para 57,1%.