(UFG) Receita de vitória eleitoral
Receita de vitória eleitoral (Tribuna do Planalto, 23/02/2008)
Educação, saúde, trânsito e transporte. Para especialistas, estes são os temas que devem predominar nos discursos dos candidatos à prefeitura de Goiânia a partir de agora. Porém, mais do que um discurso atraente e empolgante, os postulantes devem ficar atentos porque outros fatores vão ser determinantes no momento da campanha, e poderão definir o próximo pleito.
De acordo com a cientista política e professora da UFG, Heloísa Dias Bezerra, "além das propostas, é fundamental a construção de alianças sólidas". Aliás, esse é o principal problema enfrentado pela base aliada do governo estadual, hoje: com pelo menos quatro pré-candidatos - Barbosa Neto (PSB), Raquel Teixeira (PSDB), Gilvane Felipe (PPS) e Sandes Júnior (PP) - é difícil prever como se dará esse processo de coligação entre as legendas aliadas, uma vez que o consenso é um ideal ainda distante.
Além de uma base de sustentação, é preciso que o candidato tenha simpatia e, mais do que isso, "um lastro de confiabilidade", afirma Heloísa. A professora lembra ainda que essa confiabilidade tem de ser construída. Afinal, ninguém conquista confiança da noite para o dia, sobretudo, quando se trata de política, e de políticos.
Publicitário da Verbo Comunicação, Léo Pereira, por sua vez, acredita que marqueteiros e postulantes têm condições de fazer um discurso claro e verdadeiro ao eleitorado. Entretanto, não vale simplesmente o que é dito, mas quem diz. "A trajetória do político tem que ser coerente com o seu discurso", ressalta. Na opinião do publicitário, temas ambientais e humanos são prioritários para as próximas eleições, "o que não quer dizer que não vale a pena se preocupar com infra-estrutura e desenvolvimento econômico". É possível falar destas coisas de forma clara", reforça.
Para o diretor da Grupom Consultoria, Mário Rodrigues Filho, questões relacionadas à saúde, ao trânsito e ao transporte coletivo são fundamentais a serem discutidas nos próximos meses. Segundo ele, mais do que debater prioridades, "os candidatos têm de apresentar propostas modernizantes". Outro fator importante, afirma, é a imagem do postulante, a forma como ele se apresenta. "Nesse sentido, o programa de TV vai fazer a diferença", diz.
Se por um lado a imagem bem trabalhada de um candidato pode contar valiosos pontos na disputa eleitoral, por outro, a falta de tempo para que as propostas sejam explicitadas de forma mais detalhada, tornam os discursos muito parecidos. "Nós não temos nas eleições e no horário eleitoral tempo suficiente para um candidato fazer diferença no seu discurso", argumenta o mestre em filosofia política e professor da UCG, Wagno Oliveira de Souza.
Segundo ele, a diferença consistiria na explicação dos elementos técnicos capazes de viabilizar o discurso do candidato. Ou seja, mais do que falar o que pretende fazer, seria necessário falar como fazer.
O diferencial entre os postulantes estaria nas estratégias demonstradas para colocar os projetos, as promessas, em prática. Já que isso não é possível, "o candidato chega e diz aquilo o que o eleitor quer ouvir. É fácil identificar quais são as necessidades do eleitor brasileiro, são quase que questões gerais. Não é a toa que o discurso de todos privilegia educação, saúde e segurança", justifica o professor.
Experiência
Ex-prefeito de Goiânia, Darci Accorsi (PR) acredita que o que vai contar nestas eleições é a experiência dos candidatos. Com base nesta tese, argumenta o republicano, os nomes que estão colocados hoje para a disputa ao Paço, não ganham do prefeito Iris Rezende. Segundo Darci, com esses pré-candidatos que estão apresentados, a experiência vai contar mais. "Afinal, nenhum deles representa novidade. Só se tivesse um novo político, com um novo perfil para ganhar do Iris", reitera convicto.
Darci acredita que, para ter alguma chance de desbancar o peemedebista, a oposição terá que cumprir duas etapas: primeiro é preciso unificar os partidos da base em torno de um nome, e em segundo lugar construir um discurso que empolgue o eleitor. Além disso, afirma, "temas como saúde e educação continuam atuais - até porque estão em situação ruim -, e meio ambiente é uma nova bandeira, que o Iris acabou assumindo, e é um tema que deve ser explorado nessa campanha".
Na contramão do que diz Darci Accorsi, o também ex-prefeito de Goiânia, Nion Albernaz (PSDB) não acredita que o prefeito seja favorito por si, mas que aparece como favorito por estar à frente da prefeitura. "Quem já está no cargo e é candidato aparece com favoritismo. E eu acho que ele não está tão bem assim", reforça o professor.
Prefeito da Capital por três mandatos, o tucano argumenta que todos os políticos que disputam as eleições querem fazer um bom governo, porém, é fundamental ter uma estratégia, um plano de ação. Segundo ele, temas como educação, segurança, saúde e qualidade dos serviços são prioritários e as medidas relativas a essas questões devem ser bem definidas com um plano de governo.
Tradicionalidade dá vantagem a Iris
Somente um elemento surpresa, uma carta na manga, de última hora ou mostrada no tempo certo pode desbancar a tradicionalidade do goianiense e reverter o quadro atual que favorece o atual prefeito Iris Rezende. Esta é a tese do professor Wagno Oliveira de Souza. Segundo ele, o que está para ser reeleito não é simplesmente o Iris, está em questão a tradicionalidade do goianiense. "Teria de ser algo surpreendente, excepcional, que nem mesmo um leigo em política, ou em ciência política, seria capaz de prever", acredita.
De acordo com o professor, o peemedebista tem história e carisma frente à boa parte dos eleitores goianienses. "Uma avaliação impessoal de quem quer que seja pode indicar esses elementos", ressalta o filósofo, esclarecendo que sua análise, embora mostre um cenário extremamente favorável ao prefeito, consiste em uma leitura apartidária.
O professor lembra ainda que as necessidades do eleitor fazem uma mediação entre ele e a propaganda eleitoral. Assim, o cidadão só escuta o que lhe é conveniente. Apesar disso, argumenta, não há como saber se as promessas são confiáveis ou não (uma vez que as explicações técnicas não são possíveis de serem transmitidas).
Por isso, "o eleitor vota apelando para a simpatia do candidato, para a tradicionalidade que lhe é própria e vai, mesmo que inconscientemente, num processo de reeleição, repetir o voto", explica o filósofo. "Aliás, depois de aprovada a reeleição, Goiânia tem dado mostras de que o goianiense é mais tradicional do que boa parte de outras capitais do Brasil", reforça Wagno.
Vantagem será para quem propuser avanços
A oposição não vai ter vida fácil neste ano eleitoral. Mais do que o favoritismo do prefeito Iris Rezende (PMDB), os partidos oposicionistas terão de enfrentar a tradição do eleitor goianiense, que costuma optar pela reeleição, e um novo parâmetro, estabelecido pelo peemedebista. "Antes, o sentimento era de descontentamento, o que gerava um discurso de mudança. Agora isso mudou", afirma o diretor do Instituto Fortiori, Gean Carvalho.
A avaliação positiva do prefeito, constatada em todas as pesquisas realizadas na Capital até o momento, torna o discurso dele mais simples de ser formatado, e dificulta, por sua vez, o discurso da oposição. "O prefeito cumpriu boa parte do que prometeu e tem credibilidade. Então, ele tem que pensar num discurso de continuidade, com novos avanços", acredita Gean.
Em contrapartida, afirma o diretor do Fortiori, "a oposição tem que propor algo inovador, diferente, mas sem usar o discurso da mudança devido ao contentamento do eleitor com a atual gestão". Essas circunstâncias, segundo ele, geram uma dificuldade para a oposição e vão requerer pesquisas qualitativas para que estes partidos consigam identificar o tom do discurso para sensibilizar o eleitorado.
Na opinião do diretor da Grupom, Mário Filho, a população está esperando idéias novas. Logo, a oposição não tem de bater no prefeito, mas, ao contrário, deve mostrar propostas inovadoras. "Essa estratégia de bater no oponente está ultrapassada", ressalta. Com base no bom desempenho apresentado pelo peemedebista nas pesquisas de opinião realizadas até agora, a professora Heloísa Dias acredita que "as candidaturas vão se alinhar a favor e contra o Iris". Assim, para tentar reverter o quadro favorável ao prefeito, a oposição terá de mostrar que tem um projeto para a cidade, e defender esse projeto.
Divisão no PT e na base enfraquece oposição
Se por um lado o prefeito faz uma administração bem avaliada e tem seu favoritismo reforçado pelas pesquisas realizadas em Goiânia, de outro a oposição enfrenta sérias crises, sejam dentro do partido, como no caso do PT, ou dentro de blocos partidários, como ocorre com a base aliada do governo estadual.
Em constante disputa interna, o Partido dos Trabalhadores nunca esteve tão dividido: com três pré-candidatos ao Paço Municipal - deputados Humberto Aidar e Mauro Rubem e vereadora Marina Sant'Anna -, o partido ainda não decidiu se vai, de fato, lançar candidato próprio ou buscar uma aliança com o PMDB. A ala que defende o lançamento de candidatura petista é majoritária, mas a protelação, para a definição da postura da sigla, pode acabar enfraquecendo o partido, que se diz mais forte com as infinitas discussões.
Por outro lado, a crise econômica que assola o Estado e a morosidade na tomada de decisões, por parte do governo estadual, vai respingar no candidato, ou candidatos, da base aliada, acredita a cientista política, Heloísa Dias. Segundo ela "a gestão estadual está praticamente paralisada, não deslancha projetos, e isso vai atingir a credibilidade do grupo do governador Alcides Rodrigues (PP)".
A professora explica que o desempenho do governo estadual atinge a campanha dos postulantes da base porque os grupos políticos são os mesmos, ou seja, as alianças se repetem, ou querem se repetir, em nível estadual e municipal. "Além dos temas próprios da cidade, a paralisia do governo estadual vai acabar contaminando a disputa", reitera.