(UFG) Ciência, consciência e desenvolvimento social

Ciência, consciência e desenvolvimento social (Diário da Manhã, 29/02/2008)

As últimas estatísticas governamentais demonstram um considerável fortalecimento da pesquisa científica e tecnológica nos últimos anos. Fruto do esforço coletivo de pesquisadores e gestores da área, o Brasil passou a ocupar a 15ª posição em produção científica mundial. O cenário da pós-graduação também registra números expressivos: o País forma 10 mil doutores e 30 mil mestres por ano. Somente com pagamento de bolsas, as agências Capes e CNPq gastaram R$ 1,3 bilhão no ano passado. A previsão para 2008 é de R$ 1,5 bilhão.
Apesar dos avanços, é preciso ponderar que o Brasil ainda está longe de atingir os patamares recomendáveis para o desenvolvimento sustentável do País. O volume de financiamento de ciência e tecnologia é de apenas 0,91% do Produto Interno Bruto (PIB). A Coréia, por exemplo, dedica a esta área mais que o triplo: 3% do PIB, e a Suécia, 3,9%.
Para tornar-se competitivo em termos de avanço científico e tecnológico, seria necessário que o País aumentasse o financiamento para pelo menos 1,5% do PIB. Essa, sim, seria uma meta estratégica para alavancar o desenvolvimento do Brasil, minimizando a desigualdade social e contribuindo, substancialmente, para transformações positivas na economia, na ciência e na cultura.
A história dos países desenvolvidos tem algo em comum: fortes investimentos em pesquisa, em educação, em inovação tecnológica. O uso do conhecimento é responsável por 50% do PIB dos países econômica e socialmente promissores. O capital intelectual tem demonstrado grande poder de transformações, às vezes maior que o capital financeiro. Portanto, é preciso ter visão: só há desenvolvimento efetivo se houver investimentos pesados em projetos que fomentem a produção de conhecimento científico e criem as condições para o fortalecimento de inovações tecnológicas.
Para que isso ocorra, os Ministérios da Ciência e Tecnologia (MCT) e da Educação (MEC) definiram quatro eixos estratégicos: 1) expansão e consolidação do sistema de ciência, tecnologia e pós-graduação; 2) promoção de inovação tecnológica nas empresas; 3) fomento da pesquisa e da tecnologia em áreas estratégicas; 4) incremento da ciência e tecnologia para o desenvolvimento social.
Em algumas regiões e áreas do conhecimento, os cursos de pós-graduação precisam de mais apoio das agências de fomento e outros, de maior suporte para se consolidarem como referência de qualidade. Em especial, as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste necessitam que sejam realizadas políticas de indução para diminuir as assimetrias regionais, uma vez que estas recebem um terço dos recursos financeiros, enquanto o Sul e o Sudeste recebem dois terços por parte do governo federal.
Por outro lado, é preciso entender que inovação tecnológica não ocorre plenamente sem a efetivação de parcerias com iniciativa privada. Em países como Estados Unidos e Alemanha, por exemplo, as empresas são responsáveis por mais de 70% das atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D), ao contrário do Brasil, cujas empresas participam com menos de 25%. A situação é diametralmente oposta na comparação Brasil e Estados Unidos: enquanto aqui as universidades respondem por mais de 75% de atividades de pesquisa, lá esse índice é inferior a 20%. Em outros termos, pesquisa se faz, majoritariamente, com as universidades, no caso do Brasil, e com as empresas, no caso dos Estados Unidos.
Finalmente, é necessário salientar que o fomento à pesquisa deve ser implementado observando-se certas áreas estratégicas e conforme as demandas regionais. Isso é fundamental para viabilizar a ampliar a produção de conhecimento, bem como para contribuir com a geração de emprego e renda.
Como se observa, visão estratégica e democratização de oportunidades são imprescindíveis para impulsionar o crescimento do País, dos Estados e dos municípios. Trata-se, portanto, de atingir a questão-chave do desenvolvimento social: ciência é questão de consciência.

Prof. Edward Madureira Brasil é reitor da Universidade Federal
de Goiás (UFG)