(UFG) Mulheres no comando
Mulheres no comando (Diário da Manhã, 08/03/2008)
Taline Barros
talinebarros@dm.com.br
Da Editoria do DMRevista
Quem disse que a mulher não nasceu para mandar? O DMRevista trouxe bons exemplos que abalam as concepções de qualquer machista declarado. O primeiro deles é a empresária e primeira -dama de Senador Canedo, Izaura Cristina Cardoso, 39. Em 23 anos de luta, ela levantou, com o marido, uma indústria que tem cinco filiais independentes por todo o Brasil. Tudo isso começando do zero, com muita garra e vontade de aprender.
Izaura Cardoso faz parte do seleto grupo de empreendedores do País. Segundo pesquisa da Rizzo Franchise – empresa que realiza pesquisas sobre o mercado de varejo e franquias, as mulheres representam 38% do total de empreendedores. De acordo com a pesquisa, empresas lideradas por elas têm um faturamento 30% maior do que os negócios comandados por homens.
Izaura começou vendendo salgados na rua com o marido. Com as economias, eles montaram uma loja atacadista simples. Em seguida, um supermercado e, depois, entraram para o segundo setor da economia. Nesses desafios, ela aprendeu a atuar em todas as áreas, desde o caixa e a produção de embalagem de presente até a tesouraria. Na indústria, foi a mesma situação. Atualmente, ela se dedica à direção da área de marketing da empresa, mas continua controlando as demais.
segredo
Segundo a mulher que coordena dois mil funcionários, o segredo da liderança é trabalhar e confiar nas pessoas a quem delegou função. “Como tenho muitas responsabilidades, desenvolvi uma característica muito importante. Pego uma área, desenvolvo e entrego para uma pessoa de confiança continuar o trabalho.” Izaura conta que foi preciso muita força de vontade. Mesmo sem curso superior, ela conseguiu vencer os obstáculos. “Aprendi a dirigir sozinha para poder fazer as entregas dos salgados. Faço isso em tudo na minha vida.”
No Brasil, as mulheres representam a maioria dos desempregados do País (57%), têm menor nível salarial e poucos cargos de liderança, segundo pesquisa do Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos (Dieese). Entretanto, quando assumem o comando da embarcação, elas são extremamente competentes, mesmo que seja em áreas bem masculinas, como transporte de caminhão.
A auxiliar operacional Daniela Oliveira Neves, 23, fez graduação em Planejamento em Transportes pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Goiás (Cefet) e pós-graduação em Logística, uma área prioritariamente masculina. Ela trabalha em uma transportadora que tem nove filiais em todo o País, onde exerce a função de subgerente. A guerreira tem, sob supervisão, 50 motoristas de truck, carreta e bi-trem.
Ela enfrenta muito preconceito pelo fato de ser jovem e mulher. Muitos relutam em aceitar suas ordens. Segundo ela, a melhor forma de lidar com isso é fazer uma liderança justa. Neves tenta ser paciente e atenciosa e, ao mesmo tempo, ter pulso firme para defender as idéias dela. Batalhadora, Neves está sempre disposta a ouvir os colegas mais experientes e a ajudar a quem está começando na empresa. “Quero sempre mais. Quando terminar a pós, vou entrar no mestrado.”
A subgerente, que começou com um cargo baixo, tem feito carreira, por conta de sua competência e responsabilidade. O último desafio dela foi ter que fazer a programação de distribuição de combustível na rede de postos Texaco em Goiânia. “Muitos não acreditavam que era capaz, mas eu consegui. É assim que vencemos o preconceito, mostrando trabalho e competência.”
Segundo a supervisora técnica do Dieese em Goiás, Leila Brito, em médio prazo, as mulheres vão conquistar uma boa parcela das lideranças nas empresas, pois a maioria está nos bancos de faculdade (60%). Atualmente, elas têm os menores salários. “O conhecimento será o diferencial da mulher do futuro.”
A bombeira Genifrancy Guerra, 23, sabe de perto o que é lutar para conquistar respeito entre os homens. Ela é a única dos 70 bombeiros que trabalham no Segundo Subgrupamento de Aparecida de Goiânia. A raridade de mulheres é facilmente explicada. Na área onde trabalha, que envolve salvamento, resgate e incêndio, é preciso muita força física. Por isso a maioria das mulheres selecionadas para o concurso dos bombeiros prefere a área administrativa. No concurso, 10% das vagas são reservadas para o sexo feminino. Há três anos na guarnição, ela acredita que conquistou o respeito dos companheiros.
Carreira
Genifrancy, que está cursando Enfermagem na Universidade Federal de Goiás (UFG), pretende se especializar em resgate pré-hospitalar e seguir carreira no Corpo de Bombeiros. A bombeira passou em todas as provas físicas. “No início era complicado, não acreditavam que eu conseguiria passar.”
Outra mulher que entra na chamada é a presidente da Agência Goiana de Cultura Pedro Ludovico Teixeira (Agepel), Linda Monteiro. Entre tantas funções, é conselheira do Goiás Esporte Clube, vice-presidente da Executiva Nacional do PPS e uma das fundadoras do Cevam, o Centro de Valorização da Mulher, criado em Goiânia em 1981.
Monteiro pode ser considerada uma mulher à frente de seu tempo se for levado em conta que apenas 10% das prefeituras goianas são comandadas por mulheres, e elas também são minoria nas secretarias do Estado de Goiás e da Prefeitura de Goiânia. Na Câmara de Vereadores da Capital, entre 34 parlamentares, só quatro são mulheres.
Monteiro considera que a mulher tem conseguido o seu espaço no mercado de trabalho, por meio de conhecimento e força de vontade. A feminista e defensora ativa dos direitos da mulher acredita que uma das principais conquistas do movimento foi o avanço nas leis que garantem igualdade de oportunidades e mudança da mentalidade masculina sobre a importância da mulher, as divisões de papéis.