(UFG) Indefinição prejudica pesquisa

Indefinição prejudica pesquisa (O Popular, 11/03/2008)

Etapa de trabalho da Universidade Federal de Goiás
não foi feita porque previa descongelar embriões

Carla Borges

A indefinição sobre o uso de células-tronco embrionárias por pesquisadores no Brasil prejudicou a conclusão de uma pesquisa realizada na Universidade Federal de Goiás (UFG) pela professora Lidia Andreu Guillo, doutora, titular do Departamento de Bioquímica do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da instituição. Mesmo sem realizar a terceira etapa prevista no projeto aprovado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que dependia do descongelamento de blastocistos (estrutura anterior ao embrião), a equipe da professora chegou a importantes conclusões que podem ser fundamentais em caso de transplantes a partir de células-tronco embrionárias.

A lista de pesquisas já aprovadas pelo governo federal tem outros cinco grupos de pesquisadores: três da Universidade de São Paulo (USP) e dois da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Todas foram prejudicadas, em maior ou menor grau, pela demora do Supremo Tribunal Federal (STF) em votar a ação direta de inconstitucionalidade (adin) proposta pelo ex-procurador-geral da República, Cláudio Fonteles. Na quarta-feira da semana passada, quando seria realizada a votação histórica, o ministro Carlos Alberto Direito pediu vistas do processo, adiando por pelo menos mais 30 dias a decisão. Três ministros do STF votaram pela constitucionalidade da Lei de Biossegurança, que disciplina as pesquisas.

“Optamos por não fazer o descongelamento, mesmo com o entendimento de alguns juristas de que poderíamos fazer, afinal, a lei está em vigor”, contou ao POPULAR a professora Lidia Guillo. As duas etapas anteriores da pesquisa, que compreendiam o uso de células embrionárias de camundongos, foram realizadas. A conclusão do trabalho foi de que é possível multiplicar células-tronco embrionárias na presença de nanopartículas magnéticas, uma substância que pode substituir a atual estrutura usada internacionalmente para o crescimento das colônias de células-tronco embrionárias, formada por fibroblasto (uma espécie de colchão de células) de camundongos.

Lidia Guillo explicou que o resultado da pesquisa representa um avanço considerável, porque tecidos ou órgãos desenvolvidos em fibroblasto animal não poderiam ser transpla ntados para seres humanos. Antes, seria preciso desenvolver algum tipo eficiente de técnica para “limpar” esses tecidos desenvolvidos. O uso das nanopartículas magnéticas, além de fazer esse papel, ainda possibilita aos pesquisadores acompanhar em tempo real, por meio de equipamentos de ressonância magnética, o desenvolvimento das células transplantadas no organismo que as recebeu (no caso, de camundongos).

“Abre-se a perspectiva de estudar in vivos”, esclarece a pesquisadora. A pesquisa está em fase de conclusão. Iniciada em 16 de abril de 2006, ela termina no próximo dia 16. Lidia Guillo está preparando a prestação de contas ao CNPq, que financiou as pesquisas com recursos do Ministério da Saúde. A pesquisa da UFG recebeu R$ 250 mil, dos quais R$ 170 mil foram gastos com equipamentos e material de consumo e R$ 80 mil com bolsas para os pesquisadores

.Na conclusão do trabalho, que deve ser publicado em breve, a pesquisadora da UFG alerta para a necessidade de continuidade das pesquisas e de que elas sejam interligadas. O uso de células-tronco embrionárias é promissor porque elas podem dar origem a qualquer tipo de célula, inclusive neurológicas, o que não acontece com as células-tronco adultas, embora a cada dia sejam descobertos novos tipos de diferenciação também por estas últimas.