(VESTIBULAR) Alunos da rede pública terão cota e bônus na UFG

Alunos da rede pública terão cota e bônus na UFG (O Popular, 13/03/2008)

Proposta foi inspirada em modelo da universidade de São Paulo (USP). Bônus será de 8% sobre nota

Carla de Oliveira

A Universidade Federal de Goiás (UFG) estuda a implantação de um sistema de inclusão social de estudantes oriundos de escolas públicas municipais e estaduais. O modelo, que está sendo discutido, apresenta pontos semelhantes ao já implantado na Universidade de São Paulo (USP).

A proposta da Federal goiana prevê adoção de mecanismos que garantam que 20% dos candidatos aprovados para a segunda fase do vestibular sejam provenientes da rede pública de ensino. Além disso, eles receberiam bônus de 8% sobre a nota obtida na prova da segunda fase.

O projeto, denominado UFG Inclui, segundo a pró-reitora de Graduação da UFG, Sandramara Matias Chaves, prevê a realização de um conjunto de ações afirmativas da instituição, que visa garantir o acesso e a permanência de estudantes “sujeitos a condições sociais desfavoráveis, que acabam refletindo em seu desempenho” na UFG.

Ontem, o assunto foi discutido em uma mesa-redonda, intitulada Experiência de Inclusão em Curso nas Universides Brasileiras, que contou com a participação da pró-reitora de Graduação da USP, Selma Garrido Pimenta, e da procuradora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Dora Lúcia de Lima Bertúlio.

Além da garantia de participação de alunos de escolas públicas na segunda fase do vestibular e oferta de bônus nas notas, a proposta ainda prevê a utilização do desempenho do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no vestibular e ampliação de bolsas oferecidas pela universidade. “Não se trata de reserva de vagas, mas de assegurar que esses alunos cheguem à segunda fase do vestibular”, diz Sandramara. A expectativa é de que o projeto seja aprovado para implantação no processo seletivo de 2009.

Na USP, o modelo utilizado prevê a aplicação de bônus de 3% das notas de alunos de escolas públicas na primeira e na segunda fase do concurso, o que não inclui aqueles oriundos de instituições de ensino técnico.

De acordo com a pró-reitora de Graduação da USP, Selma Garrido Pimenta, desde 2007, quando o sistema foi implantado, tem aumentado o número de alunos de escolas públicas que ingressa na instituição. Este ano, diz, foi iniciada outra ação do Programa de Inclusão Social da USP (Inclusp), que é a realização de vestibular seriado para os alunos das escolas públicas que aderiram ao programa, cujo objetivo é aproximar a universidade da rede pública de educação básica.

Rendimento
Selma Garrido destaca que o acompanhamento dos alunos que ingressaram em 2007 mostra que eles apresentam rendimento ligeiramente acima da média da universidade, o que derruba o mito de que essas ações provocariam perda de qualidade. A pró-reitora da USP defende que a inclusão social de estudantes da rede pública contempla outros segmentos, como o de negros.Ela lembra 99,6% dos alunos inscritos no vestibular que estudavam em escolas públicas optaram por receber o bônus.

A procuradora da UFPR, Dora Lúcia de Lima Bertúlio, considera que a cota social não assegura o ingresso de negros nas universidades públicas. Segundo explica, a UFPR depois de dois anos de estudos optou por estabelecer cotas sociais (para alunos de escolas públicas) e raciais (estudantes negros, independentemente da condição social). “Uma coisa é ser pobre, outra é ser negro. Programas que enfocam apenas a pobreza não contemplam o negro, porque o corte, para o negro, não é o da riqueza ou da pobreza, mas vem de sua condição de negro numa sociedade racista”, defende a procuradora.

Dora Lúcia assinala que, em 2004, no ano anterior à criação das cotas raciais, apenas 42 negros ingressaram na UFPR. Em 2005, com 830 vagas reservadas, o número saltou para 570. No vestibular 2008,369 negros entraram na universidade.