UTIs pediátricas pedem socorro ao MP
UTIs pediátricas pedem socorro ao MP (Jornal Hoje, 19/03/2008)
Liana Aguiar
Em reunião realizada na manhã de ontem na sede do Ministério Público de Goiás (MP/GO), gestores de hospitais e representantes das secretarias estadual e municipal de Saúde concordaram em elaborar uma política de atenção à criança. A medida foi tomada porque faltam leitos e médicos qualificados para as unidades de terapia intensiva (UTI) pediátricas no Estado. O MP deu um prazo de dez dias para o Hospital Materno-Infantil encaminhar um relatório dos casos de pacientes que necessitam de cirurgias eletivas.
Os órgãos públicos terão de encaminhar em cinco dias os nomes dos representantes para constituir um foro para discussão e criação de políticas para atendimento neonatal e pediátrico. Também participaram da reunião o presidente da Sociedade Goiana de Pediatria, João Serafim Filho, o diretor do Hospital das Clínicas, a diretora-geral do Materno-Infantil, Lucimar Rodrigues Ferreira, e o reitor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Edward Madureira Brasil.
O promotor Marcelo Celestino concorda que a abertura de UTI pediátrica no HC desafogaria o Materno-Infantil. Segundo o diretor-geral do HC, José Garcia Neto, a unidade ainda não oferece UTI pediátrica principalmente por falta de profissionais qualificados. “O Brasil tem um déficit de 12 mil servidores em hospitais universitários, devido a um impasse entre ministérios da Saúde e da Educação”, explicou o reitor.
Segundo a médica Fernanda A. Oliveira Peixoto, da Sociedade Goiana de Pediatria, faltam pediatras na UTI porque é uma especialidade mal-remunerada, com alta carga de tensão, tem mais processos judiciais, porque lida com a vida e a morte, e não é reconhecida. “Se o profissional não for qualificado e respeitado, não vai haver UTI pediátrica em Goiás”, disse Fernanda.
O médico Zacarias Calil, do Hospital Materno-Infantil, avalia o problema como gravíssimo. “Tenho que fazer uma cirurgia numa criança de 5 anos que não tem esôfago, há três anos ela espera, mas não tenho condições de operá-la em Goiás”, lamenta. Segundo ele, faltam leitos também para cirurgia cardíaca, uma das maiores procuradas. “A pediatria em Goiânia está na UTI.”
Para os representantes do governo, a solução em longo prazo é melhorar a atenção primária, para não sobrecarregar as UTIs. No último concurso da Secretaria Estadual de Saúde, as vagas para médicos de UTI pediátrica e neonatal não foram preenchidas nem em número de inscritos.
O problema é tão grave em hospitais goianos que, na semana passada, a Secretaria Estadual de Saúde fechou a Maternidade Dona Íris para reforma. A unidade estava em péssimas condições de atendimento e falta de material cirúrgico.