(UFG) Espírito Acadêmico

Espírito acadêmico (Diário da Manhã, 05/04/2008)

Em artigo publicado no Diário da Manhã na semana passada, o reitor
Edward Madureira Brasil transmitiu uma informação que deve ser saudada pela comunidade acadêmica e pela própria sociedade. Segundo ele, está em plena execução, na sua primeira etapa, o Centro de Cultura e Eventos da Universidade Federal de Goiás, um espaço multiuso projetado para a realização de congressos, feiras, colações de grau e apresentações culturais diversas. A partir de agosto próximo, as cerimônias de colação de grau da UFG serão ali. Essa importante cerimônia será unificada, ou seja, passa a ser realizada unicamente no novo local, aliás, por demais adequado, pois vai comportar 4 mil pessoas sentadas, num salão climatizado, dispondo de estacionamento para 1.500 automóveis.
Esclarece o reitor que o objetivo funcional do Centro de Cultura e Eventos é, primeiramente, atender às cerimônias de colação de grau dos fomandos da UFG. E acrescenta um dado relevante: “Pesquisas da Assessoria de Relações Públicas da instituição apontam que cerca de 40% dos alunos não participam das festividades de formatura em virtude dos custos cada vez mais altos. Ora, com o novo espaço vamos garantir o caráter democrático das solenidades de formatura. A despesa dos estudantes será quase que somente com o aluguel da beca. Evitaremos a locação de espaços que tornem as solenidades muito onerosas para os formandos.”
É sabido, sim, que nem todos podem participar da festa de formatura, que para muitos fica completamente fora do orçamento. Dessa forma, saem de cena, na UFG, as empresas do ramo de eventos, que não mais poderão ser contratadas para as cerimônias de colação de grau. Finda a era dos grandes espetáculos, nem sempre próprios para o caráter solene que deve ter o ato de conclusão de curso, devolvendo-se à cerimônia o essencial, que é o espírito acadêmico.
Da mesma forma que assim age no procedimento de colação de grau dos seus alunos, a UFG deveria também tomar providências para que a recepção aos calouros tenha igualmente um caráter acadêmico, acabando com os atos de selvageria que atualmente predominam. Neste ano – e tratei deste assunto aqui neste espaço – o Parque Vaca Brava pagou o que não devia pelos excessos dos estudantes. Anunciados os resultados do vestibular da UFG, transformou-se num cenário de terra arrasada e cuja recuperação exigiu muito trabalho da parte dos operários da prefeitura municipal.
Como a cerimônia de colação de grau, a recepção ao calouro precisa se revestir da característica acadêmica, promovendo o envolvimento do estudante com a casa que o vai levar à formação profissional. O campus universitário dispõe de todas as condições para uma recepção condigna a quem vence uma etapa importante da vida, que é o acesso ao curso superior. O próprio Centro de Cultura e Eventos pode ser o cenário para essa recepção, já que, como disse o reitor Edward Madureira, será um espaço multiuso.
Ao oferecer tratamento igual a todos os estudantes da UFG, “democratizando esse momento não só para alunos, mas também para seus familiares”, tem seqüência a justa preocupação da universidade com as festas de formatura, com a resolução, em vigência há dois anos, que regulamenta o que é ou não permitido nas cerimônias de colação de grau. Um trabalho específico junto às comissões de formatura tem alertado para restrições que inibem os excessos, como, por exemplo, o uso de instrumentos sonoros, ou a prática de manifestações mais ruidosas e nada adequadas para o momento e para o caráter solene que ele carrega.
Resta agora essa outra intervenção para que os calouros sejam recepcionados de modo ordeiro e civilizado. Não será isso que vai tirar a alegria de um momento de vitória e de júbilo. Como centro de formação acadêmica, a universidade deve inspirar a cidadania e se aliar às famílias na tarefa da formação ética dos seus estudantes. A festa pela aprovação no vestibular pode e deve ter outro sentido. É hora de se dar ao ato de ingresso na universidade o mesmo tratamento digno que agora se passa a dar ao ato da colação de grau.

Reynaldo Rocha é jornalista