(UFG) Fica agora prioriza realmente o cinema
Fica agora prioriza realmente o cinema (Diário da Manhã, 08/04/2008)
Carollyne Almeida
carollynealmeida@dm.com.br
Da Editoria do DMRevista
Esqueça os grandes espetáculos musicais que sempre arrastaram multidões para a cidade de Goiás durante o Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica). A presidente da Agepel e coordenadora geral do festival, Linda Monteiro, anunciou ontem, durante coletiva, o novo formato que o Fica terá a partir dessa décima edição, que este ano será realizado de 10 a 15 de junho.
Ao contrário das edições passadas, que privilegiavam os shows musicais, sempre com grandes bandas do cenário nacional, o X Fica será essencialmente focado no cinema, na formação de público, na capacitação e na produção cinematográfica goiana. As discussões ambientais desta edição serão direcionadas para a valorização do cerrado e a programação de eventos primará pela preservação do centro histórico da cidade.
Segundo Linda, as mudanças foram formuladas a partir de consultas com diversos segmentos envolvidos no festival, desde moradores da cidade, jurados, produtores, até cineastas. O novo formato também valoriza o centro histórico, pois este ano nenhum palco será erguido na Praça do Coreto e todos os eventos do festival serão realizados em locais como o antigo Matadouro e o Lyceu, que não ponham em risco os monumentos históricos tombados.
O X Fica teve um total de 439 obras inscritas, sendo 208 brasileiras, 48 goianas e 183 estrangeiras. O gênero documentário será o forte do festival, com 341 filmes e 191 são de curta-metragem. Além do aumento do espaço para a exibição de produções goianas, o evento também priorizará as mostras e sessões especiais e oferecerá o dobro de atividades que foram realizadas nas edições anteriores. Segundo o professor de cinema da UFG e consultor do festival, Lisandro Nogueira, o aumento dos cursos e oficinas servirá para "que todos em Goiás possam ter uma boa formação, tanto prática quanto teórica, em relação ao cinema."
Cinema
Também serão realizados debates com os produtores e cineastas depois de cada sessão da mostra competitiva, que será mais valorizada este ano, com o intuito de inserir o festival goiano no circuito mundial de Festivais de Cinema. A partir desta edição, o Fica vai homenagear um cineasta brasileiro. O primeiro será um dos fundadores do Cinema Novo, Cacá Diegues, que tem em sua filmografia películas como Orfeu, Deus é brasileiro, Bye Bye Brasil e O amor maior do mundo. Lisandro também fala da importância da mostra de cinema nacional. "O cinema brasileiro hoje passa por um bom momento e o Fica vai, mais uma vez, privilegiar a exibição de bons filmes deste cinema.
O festival preparou no total 4 oficinas – Montagem no cinema, Fotografia no cinema, Táticas de guerrilha no cinema digital e Captação de Som –, mesas-redondas, que falam da relação da sétima arte com a literatura e a psicanálise, e 14 cursos, dentre eles "Crítica de cinema: O cinema moderno de Howard Hawks", com o crítico Inácio Araújo, "O jornalista e o cinema", com Stella Senra, e "Cinema documentário: introdução – do clássico ao contemporâneo, com o professor de cinema da Unicamp, Francisco Elinaldo Teixeira. "Com isso, queremos também valorizar mais o cinema goiano e sua produção", enfatiza a coordenadora Linda. Como atrações do cinema nacional, o X Fica vai promover o relançamento do filme Liberdade de Imprensa, do cineasta João Batista de Andrade, e o Café Cinematográfico, com as presenças dos professores de cinema Jean-Claude Bernardet e Francisco Elinaldo Teixeira.
Ambiente
As questões ambientais do X Fica serão pautadas no cerrado, tema central de todas as mesas-redondas, que são coordenadas pelo jornalista e ambientalista Washington Novaes e terão a presença de especialistas convidados. Com espaços diferenciados, as discussões vão girar em torno das conseqüências do desmatamento desordenado, do avanço das culturas da soja e da cana-de-açúcar, das interferências no clima.
"Quando se fala em desmatamento, todo mundo só lembra da Amazônia, mas os últimos levantamentos mostram que nós estamos perdendo 22 mil quilômetros quadrados de cerrado por ano e isso tem várias conseqüências. Então, estamos convidando várias pessoas que têm contribuições importantes para tratar da situação dos recursos hídricos, da biodiversidade no cerrado, a sua relação com o agronegócio e os vários ângulos que afetam a preservação deste bioma", explica Washington.