Faltam professores de Física e Química

Faltam professores de Física e Química (Jornal Hoje, 10/04/2008)

Liana Aguiar

O professor Sílvio Elias Ferreira, 51, é formado em Engenharia Elétrica e Matemática e por quase dez anos deu aulas de Física. A constante carência de licenciados na área fez com que o Colégio Estadual Pré-Universitário (antigo Colu) deslocasse o docente para ministrar a disciplina. Há cerca de 15 anos a escola não preenche uma das cinco vagas por meio de concurso público. Uma realidade cada vez mais repetida em estabelecimentos de ensino fundamental e médio do Brasil, onde faltam 350 mil professores com formação específica. O dado faz parte do Mapa das Licenciaturas feito recentemente por Dilvo Ristoff, diretor de Educação Básica da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão ligado ao Ministério da Educação (MEC).

O estudo mostra que, nos últimos 25 anos, há menos professores licenciados que a procura nas áreas de Física e Química. A demanda por professores de Física foi de 56.602 e apenas 6.196 licenciados atuam na área, e para Química, 56.602 vagas para 8.166 docentes. Sílvio constata essa carência em seu trabalho. “Formam-se poucos professores de Física. O aluno vê as más condições em que trabalhamos, vê que passamos por dificuldades, fazemos greve, e acaba desestimulado. Não vê perspectiva na carreira docente”, observa. Ele, por exemplo, gosta tanto da área que não descarta a possibilidade de fazer mais uma licenciatura.

Segundo o mapa das licenciaturas, o número de licenciados em área específica que não atuam no magistério da educação básica é 65,9% em Física, e 74,6%, em Química. Mesmo que todos os licenciados nos últimos 25 anos exercessem a profissão de professor do ensino médio nas duas matérias, ainda assim seria impossível atender à demanda hipotética de docentes para estas disciplinas, constata Dilvo, no estudo. Em Física, a demanda hipotética é aproximadamente três vezes superior ao número de licenciados nos últimos 25 anos e em Química, mais de duas vezes.


Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Goiás (Sintego), Domingos Pereira da Silva, em Goiás o problema se repete. Existem professores habilitados, mas diante das péssimas condições de trabalho, do baixo salário, eles acabam optando por outras áreas de atuação ou outros Estados. “Tanto que todos os concursos no Estado não preenchem nem em número de candidatos. Depois, muitos empossados desistem quando tomam conhecimento da realidade”, observa. Para ele, a única forma de mudar essa realidade é de fato o governo ter uma política de valorização dos profissionais da educação.

O diretor do Instituto de Física da Universidade Federal de Goiás (UFG), Carlito Lariucci, considera grave a falta de professores licenciados na área. “Quem não é formado na área e dá aula é um professor limitado, com boa vontade, mas às vezes não consegue estimular o aluno a gostar da disciplina. E o aluno hoje estuda Física apenas o necessário para passar de ano.”



“É preciso discutir a licenciatura”


O superintendente de Ensino Médio da Secretaria Estadual de Educação, Marcos Elias Moreira, estima que somente 70% dos professores em sala de aula são licenciados em Física ou Química. Apesar disso, considera que Goiás está em situação melhor do que a média nacional.

O Estado tem cerca de 2 mil professores nas duas disciplinas. O superintendente observa que ainda é pequeno o número de concluintes das licenciaturas em Física e Química. Para ele, é preciso discutir a própria concepção da licenciatura brasileira. “No geral, não se pensa na formação para o ensino médio. Uma coisa é formar o pesquisador, outra coisa é o professor.”


Outra saída apontada por ele é a valorização do professor. “É uma questão salarial, mas não só isso. É preciso perceber o magistério como uma profissão digna, capaz, de importância na sociedade.” Segundo o superintendente, um concurso público para professores nestas duas áreas está previsto ainda para este ano.