Agrotóxicos estão em 40% de hortaliças
Agrotóxicos estão em 40% de hortaliças (Jornal Hoje, 24/04/2008)
Renato Rodrigues
“Hoje vou pra casa sem comprar alface e tomate, estou assustada”. A frase é da jornalista Rachel Dourado, 23, que fazia compras em um verdurão de Goiânia no final da tarde de ontem. Os dois itens que antes faziam parte das compras semanais na casa da jornalista a partir de agora estão suspeitos do cardápio. A decisão foi motivada após tomar conhecimento dos dados do relatório do Programa Nacional de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para), divulgado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O estudo comprovou que de cada dez pés de alface à venda em feiras e supermercados, pelo menos quatro estão contaminados por resíduos de agrotóxicos. Além disso, cerca de 40% dos exemplares de tomates e dos morangos consumidos pelos brasileiros carregam vestígios irregulares de defensivos.
Entre as 1.198 amostras avaliadas pela Anvisa em 2007, 207 apresentaram resultados insatisfatórios. No total, mais de 17% dos gêneros alimentícios tiveram resíduos de agrotóxicos não autorizados ou acima do limite máximo permitido. Um dos produtos que mais chamaram a atenção dos técnicos que realizaram os testes foi o morango, com índice de 43,6% de contaminação. Em segundo lugar ficou a alface, em que 40% do total inspecionado continha agrotóxico acima do permitido. O Programa Nacional de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos também analisou outros seis itens comuns na mesa dos brasileiros. Foram encontradas quantias significativas de defensivos agrícolas em 4,3% das bananas, em 1,36% das batatas, em 9,9% das cenouras, e em 6% das laranjas pesquisadas. Entre as frutas, o mamão apresentou o maior índice de contaminação, com 17,2% do total avaliado contaminado. As amostras foram colhidas em 16 Estados de todas as regiões brasileiras.
Os agrotóxicos mais encontrados nos alimentos são o endossulfam, o acefato e o metamidofós. Os defensivos podem causar alterações hormonais e complicações tóxicas nos seres humanos. O estudo realizado anualmente pela Anvisa vai incluir nas análises deste ano o abacaxi, o arroz, a cebola, o feijão, a manga, o pimentão, o repolho e a uva.
Segundo o engenheiro agrônomo e professor da Escola de Agronomia da Universidade Federal de Goiás (UFG) Paulo Marçal Fernandes, é quase impossível fiscalizar de forma eficiente os pequenos produtores de frutas e hortaliças que vendem diretamente seus produtos em feiras e pequenas mercearias. Ele é especialista em insetos e pragas e avalia que o governo não prioriza a fiscalização para produtos consumidos internamente no País. “As autoridades de inspeção priorizam a rastreabilidade dos produtos de exportação, como as carnes”, diz. Esse tipo de alimento possui mecanismos de certificação que avaliam periodicamente e param de importar do Brasil quando alguma irregularidade é detectada.
O especialista orienta o consumidor final a cobrar mais efetivamente dos supermercadistas, feirantes e revendedores de alimentos a procedência. Paulo Marçal esclarece que é fundamental que o consumidor exija informações sobre o produto que está comprando e buscar valorizar os alimentos orgânicos certificados.