Alimentos contra o câncer

Alimentos contra o câncer (Diário da Manhã, 25/05/2008)

Vegetais afastam a ameaça de tumores cancerígenos. Mais frutas, verduras e hortaliças no prato reduzem também o espaço para a gordura no organismo. Com isso, menores são os riscos de a pessoa desenvolver câncer. É o que aponta a ciência da nutrição, que investiga a ação anticancerígena de determinados alimentos.

Concorda com os estudos a médica mastologista Deidimar Cássia Batista Abreu, diretora técnica do Sistema de Prevenção da Associação de Combate ao Câncer em Goiás (ACCG). Segundo ela, trabalhos relacionados ao câncer envolvem até 20 anos de estudos, tanto que não é possível ainda mostrar a eficácia de determinados alimentos no combate à doença.

Mas ela não descarta a ação de uma dieta balanceada como inibidora do aparecimento de tumores. Tomate, por exemplo, contém licopeno, substância que ajuda a prevenir a doença. Já a castanha-do-pará contém o selênio, substância que estabiliza as células do organismo. “Mas isso não quer dizer que se eu comer uma castanha por dia não terei câncer”, diz a professora, para quem a prevenção está diretamente relacionada à dieta alimentar, que tem de ser rica e balanceada.

Estudos realizados em universidades americanas concluíram que o consumo diário de selênio resultou em 63% menos tumores de próstata e 58% menos cânceres colo-retais. Houve redução em 46% de processos malignos do pulmão e 39% menos mortes gerais por câncer. Frutas e verduras melhoram sensivelmente o sistema imunológico, contribuindo na redução das chances de aparecimento da doença.

Estudante de Nutrição da Universidade Federal de Goiás (UFG), Maíra Quintanilha desenvolve pesquisa com grupos de pacientes de câncer de mama. O objetivo é estudar casos recém-diagnosticados da doença, cruzando as informações com a dieta alimentar antes e depois do aparecimento do tumor: “Queremos saber até que ponto os hábitos alimentares contribuem para o aparecimento do tumor, mas ainda não temos comprovação sobre os benefícios de determinados alimentos no combate ao câncer.”

Por outro lado, ela destaca alguns dos fatores de risco para o surgimento de tumores, como a ingestão de álcool e excesso de peso. Em mulheres, mais de uma dose de álcool ao dia pode significar séria agravante, quando o assunto é a predisposição ao desenvolvimento da doença.

Em entrevista à revista Saúde, o gastrenterologista Dan Linetzky Waitzberg, professor da Universidade de São Paulo (USP), destaca que vários são os levantamentos estatísticos que apontam que em pessoas habituadas a consumir vegetais são mais raros os casos de câncer.

Estudo da Universidade de Minnesota (Estados Unidos) aponta que o sulforafane, da família dos crucíferos (couves, brócolis e repolhos), é capaz de impedir o avanço do câncer colo-retal em animais de laboratório. Cientistas da Universidade Nacional Chung Hsing, em Taiwan, chegaram a testar o licopeno em animais, nos quais estimularam o aparecimento de um câncer de fígado semelhante ao que ocorre nos seres humanos.

O resultado observado é que o pigmento que dá o tom vermelho ao tomate e a frutas como a goiaba simplesmente barrou a metástase, impedindo que as células malignas se espalhassem pelo corpo. Além do licopeno, o resveratrol da uva e do vinho, tende a ficar no plasma do sangue e nos tecidos do sistema urinário.

Compostos fenólicos, como o allium, presente na cebola e no alho, ficaram no estômago e no intestino, atuando em diferentes etapas do processo que leva o câncer nesses órgãos. Mas não agiriam em outras regiões do organismo. Desse modo, chega-se à conclusão, com base nas pesquisas já realizadas, que pratos coloridos previnem 30% dos casos de câncer, incluídos os tumores de boca, laringe, faringe, estômago e intestino. “Hoje, se tem clareza da importância de comer frutas, verduras, legumes e peixes, limitando ao mesmo tempo as porções de carnes vermelhas, sal e embutidos”, disse, à revista Saúde, Dan Linetzky Waitzberg.