Dia D para a ciência
Dia D para a ciência (Diário da Manhã, 28/05/2008)
Matheus Álvares Ribeiro
O Supremo Tribunal Federal (STF) retoma hoje o julgamento sobre a constitucionalidade das pesquisas com células-tronco embrionárias no Brasil. A sessão está marcada para o início da manhã e deve durar o dia todo. Até o momento, os ministros Carlos Ayres Britto, Ellen Gracie e Celso de Mello já deram parecer favorável às pesquisas. A última sessão sobre o tema ocorreu no início de março e foi suspensa por um pedido de vista do ministro Carlos Alberto Direito.
Em visita a Goiânia, ontem, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, declarou-se a favor das pesquisas e otimista com o julgamento. Minha posição é de otimismo. Eu acho que os pacientes que esperam por um tratamento inovador desejam a aprovação pelo Supremo. Os pesquisadores brasileiros desejam contribuir com o desenvolvimento de novas tecnologias. Os médicos brasileiros precisam de uma esperança no tratamento de seus pacientes e o País inteiro espera esta decisão, afirmou.
Em resposta, um grupo de manifestantes ligados ao Movimento Brasil Sem Aborto fez manifestação ontem, em frente ao STF, contra as pesquisas. À tarde, a Frente Parlamentar em Defesa da Vida Contra o Aborto promoveu uma audiência pública na Câmara dos Deputados pela declaração de inconstitucionalidade. Em contrapartida, o Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero (Anis) entregou aos ministros do Supremo, na segunda-feira, 26, um documento com a legislação de 25 países onde este tipo de pesquisa é autorizada.
A discussão sobre células-tronco não poderia ser menos polêmica. Em todo o mundo, entidades se manifestam contra e a favor das pesquisas com embriões humanos, cada lado tecendo seus argumentos. O fato é que, muito mais do que simplesmente decidir sobre uma questão ética, o parecer dos ministros deverá dar uma posição oficial sobre a pergunta-chave dos argumentos dos setores favoráveis e contrários a este tipo de pesquisa. Em que momento começa a vida humana?
Em relação à utilização de embriões descartados de processos de fertilização in vitro, Fausto Miziara, sociólogo e diretor da Faculdade de Ciências Humanas e Filosofia da Universidade Federal de Goiás, considera a origem da vida como uma questão cultural de grande importância. Ele entende que os avanços da Ciência têm que ser pautados pelos valores da sociedade. Você não está interrompendo uma possível vida porque ela só existiria com uma intervenção humana. Neste caso, o ciclo natural não será interrompido.