HC tem fila de espera para mudança de sexo

HC tem fila de espera para mudança de sexo (O Popular, 09/06/2008)

Cerca de 75 pessoas esperam por cirurgia, que agora passará a ser feita também pelo SUS

Rosane Rodrigues da Cunha

Nos próximos dias, o Ministério da Saúde deve publicar uma portaria incluindo a cirurgia de mudança de sexo no rol de procedimentos do Sistema Único de Saúde (SUS). Com a ampliação do rol, a cirurgia, que desde 1997 vinha sendo custeada pelo sistema público, mas realizada apenas em hospitais universitários, passará a ser feita em outros estabelecimentos credenciados pelo SUS.

A inclusão do procedimento, anunciada na quinta-feira pelo ministro José Gomes Temporão, foi recebida de forma positiva, mas com cautela por pacientes que já se submeteram à operação e por médicos. Membro da equipe do Projeto de Transexualidade do Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Federal de Goiás (UFG), que há oito anos realiza cirurgias do tipo, o ginecologista Aldair Novato Silva teme a banalização do procedimento.

“Os critérios exigidos hoje para a realização da cirurgia não podem ser deixados de lado, pois ela é irreversível e não pode haver arrependimentos”, diz. Entre esses critérios está a exigência de o paciente ser maior de 21 anos e ser acompanhado por, pelo menos dois anos, por uma equipe multidisciplinar.

Segundo o médico, neste período, o paciente precisa passar por avaliações psicológicas e psiquiátricas que vão atestar se realmente há uma incompatibilidade entre seu gênero e seu comportamento sexual, uma distorção em sua identidade sexual. De acordo com Aldair, menos de 20% dos homens e mulheres que procuram o HC em busca da cirurgia continuam dispostos a se submeter ao procedimento após essa avaliação.

“Os que mantêm o desejo de mudar de sexo são encaminhados para a cirurgia”, diz Aldair, acrescentando que 12 homens e quatro mulheres já se submeteram ao procedimento no HC e cerca de 75 aguardam a avaliação. No próximo sábado, mais um paciente será operado.

Entre os pacientes já atendidos pelo Projeto de Transexualidade do HC - o único a realizar esse tipo de cirurgia no Centro-Oeste e um dos seis do País - está a cabo reformada da Aeronáutica Maria Luiza da Silva, de 47 anos. Ela foi submetida à cirurgia para a mudança para o sexo feminino em abril de 2005.

Maria Luiza conta que sempre teve certeza que queria e precisava mudar de sexo. Os diagnósticos de médicos da Aeronáutica e de outros serviços de saúde confirmaram o desejo de Maria Luiza, que afirma se sentir realizada com sua nova identidade sexual. No ano passado, ela ganhou na justiça o direito de alterar seu nome e sexo no registro de nascimento.

“Para tudo ficar perfeito, só falta voltar ao trabalho”, diz Maria Luiza, que ainda luta na justiça pelo regresso às atividades na Aeronáutica. Mas, a satisfação dela com a nova identidade sexual é evidente.