Na contramão do meio ambiente

Na contramão do meio ambiente (Jornal Hoje, 15/06/2008)

Renato Rodrigues

O crescimento da procura por veículos de luxo demonstra que o Brasil, de modo geral, e Goiânia, em particular, caminham na contramão da sustentabilidade. Os “carrões”, movidos a gasolina ou a diesel, consomem mais combustíveis que outros modelos com motores de menor potência e estão cada vez mais presentes nas ruas. Mesmo com tecnologia de ponta, eles colaboram para o aumento na emissão de gases poluentes na atmosfera, que fazem aumentar o efeito estufa. Em algumas concessionárias da capital a procura por modelos importados de luxo cresceu até 60% nos últimos meses.

Para tentar minimizar o impacto que a queima de combustível orgânico causa no meio ambiente, países europeus buscam carros compactos adaptados para reduzir as emissões de gás carbônico. Além de fáceis de estacionar, esses modelos têm motores pequenos, com menos de mil cavalos de potência. Nos Estados Unidos, os índices de gás carbônico no ar também chamam a atenção das autoridades de saúde e de fabricantes. No mês passado, a Ford anunciou que pretende reduzir a produção de veículos utilitários nos EUA e aumentar a produção de carros leves e menos poluentes. A montadora revela que no terceiro trimestre de 2008 produzirá entre 10% e 15% menos que em 2007. Um dos motivos são os altos preços da gasolina que aceleram o desligamento dos consumidores de grandes caminhonetes e utilitários.

O gerente da Renauto Japan, Anco Márcio, revela que a grande maioria dos clientes que procuram a concessionária para comprar um carro novo estão à procura de picapes de luxo, com preço médio acima de R$ 100 mil. Ele diz que o fato de os modelos mais procurados terem motores que consomem mais não interfere nas vendas. Márcio avalia que em geral os compradores querem é conforto e praticidade. “Cerca de 80% dos veículos vendidos têm câmbio automático, que gasta mais que os com câmbio mecânico”, diz. O gerente aponta aumento nas vendas no primeiro semestre em relação ao período do ano passado de 60% somente para a Nissan Frontier a diesel, que é a picape mais procurada. O modelo com câmbio automático custa até R$ 7 mil a mais.

NÚMEROS
Este ano, fábricas como a Audi detectaram aumento de 10% nas vendas dos modelos importados em relação aos cinco primeiros meses de 2007. Para alguns modelos há fila de espera de até seis meses. Modelos como picapes e utilitários de luxo, os SUV (Sport Utility Vehicle) estão entre os mais procurados. Em concessionárias de Goiânia veículos entre R$ 70 mil e R$ 100 mil, como o Toyota Corolla, não são encontrados de pronta-entrega e os compradores esperam até quatro meses o modelo chegar da fábrica.

A estimativa da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) para 2008 é fechar o ano com crescimento de 20% nas vendas de automóveis e comerciais leves. No ano passado essa fatia cresceu 27,80%. A Federação revela que só em maio foram comercializados 417.099 veículos (automóveis, comerciais leves, caminhões, ônibus, motos e implementos rodoviários e outros), contra 444.602 no de abril.


PESQUISADORES PROPÕEM ALTERNATIVAS

O uso do etanol é uma das alternativas mais econômicas que podem colaborar com a redução de gases poluentes na atmosfera. “Uma outra forma mais eficiente que os carros movidos a etanol seriam os carros movidos a hidrogênio, mas a tecnologia para este tipo de energia ainda está em fase de pesquisa”, diz Noely Ribeiro, pesquisadora do Instituto de Estudos Sócio Ambientais (Iesa) da Universidade Federal de Goiás (UFG). Ela ressalta, porém, que a forma como é feita a colheita da cana-de-açúcar preocupa os estudiosos. “A queima da palha para o corte posterior não é ideal, o mais correto seria o uso de colheitadeiras projetadas de forma que a compactação do solo seja mínima”. Outro cuidado é em relação aos recursos hídricos e áreas com remanescentes de vegetação. Noely lembra que o Brasil carece de melhor gerenciamento na área plantada com cana-de-açúcar sobre as áreas de outras culturas.

O engenheiro ambiental Gilmar Gonçalves da Cruz avalia que preocupação com etanol deve ser com a produção e não com a queima da produção, já que a produção implica em monocultura, desmatamentos e transformações no uso do solo. Ele acrescenta que uma alternativa viável para a diminuição dos gases poluentes é uso do biodiesel, que pode substituir o diesel derivado do petróleo. “O biodiesel é muito barato e ecologicamente viável, podendo ser usado como única fonte de abastecimento de motores ou misturado ao diesel em qualquer proporção sem danos aos veículos”. O engenheiro defende que o brasileiro se adapte às novas realidades e que se o sistema de transporte público passe a oferecer segurança, conforto e pontualidade. Dessa forma, quem tem carro poderia deixá-lo somente para passeios nos fins de semana e usar o transporte público para ir ao trabalho.