Uma questão de amor
Uma questão de amor (Diário da Manhã, 24/06/2008)
Lídia Amorim
Diego Caetano tem 18 anos. É pianista. E isso resume e dá sentido à sua existência. “Sem a música, a minha vida nem teria sentido”, afirma. Hoje, ele está no terceiro ano de bacharelado em piano, na Universidade Federal de Goiás. Na época em que passou no vestibular, se tivesse escolhido qualquer outro curso, mesmo com concorrência alta, como Medicina, teria passado. Diego fala nove idiomas, entre eles chinês, japonês e russo. Já ganhou 20 prêmios, entre concursos nacionais e internacionais.
Diego participará em julho, juntamente com outros alunos do Lilian Centro de Música, do International Piano Competition H.R.H. Princess Lalla Me-ryem em Rabat, Marrocos. Em seguida, os jovens irão para a França fazer algumas apresentações. Miriam tem 29 anos e também faz parte do grupo. Ela começou a fazer piano aos 15 anos, parou; voltou aos 21 e não quis largar mais o ofício. A moça, que pertence a uma família que se dedicou ao Direito, abandonou a carreira na advocacia para se dedicar à música. “Como advogada, eu viveria melhor financeiramente. Mas existem caminhos longos e caminhos curtos e não um só caminho. A música é o meu”, diz.
Pianistas bem jovens também estão no grupo. Um deles é César DeLucca, de 9 anos. César divide o tempo entre caratê, queimada, futebol e jogos comuns a crianças dessa idade e o piano. Ele começou a liberar as primeiras notas no instrumento com 3 anos de idade. A mãe, a empresária Aline Gomide, nem imaginava que o filho iria enveredar-se por esses caminhos: “Coloquei-o nas aulas para desenvolver memória, para auxiliar no desenvolvimento”, conta.
Tudo parece muito lindo, mas os caminhos que os artistas têm de percorrer em Goiás são árduos. Lilian Meire Silva, diretora da escola, ressalta que, para fazer a viagem em julho, os alunos estão trabalhando intensamente, promovendo festas e recitais. Hoje, às 19h15, no Teatro Goiânia, será realizado um recital com essa intenção. Mas as dificuldades são muitas: “Alguns já estão pegando roupas emprestadas para a viagem. A escola está ajudando, estamos promovendo eventos. Mas está complicado. Eles organizaram uma festa que só deu R$ 200 de lucro”, desabafa Lilian.
Para a pianista Miriam, o que falta é uma cultura da arte, uma valorização maior, não só em Goiás, mas no Brasil: “As pessoas não valorizam, mas isso é porque não conhecem. Como é possível gostar sem conhecer? O que falta são as pessoas irem aos concertos”, explica. Lilian confirma a teoria de Miriam: “Muitas pessoas não entendem a inteligência e a disciplina que um músico precisa ter. Somos mais valorizados no exterior do que em nossa própria cidade.”
Quem pensa que as dificuldades são apenas na música clássica, se engana. Mesmo Goiânia sendo conhecida como a Seattle brasileira pela força no cenário underground, os músicos que se dedicam ao rock não passam tão bem assim. Diego de Moraes e o Sindicato é uma banda que já existe desde 2007, mas que só ganhou esse nome em 2008. Este ano foi um dos grupos mais aplaudidos do festival Bananada. “A música me faz sentir vivo, mas dinheiro mesmo não dá”, conta Diego.
Para se manter, o músico de 22 anos dá aulas de História, faz caricaturas e o que mais for preciso: “Se tiver um lote para capinar por aí, eu topo. Eu estava exatamente aqui pensando que preciso de um violão novo, que o meu está destruído”, brinca. Ele também participa em duas outras bandas e faz apresentações solo. Somada à dificuldade financeira, Diego cita um outro problema: a falta de espaço para o trabalho autoral. “As pessoas ainda privilegiam muito os covers”, conta.
Recital de alunos do Lilian Centro de Música
Evento: Recital com crianças a partir de 2 anos, adolescentes e adultos do Lilian Centro de Música
Data: Hoje
Horário: 19h15
Local: Teatro Goiânia
Ingresso: R$ 10