Ensaísta, crítica

Ensaísta, crítica (Diário da Manhã, 14/07/2008)

Moema de castro – Minha proposta: crítica literária e escritora

Quando iniciou seu amor pela literatura?

Moema de Castro - Penso que o primeiro impulso veio do ambiente familiar que o favorecia. Desde cedo, convivi com clássicos da literatura infantil como Monteiro Lobato, os irmãos Grimm, Christian Andersen, por exemplo, cujos livros papai e mamãe, ambos escritores, mandavam vir para nós, numa época em que Goiânia ainda carecia de livrarias, autores que enriqueciam nossa imaginação e alimentavam nossas tendências.

Não posso deixar de mencionar a figura de Eurydice Natal e Silva, a vovó paterna, intelectual, que foi a fundadora da primeira Academia de Letras de Goiás, isto em 1904, a primeira mulher a pertencer e a presidir uma Academia de Letras, segundo pesquisadores, infringindo o modelo francês que só aceitava homens.

Ela tinha o louvável hábito - já em Goiânia - de fazer seus chás literários em que se exercitavam música, declamações e teatro e em que artistas e futuros artistas exibiam seus dotes, - como Belkiss Spenzière, (piano), Joaquim Edson e Costinha (violinistas,) Sônia Costa (canto), Narcisa Cordeiro, (declamação), contando, inclusive, com sua própria participação, já que tocava piano e cantava. Além do mais, na sua corujice de avó, exibia "seus talentos mirins", as netas.

O estímulo inicial, como se vê, partiu de casa, interagindo com tendências hereditárias.

Depois, aos nove anos, fui, como interna, para o Colégio Sacré-Coeur de
Jesus, no Rio, onde fiz o admissão e o ginásio. E lá, de maneira intensiva, vi literaturas, sobretudo a francesa, fato que corroborou na minha formação das Letras.



Você foi uma das professoras do Departamento de Letras que trabalharam para a inclusão da Literatura Goiana nas universidades?

Moema de Castro - Na Universidade Federal de Goiás, como pioneira do Instituto de Ciências Humanas e Letras, desde 1962, sempre buscava trabalhar autores goianos com os alunos, havendo participado do primeiro Seminário de Literatura Goiana de nosso departamento, ocasião em que aqui esteve, entre outros, o escritor José Godoy Garcia.

Prova disso é que, para minha tese de doutoramento na USP, escolhi a obra de Bernardo Élis, ainda pouco divulgado no plano nacional. E, segundo ele mesmo, minha pesquisa teria sido positiva para este intento.


Como surgiu seu interesse pela crítica literária?

Moema de Castro - Na USP, tive como orientador de tese o professor Dr.
Rolando Morel Pinto, além do professor Dr. Alfredo Bosi e Dr. Cidmar
Theodoro Paes, estes dois últimos orientadores das monografias. Penso que devo a eles e à seqüência significativa das leituras praticadas, o amadurecimento da visão crítica dos autores estudados. E no Curso de Mestrado do ICHL, de que fui a primeira coordenadora, ministrava minhas aulas sempre trabalhando a visão crítica.



Você é mais professora ou escritora?

Moema de Castro - Penso que sou ambas. Professora por mais tempo
(30 anos de magistério); escritora pelo amadurecimento de meu trato com as Letras, desenvolvendo impulso intuitivo nato. Tanto que no Sacré-Coeur, no último ano do ginásio, tive minha redação, intitulada "Transpondo a barra", inscrita no "livro de ouro" do colégio, o qual recolhia os melhores trabalhos das alunas formandas.



Você tem projetos na área literária para o futuro?

Moema de Castro - Até o final de ano, se Deus quiser, terei dois livros
publicados pelo Cegraf- Editora da Federal-: O Espaço da Crítica III, em
continuidade à série O Espaço da Crítica I (Coleção Hórus da editora da UFG- 1998,) e II (Kelps/ Agepel, 2002), e Celebração - coletânea de estudos e poemas organizados por mim, em homenagem aos quarenta anos de produção poética do escritor Miguel Jorge.

Estou terminando a segunda parte de minha pesquisa sobre o GEN - Grupo de Escritores Novos - em seqüência ao primeiro volume GEN - Um sopro de renovação em Goiás - (primeiro prêmio Nelly Alves de Almeida, ano 2000, pela Kelps).

Entre livros que organizei, gostaria de mencionar Realizações e projetos de Colemar Natal e Silva, no campo da cultura em Goiás editado pela
Federal, em 1992 (484 pp.) e o livreto que publiquei por ocasião do Centenário de nascimento de Colemar, ano passado.

Em 3/4 deste ano, lancei Diálogos plurais (pela R&F), livro que atende aos interesses da pesquisa, do exercício da memória histórica e do entretenimento cultural, uma vez que a segunda parte se constitui, para mim, de novos vôos, ao partir para o terreno da ficção e da poesia.

Assim, pretendo continuar minha proposta de crítica literária e de escritora.



Moema de Castro e Silva Olival é

ocupante da Cadeira nº 4 na AGL