Arte expressa em túmulos

Arte expressa em túmulos (Diário da Manhã, 14/07/2008)

Welliton Carlos, Da editoria Especial

O cemitério pode ser mais do que descanso para os mortos. Os jazigos escondem história, arte e muitos mistérios que devem ser desvendados pela Ciência e apreciados pelo público. De 15 a 18 de julho, Goiânia sedia, no Museu Antropológico da Universidade Federal de Goiás (UFG), o 3º Encontro Nacional da Associação Brasileira de Estudos Cemiteriais.

O evento é a oportunidade para discutir a riqueza que enfeita as sepulturas, suas narrativas e debater o futuro dos cemitérios, cada vez mais utilizados em serviços de turismo. Maria Elizia Borges, doutora em Arte Funerária, uma das organizadoras do encontro, afirma que parcela significativa das pessoas ainda não percebe a importância dos cemitérios, desenvolvendo uma série de tabus quanto a sua utilização e significação. “Quem visita Paris quer conhecer o Père-Lachaise. Isso é bastante comum em outros países”, diz.

Em Goiás, Elizia tem estudado os riscadores de pedra, artesãos que no passado registraram símbolos populares da religião cristã. Ela informa que existem diferenças estilísticas entre os cemitérios. O da cidade de Goiás, por exemplo, é importante por sua caracterização colonial, diferente do estilo moderno do Santana, em Goiânia, característico pela arte déco, clássico e linguagens anteriores.

Em menor escala do que os egípcios, morrer – até meados do século passado – representava sustentar a imortalidade a partir da representação da imagem deixada no túmulo. Daí o desejo em construir edificações repletas de esculturas, placas e símbolos ser algo presente nas sociedades abastadas. “As famílias burguesas goianas do começo do século 20 investiam significativamente nos cemitérios. Eles deveriam ser condizentes com o padrão de vida”, explica.

Os cemitérios estudados por Elizia são secularizados, diferentes dos modernos que se utilizam de um sistema de jardim. “O Cemitério Vale do Cerrado, por exemplo, vai ter crematório, com jardins, em que a pessoa pode visitar ao lado da família. Isso acompanha a modernidade de hoje e é diferente dos cemitérios antigos”, explica.