Debate sobre cotas na UFG ganha as salas de aula
Debate sobre cotas na UFG ganha as salas de aula (O Popular, 03/08/2008)
Representantes de negros e de escolas públicas comemoram mudanças no vestibular
Deire Assis
O anúncio, pela Universidade Federal de Goiás (UFG), de mudanças no seu próximo vestibular, com inscrições a partir do próximo mês, gerou debates nas salas de aula de escolas de ensino médio de Goiânia. Alunos e professores de cursinhos ainda têm dúvidas quanto à íntegra da proposta da instituição. Ouvidos pelo POPULAR, representantes de escolas públicas e do movimento negro disseram ter boas expectativas quando ao Programa UFG Inclui, que reservará 20% de suas vagas a estes grupos.
Coordenador de Ensino Médio da Secretaria Estadual de Educação, o professor Marcos Elias Moreira entende que a política de cotas não pode, jamais, ser pensada como algo permanente. “Ela é criada para equacionar um problema existente. No entanto, seu sucesso está em sua extinção após determinado tempo”, avalia. Segundo o coordenador, além de equacionar o acesso aos grupos beneficiários das cotas, a instituição deve também pensar políticas que garantam a permanência destes alunos em sala.
“Há cursos tradicionalmente elitizados, cujos gastos são inacessíveis a uma parcela considerável da população”, argumenta. “Pela própria característica da UFG, entendo que a instituição criará essas condições”, completa, ressaltando que a análise realizada por outras instituições de ensino superior que instituíram as cotas é de que não há disparidades nos rendimentos de alunos que ingressam pelo sistema universal em relação aos que entram pelo sistema de cotas. “As dificuldades são mesmo de ordem social.”
Mudanças na base
Membro da Associação Pérola Negra, de Goiânia, que atua em defesa dos direitos do negro, Elisandro Onório da Silva, de 35 anos, ele próprio estudante universitário, comemora a instituição das cotas na UFG mas espera muito mais que isso. “A mudança precisa acontecer na base, ou seja, nos ensinos fundamental e médio. Aí sim o negro e o aluno da escola pública terão sua dignidade de fato respeitada”, argumenta. “Enquanto alunos de escolas particulares já retomaram suas aulas e se preparam para o vestibular, os da escola pública voltam das férias e têm de encarar uma greve”, critica Elisandro.
Alunos do 3º ano do ensino médio de um colégio particular, os colegas Bruno Maurício, de 16 anos, e Juliana Andrade, de 17, preparam-se para o vestibular de Medicina. Ontem, o assunto das cotas da UFG dominou o bate-papo entre os alunos. “Já esperávamos por isso, até porque é uma tendência nacional, mas não imaginávamos que já valeria para este próximo vestibular”, comenta Bruno. Na sua avaliação, o sistema de cotas amplia a desigualdade dentro da universidade.
“Não vejo as cotas como método eficiente para resolver o problema da exclusão social. É preciso criar mecanismos para melhor acesso de todos os grupos ao ensino superior já a partir da educação básica”, diz. Para o aluno, o sistema acaba criando dois grupos distintos dentro da universidade. “As cotas forjam a democracia”, avalia a estudante Juliana Andrade.
O professor de Matemática para alunos de ensino médio e de cursinhos preparatórios ao vestibular, Dilermano Arruda, 46, diz que ainda não foi possível se debruçar sobre a novidade. Segundo ele, os alunos se mostraram preocupados e ansiosos. “Todos querem saber mais sobre o assunto”, disse ele.