Reserva de cotas na UFG gera polêmica

Reserva de cotas na UFG gera polêmica (Diário da Manhã, 08/08/2008)

O anúncio de que a Universidade Federal de Goiás (UFG) dedicará 20% de suas vagas para estudantes negros e de escolas públicas reacendeu o debate sobre o sistema de cotas nas instituições de ensino no País. Por um lado, os defensores da medida alegam que a reserva de vagas expandirá o acesso destes jovens ao Ensino Superior. Em contrapartida, os contrários acusam o sistema de antidemocrático e discriminatório.

“O Brasil tem uma dívida histórica, mas quer pagar com a moeda errada”, avalia a professora e ex-reitora da UFG Maria do Rosário Cassimiro. O sistema de cotas, para a professora, é antidemocrático por dar dois pesos e duas medidas ao processo seletivo. Também é discriminatório, porque um aluno reprovado, mesmo tendo nota superior ao de um candidato cotista, é injustiçado.

“Eu acho que o Brasil vai se arrepender em breve”, prevê a professora. O ideal é que fossem dadas condições para que o candidato de escola pública tenha condições de concorrer no mesmo nível daqueles egressos das particulares. Este é o principal argumento dos contrários ao sistema de cotas.

A universidade, segundo eles, deve primar pela qualidade e facilitar o ingresso de candidatos despreparados compromete este objetivo.

Os favoráveis ao sistema, no entanto, garantem que não há temor sobre possíveis quedas de qualidade. Matéria publicada pelo jornal Correio Braziliense, no último domingo, 3, apontou que a primeira turma de cotistas da universidade de Brasília se formou com média superior à de alunos aprovados pelo vestibular tradicional.

O programa implantado pela UFG destina 10% das vagas para alunos de escolas públicas e outros 10% a negros igualmente oriundos destas instituições. O processo de inscrição exige que o candidato se declare afro-descendente, sendo, posteriormente, avaliado por uma comissão, que verificará a procedência da informação. Caso seja aprovado, o novo aluno receberá apoio da universidade de forma a evitar a evasão escolar.

O programa, batizado UFG Inclui, foi aprovado em três instâncias na universidade, sendo que, na última votação, foram 30 votos favoráveis de 33. “Queremos mais alunos de escolas públicas na UFG”, afirma a presidente do Centro de Seleção, Luciana Freire.

Em 2007, os irmãos Alan e Alex Teixeira da Cunha, 19, gêmeos idênticos e negros, viraram notícia após um erro de avaliação da Universidade de Brasília. Os dois se inscreveram para o vestibular pelo sistema de cotas, mas só um, Alan, foi considerado negro. Após briga judicial, a instituição recuou e ambos puderam fazer a prova como cotistas.

Na ocasião nenhum foi aprovado, em decorrência da polêmica, conforme explicou Alan. No vestibular seguinte, no entanto, ambos foram aprovados pelo sistema de cotas. Alan cursa o segundo semestre de Educação Física na UnB e Alex, Ciências de Alimentos na Universidade Federal de Viçosa.

“Eles simplesmente não nos disseram por que aceitaram um e recusaram outro”, lembra Alan. O sistema de cotas foi importante para garantir seu ingresso, embora sua nota fosse suficiente para aprovação.