Marlúcio só tem chances se trocar ataques por propostas

Marlúcio só tem chances se trocar ataques por propostas (Tribuna do Planalto, 09/08/2008)

Anapaula Hoekveld

Em política não há receita. Há regras básicas, discursos e estratégias. Mas uma mesma posição adotada por um candidato ou coligação no período de campanha pode gerar efeitos adversos no eleitorado e provoca diferentes leituras nos estudiosos da política. A Tribuna buscou a análise de várias pessoas que conhecem o processo eleitoral em Aparecida de Goiânia sobre as estratégias de campanha utilizadas pelos postulantes, Maguito Vilela (PMDB) e Marlúcio Pereira (PTB), e constatou que há muitas formas de ler o cenário eleitoral no município, um mês após o início da campanha.

De acordo com as pesquisas de opinião realizadas na cidade até o momento, o ex-senador Maguito Vilela aparece com larga vantagem sobre seu adversário petebista. A última pesquisa Tribuna do Planalto/Rádio 730/Grupom de intenção de voto constatou que a vantagem do peemedebista sobre Marlúcio é de 53 pontos porcentuais. Como manter a vantagem? Não há consenso. Como Marlúcio pode reverter esse quadro? Também há divergências. Uma coisa é certa: apesar da discrepância nos números esta é uma das eleições mais acirradas do Estado.

Sem a propaganda eleitoral na televisão, os dois candidatos têm feito caminhadas em diversos bairros da cidade e estão investindo na aproximação com o eleitorado. Além de andar pelas ruas do município batendo de porta em porta, Maguito e Marlúcio promovem reuniões com segmentos da sociedade organizada. De acordo com as assessorias dos dois postulantes, há eventos que chegam a reunir mais de mil pessoas. Nas caminhadas os candidatos a vereador também costumam acompanhar os prefeitáveis, juntamente com seus cabos eleitorais.

O corpo-a-corpo com o eleitorado é considerado pelos estudiosos consultados pela Tribuna como uma boa estratégia, levando-se em consideração que o município só conta com o programa eleitoral gratuito por meio do rádio, que não tem o mesmo impacto e alcance que a televisão. Na opinião do cientista político Nassri Bittar, as ações em Aparecida devem ser focadas, justamente, nas caminhadas. O jornalista e professor de Comunicação da UFG, Joãomar Carvalho de Brito Neto concorda. Segundo ele, ir de casa em casa é bom "para sentir a dinâmica da campanha e o humor do eleitorado".

O professor de comunicação explica que o fato de não ter televisão torna a campanha mais verdadeira. Sem o palanque eletrônico, o candidato precisa buscar o contato com o eleitor para se tornar conhecido dele e para conquistar a simpatia, e, é claro, seu voto. Para o professor, essa limitação pode trazer benefícios também, já que o eleitorado vai ter a chance de chegar mais perto e "sentir o candidato". Afinal, a televisão tem uma outra aura, é uma outra dimensão.

Já os deputados Chico Abreu e Ozair José têm opiniões divergentes sobre a falta da propaganda eleitoral na televisão: para o primeiro, quem leva vantagem numa campanha sem televisão é que tem uma estrutura melhor, o que, na visão dele beneficiaria Marlúcio. Em contrapartida, Ozair acredita que a falta do palanque eletrônico prejudica ambos os candidatos porque eles têm de se desdobrar muito para percorrer toda a cidade. Apesar disso, o deputado faz questão de dizer que Maguito não tem preguiça de andar e já está acostumado às longas caminhadas, reforça.

Vítima
Teoricamente há uma tentativa de moralizar a campanha em Aparecida. Teoricamente. Na prática, há uma guerra em curso: uma guerra declarada onde as principais armas são os xingamentos e a distribuição de panfletos pelas ruas da cidade. É impressionante como os candidatos bradam a importância de uma campanha de alto nível e há uma constante tentativa de desqualificação do adversário.

Embora não admita, a estratégia de Marlúcio é bater em Maguito. No começo, o peemedebista respondia, mas percebeu que era melhor apanhar e tornar-se vítima. E é justamente isso o que está acontecendo. Com os ataques, panfletos e até gibis, Marlúcio, até agora, está contribuindo para o fortalecimento de seu adversário.

Para os estudiosos da política, atacar o oponente não é uma boa estratégia. O cientista político e professor Itami Campos argumenta que o eleitor não gosta de baixaria e os ataques, de modo geral, não contribuem em nada para o debate político e nem rendem votos ao candidato. "Se o Marlúcio conseguir mostrar que o Maguito não fez nada, é bom pra ele, mas só xingar não resolve", diz.

A opinião do professor, aliás, é consensual. Embora a campanha em Aparecida seja conhecida por disputas acirradas e pela baixaria, essa não é uma boa forma de conduzir os debates até o pleito municipal. Maguito e sua equipe já perceberam isso e estão utilizando os ataques de Marlúcio e do grupo de Aparecida a seu favor.

Durante reuniões e atos de campanha, o ex-senador sempre destaca que está sendo vítima de seu oponente, mas que não vai responder para não baixar o nível da campanha. A posição tem surtido efeito positivo ao postulante, que já chegou a arrancar aplausos da platéia.

Estratégia
Para reverter o quadro a seu favor, o candidato do PTB deve mostrar que tem propostas para o crescimento e desenvolvimento da cidade. A campanha propositiva é, na opinião de todos, o melhor meio de sensibilizar o eleitorado. No caso de Marlúcio, é importante que ele mostre que tem o apoio de grandes lideranças do Estado, como o vice-governador, Ademir Menezes (PR), que é uma das principais lideranças do município, o próprio governador, Alcides Rodrigues (PP) e também do senador Marconi Perillo (PSDB).

"Marlúcio tem de mostrar afinidade com a cidade e evidenciar o trabalho que ele fez em Aparecida ao longo desses anos", argumenta Nassri Bittar. É importante, afirma, que o petebista mostre que há grandes autoridades ao lado dele e que seus programas contam com o apoio dessas autoridades. De acordo com o professor, é fundamental que o candidato mostre à população as propostas e as políticas públicas que tem em mente para o desenvolvimento da cidade.

Aliado de Marlúcio, o deputado Daniel Goulart (PSDB) avalia que além de manter o ritmo de reuniões e caminhadas, o petebista deve manter os candidatos a vereador motivados, porque "eles são decisivos". O parlamentar lembra também que o senador Marconi Perillo terá forte presença na campanha do prefeitável da base do governo estadual.

Foco errado
Enquanto o ex-governador Maguito Vilela mantém um discurso de mudança e de alternância de poder, Marlúcio Pereira ressalta que aprendeu com os erros de seus aliados e tem autonomia para governar. Com base no fraco desempenho do atual prefeito José Macedo (PR) nas pesquisas que avaliam o desempenho dele e de sua administração, os estudiosos da política avaliam que o peemedebista está no caminho certo. Já em relação à posição adotada por Marlúcio, há controvérsias.

Quando se considera a atual administração, é fato que o desgaste é inevitável. Afinal, o petebista é aliado do prefeito e os dois fazem parte do mesmo grupo que governa a cidade há anos. Para o professor Joãomar Carvalho, inclusive, se não fosse o desgaste da atual administração, Marlúcio estaria muito melhor. Apesar disso, pondera, tentar se distanciar de Macedo é um risco porque, com todos os defeitos, "esse é o grupo que o apóia e ele não pode cuspir no prato que comeu. O eleitor não gosta disso".

O professor ressalta que não é possível descolar a imagem de Marlúcio do grupo de Aparecida e, por conseqüência, do atual prefeito. Mas isso não é ruim, afinal, embora mal avaliado, o prefeito tem sua força e os vereadores que estão com ele também. "Discurso de autonomia não é a salvação para Marlúcio", reforça. Segundo Joãomar, a melhor estratégia é tentar lembrar tudo o que o grupo fez pela cidade nos últimos anos, no período em que esteve à frente da prefeitura municipal.

Na opinião do professor Itami, esse discurso também é arriscado, porque se o grupo é consistente e tem força na cidade o distanciamento faz com que o candidato enfraqueça. E, apesar dos desgastes, de fato o grupo é forte em Aparecida. Se não fosse a estrutura desse conjunto, lembra o professor, o distanciamento talvez fosse eficiente, da mesma forma que, se Macedo estivesse bem avaliado tornaria-se um forte aliado.

Para o deputado Daniel Goulart, ao contrário do que ocorre hoje, nos próximos dias a proximidade com José Macedo poderá render bons frutos a Marlúcio. A prefeitura programou o lançamento de diversas obras num curto prazo, o que pode melhorar a imagem do prefeito e ajudar o prefeitável.

Mudança
Depois de tentar rotular o ex-governador Maguito Vilela como um forasteiro, agora o grupo quer fixar nele a imagem de um homem mentiroso e que não se preocupa com Aparecida. O professor Nassri Bittar tem uma explicação para justificar o motivo do discurso não ter surtido efeito. É fato que boa parte da população de Aparecida não é nascida na cidade, porém, na opinião do professor não foi esse o motivo do fracasso desse discurso.
Segundo Nassri, isso mostra que a cidade não está preocupada em ter liderança própria. "Aparecida não tem cidadania", critica. O professor é duro ao dizer que achava que a cidade, por ter vida própria, queria construir sua cidadania, "mas não é o que parece". Marlúcio percebeu que o rótulo não ia funcionar e mudou de estratégia: além de mentiroso, chama Maguito de 'playboyzinho'. Agora, se esse discurso vai pegar ainda não se sabe. O que parece comprovado é que atacar não é bom negócio, como afirma o próprio Nassri e os demais entrevistados pela Tribuna. Sobre os índices das pesquisas, o professor diz que é preciso esperar a poeira baixar e também é necessário ter outros parâmetros, outras pesquisas para comparar os números antes de fazer uma leitura do cenário eleitoral no município. Essa ponderação, aliás, é percebida tanto na postura de Marlúcio quanto de Maguito. A disputa é forte, os números são discrepantes, mas não há clima de 'já ganhou'.

Chico  minimiza desvantagem
"Maguito é um corpo estranho, um oportunista que quer usar a cidade para se reabilitar politicamente". É assim que o deputado Chico Abreu, aliado de primeira hora de Marlúcio Pereira, refere-se ao adversário. A postura do parlamentar reflete o comportamento de todo o grupo que apóia o petebista. Além de desqualificar o ex-governador, o republicano faz questão de dizer que "Marlúcio é o candidato que tem as características do povo de Aparecida".

De acordo com o deputado, a aceitação do prefeitável é boa e as pesquisas não assustam. Pelo contrário, ele se diz muito tranqüilo em relação aos índices de intenção de votos atingidos por Marlúcio. Chico Abreu reforça que a campanha começou há poucos dias, há muito que fazer e a maioria do eleitorado ainda não definiu seu voto. O ritmo de trabalho, afirma ele, é pesado e a população está começando a entrar no clima da disputa eleitoral. "Estamos fazendo reuniões com até mil pessoas nos bairros", diz.

Para Chico Abreu, o favoritismo de Maguito não se dá por um sentimento de mudança da população, mas porque a imagem e o nome do ex-governador já estão massificados em todo o Estado. O parlamentar ressalta que nas últimas cinco eleições o peemedebista disputou, enquanto tem gente que não conhece o Marlúcio em Aparecida, apesar de ele ser deputado estadual e já ter sido secretário, vereador e vice-prefeito.

Sobre esse assunto, o professor Joãomar discorda de Chico Abreu. Na opinião do professor, é mais difícil para o Maguito conseguir força na cidade, justamente porque, como governador, não tinha bases fortes e pontuais, ao contrário de Marlúcio, que tem como base forte o eleitorado de Aparecida.

Justificativa
O deputado comentou também as declarações de independência de Marlúcio e defendeu o petebista. "Quando ele diz que conhece os erros dos outros e se diz independente, ele só quer dizer que ninguém é perfeito", explica. Além de defender o petebista, Chico Abreu promete que Marlúcio vai acertar aonde Ademir Menezes e José Macedo acertaram e também aonde eles erraram.

Chico Abreu argumenta que Marlúcio tem uma melhor estrutura para trabalhar em Aparecida, por conta do apoio do grupo de Aparecida - que é formado pelo vice-governador e pelo próprio Chico Abreu e pelos deputados Sandro Mabel e Valdir Bastos. Essa estrutura, segundo ele, dá uma segurança a Marlúcio e gera a confiança da população.
Além de reforçar a união do grupo em prol da candidatura do petebista, Abreu dispara contra Maguito: "hoje ele está sozinho. Os deputados do PMDB estão todos trabalhando em outras cidades".

A falta de comunicação derrubou José Macedo, justifica Chico Abreu. Ironicamente, o parlamentar afirma que o prefeito não soube mostrar à população o trabalho que desenvolveu em Aparecida, ao contrário do que ocorreu em Goiânia, com o prefeito Iris Rezende. "Iris coloca na televisão até que ele pintou meio-fio e limpou boca de lobo", debocha. Segundo ele, Macedo não mostrou o que fez, mas Marlúcio não vai cometer o mesmo erro.

Sobre os ataques a Maguito, o deputado diz apenas que contra o ex-governador há argumentos demais, até porque "ele não tem nada de positivo para a cidade". De acordo com o deputado federal, os ataques ao peemedebista não são gratuitos, mas ocorrem porque ele nunca teve compromisso com a cidade e isso vai fazer com que Marlúcio reverta o quadro e se torne o sucessor de Macedo em Aparecida. (Anapaula Hoekveld)

Ozair diz que população desejava mudança já em 2004
"Vamos continuar trabalhando como se nas pesquisas nós estivéssemos empatados, no zero a zero", diz o coordenador-geral da campanha do ex-governador Maguito Vilela a Prefeitura de Aparecida de Goiânia, deputado Ozair José (PP). Apesar do desempenho favorável nas pesquisas de intenção de voto, há uma preocupação em continuar o ritmo forte de trabalho para manter os bons índices. Após perder eleições em que era favorito, Maguito demonstra preocupação em manter o ritmo da campanha.

Ozair José explica que a principal proposta do peemedebista é provocar uma revolução na infra-estrutura de Aparecida, proposta semelhante à de Marlúcio. Outra prioridade, que depende de várias outras ações, é melhorar o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da cidade. Além disso, é meta integrar Aparecida à região metropolitana de Goiânia. Ao menos as campanhas já estão casadas.

Aliás, as ações conjuntas começam no próximo dia 15, com um comício na Vila Brasília com a participação de Iris e Maguito. Este será o primeiro de uma série de eventos promovidos pelos peemedebistas em regiões limítrofes dos municípios. "Casar as campanhas é fundamental porque Iris é exemplo por ter feito promessa de asfalto e cumprido. Não se faz um projeto sem olhar a região metropolitana", justifica Ozair.
De acordo com Ozair, a chapa de oposição, encabeçada por Maguito está montando um plano de governo com base nos anseios dos candidatos a vereadores aliados e dos eleitores da cidade. A grande aposta da oposição é na experiência do ex-governador e no acesso que ele tem no governo federal, embora o PT esteja oficialmente com Marlúcio.
Para Ozair, está claro que a população de Aparecida quer mudança e, por isso, Maguito tem grandes chances de vencer. "Desde 2004 ficou evidente que a população queria mudança. Eu perdi por força da máquina e de mentiras", dispara.

Além de defender o peemedebista, Ozair faz críticas ao grupo de Aparecida. Segundo ele, Marlúcio está tentando desvincular sua imagem do grupo, mas isso é impossível. Não adianta dizer que é independente agora, afirma o pepista. Para completar, o coordenador diz que o desgaste de Macedo e do grupo só tendem a beneficiar Maguito.

Apesar das críticas, Ozair diz que a estratégia é continuar trabalhando cada vez mais e buscando a aproximação com o eleitor de Aparecida. "Vamos continuar fazendo as caminhadas e reuniões. Vamos mostrar que o Maguito quer mudar a forma de administrar Aparecida. O grupo tem uma forma arcaica de fazer política", completa.

Secretário de governo da prefeitura de Goiânia, Thiago Peixoto é um dos maiores críticos do grupo de Aparecida e foi um dos principais articuladores da candidatura de Maguito no município. Assim como Ozair, ele acredita que o PMDB está no caminho certo e, para manter o favoritismo deve agir com humildade e fazer um "trabalho de formiguinha", indo de casa em casa e visitando a população. (Anapaula Hoekveld)