Goiás livre de micobactéria

Goiás livre de micobactéria (Diário da Manhã, 12/08/2008)

Uma nota técnica publicada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) na última sexta-feira, 8, que afirma que o País vive uma “emergência epidemiológica” causada por uma bactéria presente em equipamentos de cirurgia, chamada micobactéria, não preocupa a Superintendência de Vigilância Sanitária e Ambiental de Goiás. De acordo com o órgão, ligado à Secretaria de Estado da Saúde (SES), em 2008, nenhum caso de infecção foi detectado. Neste ano, a Anvisa notificou 25 incidências ocorridas em Goiás que, posteriormente, não foram confirmadas.

O alarme da Anvisa veio após uma investigação conduzida em parceria com o Ministério da Saúde e as superintendências de vigilância sanitária dos Estados e municípos. A agência observou a notificação de 2102 casos de infecções entre 2003 e abril deste ano, relacionados às falhas nos processos de limpeza, desinfecção e esterilização de produtos médicos.

Em Goiás, foram 230 incidências no período. No ano passado, foram 22 infecções pela micobactéria detectadas em pacientes que realizaram procedimentos cirúrgicos laparoscópicos (videocirurgia) no Estado. “Os testes de monitoramento de qualidade não eram feitos de maneira satisfatória pelas Comissões de Controle de Infecção Hospitalar, que cada estabelecimento médico é obrigado a instituir”, afirma a diretora da Vigilância Sanitária de Goiânia, Mirtes Barros Bezerra.

Na maioria dos serviços de saúde investigados, os instrumentos cirúrgicos eram submetidos somente à desinfecção, e não à esterilização. “Os cuidados de limpeza devem obedecer a critérios rígidos e demandam tempo. Muitas vezes, o procedimento era feito pela metade para que outra cirurgia pudesse ser feita.”

A Vigilância Sanitária passou a cobrar melhor atuação das comissões. O resultado foi a autuação de dois hospitais particulares de Goiânia ano passado e nenhum caso de infecção pela micobactéria confirmado em 2008. Outra ação foi o suporte técnico dado aos funcionários de hospitais que cuidam da limpeza e higienização dos equipamentos médicos.

No documento, a Anvisa informa que está elaborando um diagnóstico atual dos processos de trabalho dos Centros de Materiais e Esterilização e Blocos Cirúrgicos dos hospitais que tiveram casos notificados no País. Acrescenta que irá solicitar aos fabricantes de esterilizantes e desinfetantes hospitalares laudos que comprovem a eficácia e segurança do saneante.

Como medida cautelar, a agência sugeriu que os hospitais deixem de usar um dos produtos mais empregados na esterilização de equipamentos, o Glutaraldeído a 2%, com a alegação de que as micobactérias adquiriram resistência ao produto. Segundo André Kipnis, do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP) da Universidade Federal de Goiás, é preciso ter cuidado ao afirmar que as micobactérias resistem ao esterilizante. O professor acompanha casos desse tipo de infecção desde 2006, rastreando o modo como o agente epidemiológico entra nos hospitais, quais as fontes de infecção e suas vias de transmissão.

Segundo o presidente do Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego), Salomão Rodrigues Filho, essas medidas tem sido cumpridas pelos médicos goianos desde os problemas ocorridos no ano passado. “É uma situação superada em Goiás”, garante o presidente.