Escolas indígenas sofrem com deficiências
Escolas indígenas sofrem com deficiências (Jornal Hoje, 24/08/2008)
Liana Aguiar
A falta de material didático e de professores qualificados é um dos maiores desafios para as escolas indígenas. Estes dois fatores motivaram a Universidade Federal de Goiás (UFG) a concorrer ao financiamento do Ministério da Educação (MEC). O Programa de Apoio à Formação Superior e Licenciaturas Indígenas (Prolind) 2008 recebeu propostas de 16 universidades públicas. A licenciatura da UFG foi criada em 2007 e disputa com outras sete instituições a verba anual de R$ 480 mil.
Maria do Socorro Pimentel da Silva, coordenadora da Licenciatura Intercultural de Formação de Professores Indígenas, conta que a UFG tem 94 alunos de diversas etnias – karajá, javaer, xerente, apinajé, kraho, gavião, tapuiu e guarani –, todos da região Araguaia–Tocantins. A previsão é de que o próximo vestibular abra mais 40 vagas.
A proposta pedagógica da licenciatura é abordar a relação entre conhecimentos não-indígenas e as diferentes culturas, baseada em uma educação bilíngüe. Cada grupo estuda o próprio idioma e o português. Divididas por temas, não por disciplinas, as aulas são ministradas de janeiro a fevereiro e de junho a agosto.
A coordenadora explica que o financiamento do MEC ajudaria na aquisição e produção de material didático bilíngüe, seria investido nas etapas das aulas nas aldeias, onde os professores fazem pesquisa, e nos encontros realizados nas microrregiões.
O índio Sinvaldo Oliveira, 46, Wahuka na cultura karajá, cresceu na Ilha do Bananal e foi educado segundo os costumes de sua tribo. Tinha 10 anos quando o pai o levou para estudar na cidade para que aprendesse a língua portuguesa. Hoje ele pertence à aldeia Buridina, em Aruanã (GO), e critica a falta de professor qualificado, principalmente para o ensino médio indígena.
Sinvaldo decidiu fazer o magistério. “Minha obrigação era ser professor, estava vendo as crianças crescerem sem conhecer a língua”, recorda ele, que fez graduação em História, no Mato Grosso, e hoje cursa licenciatura intercultural indígena na UFG.
A intenção do docente com a licenciatura é preservar a própria cultura e divulgar a importância das escolas indígenas.