Cirurgias excluem as mulheres transexuais

Cirurgias excluem as mulheres transexuais (Jornal Hoje, 24/08/2008)

Renato Rodrigues

As regras que regulamentam os procedimentos para a mudança de sexo por meio do Sistema Único de Saúde foram publicadas há menos de uma semana no Diário Oficial da União e já estão valendo. No primeiro momento, apenas os pacientes que desejam mudar do sexo masculino para o feminino serão contemplados pelo tratamento gratuito. O procedimento que altera o sexo feminino para o masculino ainda é realizado em caráter experimental e por isso não será custeado pelo governo federal. Pacientes transexuais que desejam passar do sexo feminino para o masculino são minoria e apesar de ficarem excluídos da gratuidade no tratamento e cobram do governo que cirurgias que fazem parte do tratamento, já não mais realizadas em caráter experimental, passem a ser oferecidas gratuitamente.

Alexandre Santos, o “Xande”, 36, é homem transexual e presidente da Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo e faz parte do grupo de pacientes que aguardam a oportunidade de mudar de sexo feminino para o masculino. Xande diz que procedimentos como a mastectomia e a pan-histerectomia, importantes no processo de mudança de sexo, já são realizadas há muito tempo pela medicina, mas infelizmente essas cirurgias estão no “pacote” do governo. “Para mim como homem transexual essas cirurgias são de grande importância, mais que a faloplastia ou a metoidioplastia”, completa.

Ele afirma que não é plausível o Sistema Único de Saúde não prever a cobertura de procedimentos que já não são mais realizadas em caráter experimental. “Nós queremos uma cirurgia que seja funcional, mais que fazer uma cirurgia de mudanca de sexo, temos que ter garantido as outras cirurgias que fazem parte desse processo transexualizador”, explica. Xande apóia a iniciativa do Ministério da Saúde em restringir a cirurgia por se tratar de procedimento de alta complexidade médica. “Acredito que a medida tomada pelo ministro foi correta, pois ainda tem que se pesquisar muito antes de colocar pessoas em risco”, avalia.

O Ministério da Saúde definiu que somente hospitais públicos estarão autorizados a realizar a cirurgia em todo o País. Em Goiás, apenas o Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Federal de Goiás (UFG), que já realiza o procedimento em caráter científico desde 2001, receberá os recursos para oferecer gratuitamente a cirurgia. A direção do HC afirma que a unidade está preparada para receber os interessados sem nenhum prejuízo para os demais atendimentos oferecidos pelo hospital. Até o momento todas as 27 cirurgias de mudança de sexo já realizadas no HC foram custeadas por instituições de fomento à pesquisa.

A coordenadora do Projeto Transexualismo do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC/UFG), ginecologista e psicóloga Mariluza Terra Silveira, avalia que do ponto de vista científico as evoluções no tratamento de pacientes que desejam mudar de sexo são significativas, porém uma antiga barreira ainda existe: o preconceito. “O principal desafio deste grupo de pessoas é o convívio em sociedade, é enfrentar o preconceito”, completa. A médica diz que é fundamental um acompanhamento psicológico constante.