Um homem de letras
Um homem de letras (Diário da Manhã, 25/08/2008)
Nomeado secretário de Estado da Educação, recebendo o cargo das mãos do professor Rubens Carneiro dos Santos, meu ilustre amigo e eminente pedagogo, logo quis me cercar de auxiliares donos de exemplares currículos. Ao meu lado, com a sua prodigiosa arte de bem saber conduzir as questões da área, tive a felicidade de contar com a valiosa colaboração da professora Maria do Rosário Cassimiro, que foi mais tarde Magnífica Reitora da Universidade Federal de Goiás e fundadora da que hoje presta relevantes serviços no Tocantins.
Apresentado pelo então deputado Gustavo Balduino, conheci o jovem Emílio Vieira, vindo da cidade de Posse e iniciante da vida cultural de Goiás. Convidei-o, à luz das informações que obtive, para dirigir o Instituto do Livro, função no exercício da qual marcou um extraordinário desempenho. Ele se graduou depois nas áreas do Direito, Letras e Artes, fez mestrado em Teoria da Literatura e se especializou em História da Arte, Língua e Cultura Italiana pela Universidade Italiana per Stranieri di Perugia. Hoje, é professor titular da UFG e membro de várias instituições culturais, assim como de associações de classe, vinculadas ao mundo acadêmico.
Tem Emílio Vieira participação em livros e antologias, na produção de textos críticos, prefácios e traduções, além de publicações avulsas de ensaios e artigos em revistas especializadas e suplementos literários. Assinala-se na sua extensa biografia o fato de militar também nos campos do Direito, da Filosofia, da Sociologia e das Artes Visuais. Faz ainda companhia a Bariani Ortencio na Comissão Goiana de Folclore, situando-se como um pesquisador da cultura popular sobretudo no leste de nosso território.
Em 1966, surgiu Emílio Vieira como poeta publicando o Ponto Lua, uma coletânea de poemas muito bem acolhida pela crítica. Expandiu-se na arte poética dando a lume o Paráfrase do Tempo (1987), aparecendo depois o Poemas da Revisitação (2000), e Possepoesia (2005), dois livros que o destacam em nosso panorama cultural como uma das mais expressivas vozes. Sua poesia se aproxima muito do concretismo que teve em Goiás como pioneiro o saudoso Jesus Boquady, personagem histórico que atuou aqui na imprensa e deixou marcada a sua frisante presença.
Além do mais, Emílio Vieira salienta-se com uma colaboração bastante significante para o processo de desenvolvimento cultural do Estado e a sua obra é um convite e ao mesmo tempo um testemunho do que se pode fazer na cultura popular, graças ao seu esforço, ao talento e à própria identificação com a alma da gente brasileira, tão carente de compreensão e amor. É Atico Vilas Boas da Mota quem se pronuncia com entusiasmo sobre o Na Roda do Berimbau, saído em 1973 sob a assinatura do amoroso filho de Posse, terra natal também do bispo dom Tomás Balduíno, dominicano de alta projeção no episcopado latino-americano.
Falar a respeito de Emílio Vieira é mostrar à evidência o seu valor em nosso universo literário. Poeta, jurista, professor universitário, tradutor de vários autores italianos, lingüista e, sobretudo, goiano consagrado à exaltação das virtudes e dos feitos heróicos de nosso povo, ele é um legítimo representante da geração que tem Gilberto Mendonça Teles como principal figura. Geração da qual fazem parte Heleno Godoy, Miguel Jorge, Lêda Selma, Luiz de Aquino, Coelho Vaz, Isa Costa, todos criaturas de luz própria e de larga visão das dores e angústias contemporâneas, expressivos nomes da inteligência goiana atuando com firmeza no mundo da cultura. Como Manuel Bandeira dirigindo-se a Carlos Drummond de Andrade, também louvo Emílio Vieira, o homem, o amigo, lúcido e limpo, diverso e múltiplo, o poeta e o cantor purista do lado parnaso de nossa poesia.
José Luiz Bittencourt
é membro da Academia Goiana de Letras, foi vice-governador de Goiás e escreve às segundas-feiras neste espaço. bitt85@gmail.com