Currículo em Goiás não é voltado à esquerdização
“Currículo em Goiás não é voltado à esquerdização” (Diário da Manhã, 25/08/2008)
É impossível classificar como esquerdista a educação goiana. Mas a teoria de pensadores de esquerda ainda tem influência e está presente nos currículos escolares. A afirmação é da socióloga Angela Cristina Belém Mascarenhas, da Universidade Federal de Goiás (UFG). “Faltam utopias e hoje observamos que há quase uma indistinção entre pensamentos de esquerda e de direita”, comenta.
No mesmo tom, ela questiona o que seria de fato a esquerda e o processo de esquerdização da educação. Em momentos da história política nacional, como quando o Brasil enfrentou a ditadura militar (1964-1985), o pensamento de esquerda foi mais acentuado. “Hoje, está amenizado”, lamenta a educadora. A partir de fatos observados em contexto mundial, como a queda do Muro de Berlim, houve o refluir das experiências denominadas de esquerda. “Hoje, a dicotomia esquerda e direita está apagada.”
Ela lembra que, durante o regime militar no Brasil, o embate entre as duas posições ideológicas foi mais claro e pujante. Os militantes professavam clara postura anticapitalista. Angela observa também que a educação atual não está isolada e, em razão disso, ainda é possível perceber o pensamento marxista presente nos currículos escolares goianos. No Brasil, o movimento de esquerda teve o ápice até a década de 1980.
A professora reflete que, atualmente, existe a influência marxista nos currículos, mas não prevalece o movimento de esquerda. “Não existe esquerda hoje no Brasil”, critica. Para em seguida dizer que a sociedade atual vive a carência de utopias. A escola deve apresentar ao educando todas as teorias, as várias concepções e deixar que o estudante, informado, decida autonomamente.
Mesma opinião tem o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Educação em Goiás (Sintego), Domingos Pereira da Silva (foto). Defende a formaçaõ continuada, tanto de estudantes quanto de professores, e diz que o currículo em Goiás não é ultrapassado. Em outro momento, sentencia que é preciso discutir os pensadores e as teorias de esquerda em sala de aula, tendo em vista o subsídio crítico propiciado ao contexto educacional do século 21.
Professora Maria Eliane Rosa de Souza (foto), do departamento de Filosofia e Teologia da Universidade Católica de Goiás (UCG), lembra que é exagero dizer que está em curso o processo de esquerdização da educação brasileira. Em termos políticos, o mundo contemporâneo rejeita o argumento. “O pensamento não é esquerdista há muito tempo”, reflete a educadora. Durante o regime ditatorial, havia estímulo ao pensamento de esquerda, hoje observado apenas em “guetos”, como em partidos de esquerda. “Não temos estudo (esquerdista) direcionado de maneira nenhuma”, salienta Maria Eliane.