Pesquisa revela a aprovação do ensino oferecido por instituições

 

Pesquisa revela a aprovação do ensino oferecido por instituições (Diário da Manhã, 25/08/2008)

A pesquisa revela que pais, professores e alunos aprovam o ensino básico oferecido pelas escolas brasileiras. As instituições particulares são avaliadas como ótimas ou boas por 93%, as públicas, por 66,3%, e 90% dos docentes se consideram adequadamente preparados para dar aulas. As informações preocupam especialistas devido aos desempenhos abaixo da média mundial nas avaliações internacionais. O Brasil está em 52º lugar em Ciências e 53º em Matemática em uma lista de 57 países, de acordo com dados do Ministério da Educação (MEC).

Somente no ensino fundamental, o déficit de professores chega a 250 mil. Pelo número, pode-se deduzir que as salas de aula estão cheias ou que muitos jovens estão fora da escola. As duas alternativas estão certas, revela a presidente do Conselho Nacional de Educação, professora Clélia Brandão, ao mostrar que 30% dos estudantes não concluem o processo de educação básica.

O estudo do CNT/Sensus mostra que, para a audiência pesquisada, 82% das escolas particulares preparam adequadamente para o futuro, e 60% pensam o mesmo sobre as públicas. Os critérios de avaliação adotados por pais e alunos não são os mesmos dos especialistas. Mas a aprovação expressiva impressiona diante de um quadro evidente de carências.

Na opinião do senador e ex-reitor da Universidade de Brasília (UnB) Cristovam Buarque, reverter o quadro é um desafio para o desenvolvimento do País. “É uma questão estratégica, e as dificuldades precisam ser enfrentadas. Temos um faz de conta no Brasil, nossos estudantes tem pseudo-aulas.”

PERFIL

O perfil traçado pela pesquisa CNT/Census não credencia professores de ensino médio e cursinhos a realizar uma prática corriqueira: tentar adivinhar quais questões cairão no vestibular. Segundo o instituto, 80% dos docentes de ensino médio brasileiros são profissionais engajados que fazem discursos de esquerda em salas de aula, assim como livros e apostilas destinados a esse público. Essa realidade choca com os conteúdos programáticos cobrados nos processos seletivos das universidades Federal de Goiás(UFG), Católica de Goiás (UCG) e de Brasília (UnB).

No último vestibular da UFG, ano passado, somente em um exercício poderia-se discutir o afastamento ideológico do processo seletivo. Foi na prova de Geografia da primeira fase, exercício de número 53. Na questão, assinalar “políticas de cotas” era a alternativa correta para justificar a proposição, que apresentava “uma das discussões políticas que se destaca atualmente, pelo seu caráter inovador e por afetar valores conservadores”.

O tema proposto no enunciado é controverso e há quem o veja com restrições, como o juiz Ari Ferreira de Queiroz, da 3ª Vara da Fazenda Pública Estadual. É comum estudantes ganharem na Justiça o direito de efetuar matrículas ao recorrer contra editais que estabelecem reservas de vagas a vestibulandos negros e oriundos de escola pública. Mas para pontuar na UFG, era preciso partir do princípio que a política de cotas é inovadora, o que não é consenso. “Este modelo não é brasileiro e se aplica aos Estados Unidos, onde há forte segregação. No Brasil, o problema é econômico e social”, diz.

A presidente do Centro de Seleção da UFG, Luciana Freire, explica que o assunto está em pauta e é discutido nas salas de aula. “A pergunta era sobre o porquê da política de cotas não cobrar concordância com ela. A análise do conhecimento não é enviesada”, defende.

Nem poderia ser. De acordo com o filósofo Thiago Pinheiro Oliveira, essas questões são cada vez mais discutidas e recriminadas. “Esse aparente ideologismo não é a vertente principal nos vestibulares”, sentencia.