Padre Vaz e a juventude
Padre Vaz e a juventude (Diário da Manhã, 08/09/2008)
A organização da Societas Jesu, resultante da reunião de sete homens, e a formulação dos seus famosos princípios pragmáticos, um deles, ser tudo para todos os homens, foram os potentes fatores que determinaram o curso da história do mundo. No começo do século XVI, entre todas as confrarias espirituais, somente os franciscanos, os dominicanos, os agostinianos e os teatinos mantinham certo contato com as massas populares, pois somente elas falavam e pregavam para os homens e as mulheres comuns. Uma direção planejada do povo, em termos ideais e verdadeiramente cristãos, só começou quando Inácio de Loyola, o homem da boa vontade, juntamente com os seus bem disciplinados seguidores, cujo número ia aumentando de dia para dia, decidiu influenciar as massas por meio de sermões e propaganda espiritual.
A Ordem dos Jesuítas de Inácio foi a primeira organização realmente moderna que teve as suas constituições repousando sobre cinco breves estatutos. Foi confirmada pelo papa Paulo III em setembro de 1540 e passou a influir, quanto à história do progresso cultural, dirigindo a primeira campanha educacional planejada em solo americano, quando seus professores passaram a ensinar os moradores de Nova Iorque, em Georgetown, na Pensylvania, Delaware, Arizona e Califórnia, assim como no novo e no velho México. Um dos mais universais inventores de todos os tempos é o jesuíta padre Atanásio, cujo nome está ligado a acontecimentos tão variados como a introdução do ruibarbo e da baunilha na Europa, a invenção da lanterna mágica e da buzina, além da redescoberta do espelho incendiário de Arquimedes. Também ele lançou os fundamentos de uma investigação científica do hipnotismo, formou um alfabeto para os surdos-mudos e foi um dos primeiros e estudar os hieróglifos egípcios.
O padre Jesuíta Bartolomeu Lourenço de Gusmão, brasileiro, precedeu os irmãos Montgolfier no levar a efeito a primeira ascensão num balão, e o padre Francisco Lana Terzi, outro jesuíta, inventou uma semeadeira e criou um método de instrução para os cegos. O poeta Novalis disse a respeito da Sociedade de Jesus que “a história do mundo não conhece outra organização igual” e ela é a herança viva de um homem, seu fundador, Inácio de Loyola. Foi ele quem deu à Companhia de Jesus a arma da vontade disciplinada e a estratégia da conquista mundial que até agora tem-na conduzido de êxito em êxito. Em reconhecimento a seus serviços, a Igreja o canonizou no ano de 1622 e, com ele, as fileiras dos santos piedosos, devotados, extáticos e inspirados, de todos os homens e mulheres escolhidos por um pecador, viram-se acrescidas por um “santo da vontade” por quem achou o caminho para Deus, porque sua vontade era procurar por Deus, por alguém que foi coroado pelo halo da santidade, porque lutou por ela com todas as suas forças.
O perfil de Inácio de Loyola está situado entre os “santos que abalaram o mundo”, desenhado física e espiritualmente por René Fulôp-Miller, ao lado de Antão, Agostinho, Francisco e Teresa de Jesus. Um jesuíta de fibra e coragem cívica, que conheci nos anos 70, quando fui vice-governador do Estado, é José Carlos de Lima Vaz, ouro-pretano de Minas Gerais recentemente falecido. Reitor da Universidade Católica de Goiás e vice-reitor da PUC do Rio de Janeiro, padre Vaz se viu sagrado bispo-auxiliar do cardeal Eugênio Sales, titular da Arquidiocese do antigo Distrito Federal e, posteriormente, designado para a Diocese de Petrópolis.
Amigo que fui do padre Vaz, lamentei profundamente a sua morte e estou registrando, com o que relatei acima, sobre Inácio de Loyola, o meu pesar. Seis anos mais moço do que eu, esse religioso de boa vontade muito ensinou durante a sua prodigiosa e fecunda vida, semeando a palavra do Evangelho e afirmando sempre a sua inabalável vocação de Jesuíta, atuando principalmente na educação cristã da juventude brasileira. A Igreja reconheceu o bom exercício de sua missão na Societas Jesu, pontificado na sagrada tarefa do seu ofício religioso. Que Deus o recompense na mansão celestial pelo seu exemplaríssimo episcopado.
José Luiz Bittencourt
é membro da Academia Goiana de Letras, foi vice-governador de Goiás e escreve às segundas-feiras neste espaço.
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