Médicos atuam sem especialização
Médicos atuam sem especialização (Diário da Manhã, 15/09/2008)
Wanda Oliveira
Da editoria de Cidades
Dos 340 médicos que realizam procedimentos em cirurgias plásticas em Goiânia, cerca de 200 não têm especialização. São médicos de outras especialidades que atuam na área sem a devida formação. Cada profissional, que deveria se submeter no mínimo a cinco anos de curso, hoje o faz em finais de semana ou uma vez por mês. A conduta direcionada para os procedimentos de estética e reparação não é ilegal, mas pode colocar em risco a vida do paciente.
Existem atualmente 160 especialistas cadastrados na Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Regional de Goiás (SBCP-GO). Destes, 140 somente na Capital. O Brasil conta com um quadro de 4,2 mil profissionais. O Conselho Federal de Medicina (CFM) intitula que só pode ser considerado cirurgião plástico aquele que, além dos seis anos de Medicina, fez dois de residência em cirurgia geral e três em cirurgia plástica.
A qualificação não pára por aí. O candidato deve ser ainda aprovado em uma avaliação da SBCP para obter o título de especialista. Goiás conta hoje com 8,5 mil médicos. O que preocupa os representantes das sociedades da área é a qualidade de quem maneja o bisturi. A técnica exige conhecimento, qualificação e cuidados para evitar danos e seqüelas ao paciente. Na prática, toda atenção é pouca, porque as técnicas que deveriam embelezar estão mutilando.
Segundo o presidente da SBCP-GO, Roberto Kaluf, o aumento de médicos que realizam cirurgia plástica sem a devida especialização está vulgarizando a especialidade no País. “Em Goiânia, cerca de 200 profissionais não têm especialização. Não há como aprender cirurgia plástica em um curso de final de semana.” Ele explica que, no caso da lipoaspiração, o CFM determina que o profissional precisa ser treinado e ter, no mínimo, dois anos de habilitação em cirurgia geral. “Já a Constituição Federal permite que qualquer médico realize cirurgia plástica, desde que não divulgue como propaganda.”
Segundo Kaluf, diante deste mercado da beleza, a procura por especialistas capazes de atender às pretensões do paciente é enorme. Conseqüentemente, surgem profissionais desqualificados e sem cursos de especialização. “São médicos que estão levantando pálpebras caídas, reconstituindo mamas e realizando rinoplastia e lipoaspiração sem a devida formação.”
Em média, 300 cirurgiões plásticos se formam a cada ano no Brasil. Kaluf considera um número bom, mas acima da prática nos Estados Unidos, que têm o dobro da população brasileira e onde formam 250 profissionais. Em Goiás, em média, seis a oito médicos especializados entram por ano no mercado. Só na Capital, quatro são formados por ano na área.
Para o médico, a cirurgia plástica tornou-se uma especialidade acessível para todas as classes sociais em conseqüência da ascensão desses profissionais no mercado. Os preços também contribuem para a procura nas clínicas de plástica, porém o CFM editou uma resolução que proíbe a médicos se associarem a intermediadoras que parcelam os pagamentos de cirurgias, sob pena de advertência confidencial ou até cassação do registro profissional.
Hoje, lipoaspiração e prótese de mama são os procedimentos mais procurados no Estado. No Distrito Federal, pelo menos 50 profissionais estão em atividade em Brasília, e nas cidades do Entorno, sem conhecimento adequado para realizar este tipo de cirurgia, conforme matéria publicada pelo Correio Braziliense. No Distrito Federal, são 140 médicos filiados à SBCP.
O Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego) informa que são registrados no Cremego 128 cirurgiões plásticos. As denúncias contra cirurgiões tramitam em sigilo.
Público
Atualmente, existem no Estado três serviços de residência médica com formação durante três anos. Hospital Geral de Goiânia (HGG), Santa Casa e Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC-UFG) são credenciados pelo Ministério da Educação e SBCP para este fim. Roberto Kaluf diz que 85% dos procedimentos são de cirurgias reparadoras.
Caron
O caso mais dramático no mercado da plástica é o do ex-médico Denísio Marcelo Caron. Ele é acusado de homicídio doloso pela morte de cinco mulheres, em Goiânia e Brasília, além de ser alvo de 35 denúncias por erro médico. Caron não tinha formação em cirurgia plástica. Ele é procurado pela Justiça para ir a júri popular.