Ponte aérea da moda
Ponte aérea da moda (Diário da Manhã, 17/09/2008)
Márcia Fabiana
DA EDITORIA DO DMREVISTA
A frase “quando crescer quero ser médica” não funcionou para a bela morena Lorena Ghannam, 23. Atualmente, a jovem tem se realizado profissionalmente como modelo, principalmente no continente asiático. O mercado da passarela se abriu depois que Lorena ganhou, em 2005, na China, o título da Mais Charmosa do Mundo do concurso Wu Ai Cup-International Model Contest, reality show que confinou, por 15 dias, em um hotel de Pequim, modelos de 55 países. Como o Brasil já tinha representante, Lorena foi escalada pela sua Agência Azure para representar o Chile.
Ela, que desde criança sonhava em trabalhar na área de saúde – “talvez ser uma obstetra” –, viu os planos mudarem aos 15 anos, quando fazia aula de teatro. Na época, o teatro serviu como pontapé para o mundo artístico. “Mesmo querendo fazer Medicina, o curso de teatro era uma paixão e sonhava exercitá-lo, nem que fosse de forma amadora.” Lorena lembra que, enquanto fazia o curso, o que mais ouvia é que deveria tentar a carreira de modelo. “Sentia aversão tremenda pela idéia, pois não aceitava a possibilidade de parar com os estudos e abandonar o sonho da vida estabilizada.”
Aconselhada pelo coreógrafo Beri, o mesmo da apresentadora Xuxa, e incentivada pela mãe, Ângela Ghannam, que também já foi modelo, Lorena procurou uma agência. “No início me sentia ofendida, porque achei que era uma desculpa por não acreditarem que tivesse talento para ser atriz.” Com a New Face Model, em Goiânia, apareceram os primeiros trabalhos. Em 2001, com 16 anos, ela participou da edição do Flamboyant Fashion. Longe de ser uma garota tímida, Lorena “tremeu nas bases” na hora de pisar na passarela, pois não sabia nem desfilar. “Apenas entrei e andei.” Curiosa por natureza, a modelo assistiu a dezenas de fitas em que exibiam imagens das tops Gisele Bündchen, Isabeli Fontana e Angels, da Victória’s Secrets.
TRABALHOS
O empenho em assistir às fitas não foi à toa. São essas modelos que dominam a técnica de desfilar três tempos (considerada a passarela perfeita). Perguntada qual a diferença das formas de caminhar, Lorena prontamente calça um escarpim salto agulha e explica, na prática. A técnica possibilita um jogo de quadril que dá a ilusão de ótica de que as pernas são mais alongadas. O três tempos também não permite que a modelo fique com os dois pés no chão ao mesmo tempo. Claramente, percebe-se a mudança. Lorena cresce no andar, muda a postura e, no rosto, vê-se uma modelo pronta para ser clicada.
Depois da estréia, seguiram-se dois anos de trabalhos em Goiânia, com editoriais, desfiles e catálogos de moda para as marcas Contraponto, Futillity e João Queiroz, além de desfilar nos principais eventos de moda da Capital, tais como Flamboyant e CMB Fashion. Decidida de que o momento era propício para investir na carreira, assim que completou 18 anos, em 2003, Lorena se mudou para Nova York. Depois de três meses, a modelo retornou para o Brasil, concluiu o ensino médio e engatou o curso universitário de Designer de Moda da Universidade Federal de Goiás. Paralelamente, continuou com trabalhos de modelo e participou de campanhas para Dona Chic, Fause Haten, Forum, Zoomp, Ellus, Rosa Chá e Casa Magrela.
Entretanto, a grande virada veio em 2005, com a proposta de trabalhar na Ásia. Com o mercado crescente no continente e a abertura do comércio para o mercado internacional, os tigres asiáticos (Tailândia, Cingapura, Malásia e Taiwan), juntamente com a China, resolveram investir nas faces ocidentais para encabeçar campanhas de moda. Dentro da Azure, Lorena é considerada “sambada” (modelo experiente) para mudar-se para a região.
Mal chegou lá e já foi escalada para participar do reality show de beleza realizado em Pequim. “Foi incrível, nós, modelos, éramos tratadas como celebridades. Cada uma tinha dois seguranças à disposição, fomos seguidas o tempo todo”, ri. A simpatia e o desembaraço fizeram com que milhões de chineses votassem nela para a Mais Charmosa do Mundo.
PRESENTES
Além do prêmio em dinheiro (ela não revela o valor), a modelo ganhou um troféu de cristal e ainda mais prestígio na China. “O concurso me abriu portas. Tornei-me uma celebridade e muitos trabalhos apareceram.” Além do prêmio, outro fator que a ajudou como modelo foi a falta de um perfil comercial bem definido. “Como não tenho um único estilo, ficou mais fácil participar de várias campanhas em segmentos diferentes.” Entre outdoors, editoriais e catálogos de roupas, Lorena trabalhou para Versace, Louis Vuitton, Mulberry, Chanel, Lane Crawford, All Star, Diesel e para a revista francesa mais cobiçada por modelos, L’Officel.
Sem o peso da responsabilidade de ter de realizar o sonho da família, como, por exemplo, a compra de uma casa, Lorena, a filha mais velha da família Ghannam, aproveitou a grana que recebeu no primeiro ano de trabalho e gastou com mimos para o clã. Para a festa de fim de ano de 2006, a modelo trouxe para casa duas malas extras só com presentes. Foi quando aproveitou e convenceu o pai, Mário Ghannam, a aceitar sua carreira profissional. “Ele nunca foi contra, mas temia por ser uma carreira instável.”
Depois de dois anos trabalhando nos países asiáticos, Lorena está de volta ao Brasil. Há dois meses em Goiânia, ela tem ajudado o pai na campanha para vereador. Contudo, a passagem é rápida. Assim que as eleições terminarem, a modelo embarca para Milão, com planos de ficar duas temporadas na Europa, em torno de seis meses.
Para amenizar a saudade da família (além dos pais, ela tem três irmãos, Larissa, 22, Mário, 21, e Marcos, 16), Lorena fala uma vez por semana com os pais ao telefone. Com a irmã Larissa, o contato é diário. “É muita saudade, não quero me envolver com a rotina deles. Senão, não paro de chorar.” Enquanto está em casa, a modelo se diverte com o poodle Bira, seu animal de estimação.