Vote em Paulo Bertran

 

Vote em Paulo Bertran (Diário da Manhã, 18/09/2008)

Fred Leão
Da editoria do DMrevista

É com a vibração vinda do orgulho máximo que uma mãe pode sentir pelo filho que dona Maria Helena Chaibub, mãe do historiador goiano Paulo Bertran, se empenha pela votação ao prêmio Brasileiro Imortal, concedido pela Companhia Vale do Rio Doce a personalidades que tiveram trajetórias ligadas a causas ambientais. O falecido escritor é um dos indicados na categoria Centro-Oeste. O clima de campanha está claro logo na entrada da casa de dona Maria Helena, onde se vê uma faixa com a mensagem Paulo Bertran, único goiano indicado ao prêmio Brasileiro Imortal. Clique o quanto quiser. A eleição é realizada no site www.brasileiroimortal.com.br até o próximo dia 30.

A premiação vai homenagear em seis categorias, sendo cinco regionais e uma nacional. Seis espécies botânicas descobertas na Reserva Natural do Vale, em Linhares (ES), serão batizadas oficialmente com os nomes dos escolhidos em cada categoria, por meio da votação popular. Além de Bertran, outros 14 nomes foram indicados, por uma comissão de pesquisadores formada por ambientalistas.

No empenho para que Paulo tenha muitos votos, a família não mede esforços para conquistar o título. “Estamos empenhados como se estivéssemos numa campanha política cultural, que vale a pena e só traz aspectos positivos para Goiás se Paulo for eleito. Eu nunca estive em campanha eleitoral, mas estou dedicando todos meus esforços”, vibra dona Maria Helena. Ela tem dedicado várias horas do dia para votar pelo site e diz que conta com o apoio dos amigos, como a escritora Augusta Faro, para a divulgação.

Atuação

Apesar da formação em Economia, Paulo Bertran se destacou como historiador e pesquisador. Com a publicação de dez livros, entre eles o premiado História da Terra e do Homem no Planalto Central (1994), foi responsável por incluir o período colonial do Centro- Oeste na história brasileira, como constata o político e historiador Cristovam Buarque, em documentário exibido pela TV Senado, após a morte de Bertran.

Além de obras de cunho histórico, escrevia também poesias e se aventurava ao piano. Foi diretor-geral do Instituto de Pesquisas e Estudos Geográficos do Brasil Central da Sociedade Goiana de Cultura e professor das universidades de Brasília (UnB), Federal de Goiás (UFG) e Católica de Goiás (UCG). Integrou a Academia Brasiliense de Letras, Academia de Letras e Artes do Planalto e era sócio dos Institutos Históricos e Geográficos de Goiás, do Distrito Federal e São Paulo, além de participar da Academia Paulistana de História e ser membro da Organização das Nações Unidas para a Educação, Arte e Cultura (Unesco) Internacional.

O reconhecimento veio com a defesa e o estudo do Cerrado, que levaram Paulo a ser considerado uma espécie de bandeirante dos tempos modernos. Dona Maria Helena recorda que o filho não media esforços, se embrenhando na mata para pesquisas. O historiador foi responsável pela justificativa histórica do dossiê pelo reconhecimento da cidade de Goiás como Patrimônio da Humanidade e defendeu a candidatura do conjunto art déco de Goiânia a patrimônio nacional.

Mesmo com a importância e riqueza da obra de Bertran, existem dificuldades para que sejam feitas novas tiragens, já que todos os títulos escritos por ele estão esgotados. Este é o motivo pelo qual os livros só podem ser encontrados em sebos e bibliotecas. “A nossa grande dificuldade é ter livros novos, pois não conseguimos reeditar as obras do Paulo. Há projetos para conseguir isso, mas há entraves financeiros pela dificuldade de se conseguir patrocínio”, lamenta a mãe do pesquisador. A boa notícia é que o livro História da Terra e do Homem no Planalto Central vai ser reeditado em versão luxo.

Muitos educadores têm o historiador como grande referência e seguem uma espécie de linha de pensamento de Bertran no ensino da disciplina de história em salas de aula. Ele criou o termo cerratense, para designar quem é originalmente do ecossistema no qual grande parte do Centro-Oeste está inserido.

A visão que o autor deixou em sua obra era a de quem vivia e amava o Cerrado. O conjunto da obra do pesquisador é tida como inovador e, com isso, foi designada como ecohistória. Em Brasília, Paulo foi o principal responsável pela concepção do Memorial das Três Idades, junto com a mulher, Maria das Graças Fleury Curado. O lugar propõe uma viagem por um paredão de rochas do grupo Paranoá, com reproduções fiéis de pinturas rupestres dos principais sítios arqueológicos do Brasil. No próximo dia 2 de outubro completa três anos da morte de Paulo, que faleceu vítima de parada cardiorrespiratória, aos 56 anos.