Estudantes goianos presos na Bolívia
Estudantes goianos “presos” na Bolívia (Jornal Hoje, 18/09/2008)
Onze estudantes de Jornalismo e uma aluna de Geografia da Universidade Federal de Goiás (UFG) continuam em La Paz, capital da Bolívia, país que há duas semanas vive uma onda de protestos contra o governo Evo Morales. As fronteiras da Bolívia foram fechadas e, por segurança, o grupo da UFG decidiu aguardar a solução dos conflitos, que se concentram na região de Santa Cruz de la Sierra. Na noite de ontem, governo boliviano e oposição teriam um diálogo em Cochabamba para tentar superar a crise. Se as estradas entre La Paz e Santa Cruz não forem desbloqueadas hoje, o governo goiano vai pedir à Força Aérea Brasileira (FAB) o resgate dos estudantes.
Como as estradas para Santa Cruz, Estado por onde os brasileiros têm de passar para ir para Corumbá, estão bloqueadas, os estudantes ficaram impedidos de chegar à fronteira. Elie Chidiac, assessor para Assuntos Internacionais do governo de Goiás, entrou em contato com a embaixada do Brasil na Bolívia e já fez ontem um pedido informal para o comando-geral da Aeronáutica. “Caso se confirme a impossibilidade de o grupo fazer a travessia por ônibus, vamos solicitar o resgate”, explica Chidiac.
Desde 28 de julho os estudantes estão no país para um intercâmbio sobre cinema. Os 12 goianos estão hospedados em casas de outros alunos da Escuela de Cine y Artes Audiovisuales (ECA) e deveriam ter deixado a cidade na sexta-feira, 12. Nilton José dos Reis Rocha, professor da Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia (Facomb) e um dos organizadores do evento, explica que, como a universidade não apoiou financeiramente a viagem, os estudantes só podem voltar de ônibus. “A opção foi ficar nos alojamentos da escola em La Paz até que termine o conflito em Santa Cruz”, diz. A previsão é de que os universitários saiam hoje à noite de La Paz.
A jornalista boliviana Silvana Saavedra Rodriguez, 26, aluna de cinema e artes visuais da ECA, tem quatro estudantes da UFG hospedadas em sua casa. “Aqui em La Paz, a situação é tranqüila, mas o grupo achou melhor adiar a volta. Aqui todos se encontram muito bem.”
A equipe do HOJE entrou em contato pela internet com duas estudantes. Gabriela Marques Gonçalves, 20, aluna do sexto período de Jornalismo da UFG, conta que não conseguiu pegar ônibus para Santa Cruz e garante que o grupo não passa por dificuldades. “Os conflitos devem acabar hoje (ontem) em Tarija e Santa Cruz, por isso vamos embora logo.”
Ana Lúcia Nunes, 22, aluna do sétimo período, confirma que todos os alunos estão seguros e bem. “Em La Paz, não há qualquer tipo de distúrbio, apenas manifestações de apoio ao governo e contra os assassinatos”, conta. “Estamos aproveitando nosso tempo para assistir aulas na Escuela de Cine.”
Na tarde de ontem, Ana Lúcia entrou em contato com a embaixada. “O Itamaraty vai ver se manda um avião da FAB para nós. A embaixada só começou a agir agora que a embaixada recebeu ligações do Itamaraty, da nossa universidade e do governo estadual.”
Ontem, familiares de alunos procuraram informações na universidade e junto ao governo estadual. “É natural que fiquem apreensivos, nós também ficamos preocupados. Não houve risco em momento algum, mas sempre resta uma tensão”, comenta Ana Carolina Rocha Pessoa Cemer, coordenadora do curso de Jornalismo da UFG.
Um grupo de estudantes da Universidade Federal de Rondônia (Unir) furou o bloqueio na quinta-feira, 11. A professora Patrícia da Veiga Borges conta que foi uma viagem arriscada. “Foi até imprudência nossa”.
Até a cidade de Bulo Bulo, perto de Santa Cruz, o grupo percorreu 200 quilômetros negociando a passagem – trechos de ônibus, a pé, de táxi. “Não deixam passar carro. Colocaram paus e pedras, e tínhamos de pagar para passar”, relata. Segundo ela, a opção dos estudantes da UFG de ficar em La Paz foi a mais sensata. “Eles respeitam muito os estrangeiros. As famílias dos estudantes podem ficar tranqüilas”, garante.