Ah, senhores vereadores!
Ah, senhores vereadores! (Diário da Manhã, 21/09/2008)
Maria do Rosário Cassimiro
Maria do Rosário Cassimiro é educadora e escritora; ex-reitora da Universidade Federal de Goiás e da Unitins (TO); e ex-presidente da Academia Goiana de Letras e do Conselho Estadual de Educação
Sempre pensei – e até almejei – em ser vereadora por Goiânia. Trabalhar em prol da cidade em que vivemos, ainda mais por Goiânia, cidade do meu bem-querer, seria para mim, além de uma grande honra, um prazer imensurável.
Dificilmente me ocorreria missão mais nobre do que esta de trabalhar pela minha cidade, a cidade em que vivo com meus amigos e familiares. Entretanto, me sentiria muito melhor se não recebesse salário pela prestação de meus serviços junto à edilidade goianiense. Acho que vereador não deveria receber salário, mas apenas jetons pelo comparecimento às sessões e às comissões para as quais tenha sido designado. Salário mensal, não. Acho que isso está errado. Tenho certeza de que, se assim fosse, a nossa Câmara Municipal estaria inteiramente integrada por eminentes personalidades da nossa sociedade, desinteressadas de receber retribuições fixas, honradas, todavia, em poder contribuir para o bem-estar dos goianienses e efetivar melhoramentos à nossa cidade. Não quero dizer que não haja, na nossa Câmara Municipal, vereadores dignos, para os quais o salário vem em segundo lugar e que, quando estão em campanha para serem eleitos, não se dão ao ridículo de fazer, por fazer, promessas que não irão cumprir, até porque muitas dessas promessas não estão dentro das obrigações de um vereador. Mas também não podemos negar que muitos lá estão pelo desejo único de receber um bom salário mensal de maneira fácil, um salário ao qual não fazem jus, se analisarmos os “serviços” que prestam à comunidade, a começar pelo número de dias que, semanalmente, comparecem à Câmara. E, mesmo sendo pouco o que fazem, vez por outra lá estão lutando para aumentar o número de vereadores, como se fossem poucos os que pouco fazem. Agora estão os nossos vereadores mais uma vez legislando em causa própria, no sentido de elevar o número anual de seus salários.
É bom que se diga que muitos desses edis mal merecem 12 por ano. Estão querendo 13º, 14º e até um 15º, como se isso não fosse uma verdadeira afronta àqueles que os elegeram e que pagam, com o suor de seus rostos, os seus salários. Atitudes como essas levam muitos eleitores a pensar: “Para que uma Câmara de Vereadores?” Até quando inconfiáveis edis terão que ter suas ações vigiadas pela opinião pública? Li no jornal, recentemente, que, ante a proximidade das eleições, os vereadores, receosos da má repercussão que causou na população essa indecorosa proposta, decidiram voltar atrás e anular os tais 13º, 14º e 15º. E quem nos garante que, passadas as eleições, não voltarão eles à carga, com seus objetivos perversos? Li também nos jornais que apenas dois dos vereadores se puseram contra esses despropósitos. Ainda bem que os jornais de Goiânia fizeram veicular os nomes desses dois abnegados, para que possamos encaminhar, oportunamente, os nossos votos. Eu sei que lá na Câmara há vereadores que se reelegerão facilmente com os votos de suas respectivas comunidades, uma vez que essas, na realidade, são verdadeiros currais eleitorais, à moda da década de 1930, quando as pessoas votavam segundo a ordem recebida por seus superiores. Mas sei, também, que esses eleitores de cabresto fazem parte do povo que, como um todo, se vê prejudicado pela ganância de seus candidatos. Levantemos todos nossas vozes, no sentido de coibir, com a arma democrática do voto, essas atitudes que visam, tão-somente, ao interesse escuso de políticos que não levam em conta o sacrifício dos seus próprios eleitores, quando se trata de legislar em benefício de seus próprios bolsos.
Maria do Rosário Cassimiro é educadora e escritora;
ex-reitora da Universidade
Federal de Goiás e da
Unitins (TO); e ex-presidente
da Academia Goiana
de Letras e do Conselho
Estadual de Educação