Ensino de Libras pode se tornar obrigatório

Ensino de Libras pode se tornar obrigatório (Jornal Hoje, 21/09/2008)

Pedro Queiroz Roque, 3, aprende os primeiros sinais no CMEI Bairro Feliz. Com dificuldades de audição, o menino já tem iniciação à Linguagem Brasileira de Sinais (Libras). Além dele, a professora Analycia Quesado Bezerra ensina a língua para toda a turminha e também a avó do menino, Alzira Alves Roque, 53, vendedora. “Acho importante que as outras crianças aprendam a se comunicar com ele. Meu neto já desenvolveu bastante”, observa a avó. Essa inclusão pode ser estendida a todas a escolas de educação infantil e do ensino fundamental segundo um projeto de lei que acaba de ser aprovado no Senado Federal.

A proposta do senador Cristovam Buarque (PDT-DF) foi aprovada em decisão terminativa no último dia 9 pela Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE). Em forma de substitutivo, o projeto será ainda submetido a um turno suplementar na comissão. Pela proposta, a disciplina de Libras deve ser incluída na parte diversificada do currículo da educação infantil e nos dois primeiros anos do ensino fundamental. Será facultativo a partir da sexta série do ensino fundamental. Segundo a Agência Senado, o autor do projeto explica que Libras não será matéria obrigatória para os estudantes, mas observou que a sua oferta poderá beneficiar as famílias das pessoas surdas.

Edna Nisseno Pires, coordenadora do curso de Formação de Professores para Educação de Pessoas Surdas, na Faculdade Araguaia, e do curso de Libras Online na Universidade Católica de Goiás (UCG), elogia a proposta do Senado. “Temos de nos preparar para atender as pessoas especiais. Para o deficiente auditivo, a única barreira entre ouvinte e surdo é a comunicação. Precisamos vencer essas barreiras, conversar com eles pela língua de sinais, oficializada como língua desde 2002”, observa a professora.

Segundo Edna, Goiás tem mais de 700 escolas inclusivas, que atendem todo tipo de necessidade especial. Dados do IBGE de 2004 apontavam que 66 mil crianças surdas estavam matriculadas nas escolas regulares no Brasil, enquanto a população era de mais de 5 milhões de surdos. Matriculados no ensino superior, havia apenas 974 em 2004. Desses, somente duas pessoas com surdez chegaram ao doutorado.

A área, portanto, ainda carece de profissionais qualificados em Libras. Em Goiás, poucas instituições oferecem cursos, como a UCG, faculdades Araguaia e Padrão e o Centro Universitário Alfredo Nasser (Unifan). Em Goiânia, um pólo da Universidade Federal de Santa Catarina oferece a graduação em Letras-Libras, curso que a Universidade Federal de Goiás (UFG) também vai disponibilizar no próximo vestibular.

A irmã gêmea de Analycia, Licyana Quesado Bezerra, também é professora de Libras, dá aula para uma turma da alfabetização em uma escola municipal. “É uma linguagem como outra, tem de começar cedo. Com o ensino da língua, há uma maior interação entre toda a turma”, conta.

Decreto
O Decreto 5.626 de 2005 já obriga as instituições públicas a disponibilizarem intérpretes para estudantes surdos. Em Goiás, há mais de 500 profissionais capacitados. O Centro de Capacitação de Profissionais da Educação e de Atendimento às Pessoas com Surdez atende 480 alunos por dia, segundo Sebastião Donizete Carvalho, coordenador de ensino especial da Secretaria Estadual de Educação.

Para este ano está autorizado um concurso público para preenchimento de 500 vagas para profissionais capacitados em Libras. Não é preciso ter a graduação em Libras. “Só temos oito licenciaturas no Brasil. Não é possível hoje fazer um concurso só para licenciados.”

Para o professor Donizete, esse é um dos campos mais promissores, porque o profissional qualificado em Libras pode trabalhar em universidades e empresas públicas e privadas.