Papa-prêmio ganha mais um
Papa-prêmio ganha mais um (Diário da Manhã, 26/09/2008)
Márcia Fabiana
DA EDITORIA DO DMREVISTA
O estudante secundarista Wemerson Charlley da Fonseca Fraga, 17, e a professora de Biologia Cibele Pimenta Tiradentes, 42, do Colégio Estadual Vilaverde, de Inhumas (GO), a 35 km de Goiânia, foram vencedores em nível nacional da 4ª Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente, promovida pela Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva e Ministério da Saúde.
Os goianos venceram na categoria de ensino médio, na modalidade Produção de Texto, na qual concorreram 124 trabalhos. A premiação aconteceu no dia 17 de setembro, no Rio de Janeiro, no auditório do Museu da Vida. Como prêmio, a dupla ganhou uma viagem de três dias para a Cidade Maravilhosa, medalhas e placas de homenagem.
Este é o quarto prêmio nacional do estudante, o primeiro na área de pesquisa. Os anteriores foram na área de literatura. Na cidade onde mora com a família, Wemerson tornou-se referência por papar tantos prêmios nacionais. A fama acabou rendendo a ele bolsa de estudos em um colégio particular onde estuda atualmente. Nunca havia estudado fora da rede pública.
Para conquistar os prêmios, Wemerson não só estuda três horas diárias como também pesquisa na internet concursos nacionais nos quais acredita ter chance de concorrer. Ou seja, o garoto é uma espécie de caça-prêmios. Filho de cozinheira e de um funcionário de frigorífico, tem uma irmã adolescente estudante de colégio público. Wemerson quer ser jornalista e tem “paixão” em escrever poemas, contos e crônicas.
O interesse de Wemerson por concursos foi estimulado pelo professor de Artes do antigo colégio, José Carlos Henrique, que sugeriu ao aluno que participasse, em 2006, da Semana de Arte realizada anualmente pela instituição. O estudante concorreu nas categorias Conto, Fábula e Poesia e saiu-se vencedor. Desde então tomou gosto não só pela leitura – é fã de grandes autores brasileiros, como Machado de Assis –, mas pela disputa de prêmios.
INTERESSE
Com a crescente produção do etanol no Brasil, Wemerson discute em seu artigo os malefícios que isso provoca na região de Inhumas. Com orientação da professora de Biologia responsável pelo projeto, Cibele Pimenta, o estudante mostra que as queimadas nos canaviais prejudicam o meio ambiente, a saúde e a qualidade de vida da população.
Durante o trabalho de pesquisa de campo – onde foram entrevistados trabalhadores de usinas, cortadores de cana, moradores do município e profissionais da área de saúde –, a dupla averiguou que o aumento de doenças respiratórias, por exemplo, culminava com o mesmo período da colheita de cana-de-açúcar.
“O período da colheita coincide com clima seco entre os meses de abril e novembro, fazendo com que haja um aumento de 10 a 100 casos de ocorrência nos postos de saúde na cidade”, afirma Wemerson.
Contraproposta
Cibele diz que o texto científico faz reflexão sobre a produção alcooleira da cidade de Inhumas, onde moram. A contraproposta apresentada no artigo pelos goianos é discutir como pode ser feita a produção do etanol sem degradar a natureza, fazer com que a economia se torne sustentável e que a monocultura da cana não empobreça o solo e diminua a diversidade biológica.
A professora afirma ainda que nas cidades onde há usinas instaladas ocorre a estagnação da economia do setor, gerando prejuízos às empresas que cultivam a cana.
INCENTIVO
Os trabalhos inscritos na quarta edição da olimpíada foram produzidos por professores e alunos de ensino fundamental (6º ao 9º ano) e de ensino médio, de escolas públicas e privadas de todo o País.
No total, foram 471 trabalhos inscritos e 679 professores cadastrados no site. Com o título Queimando a saúde e o meio ambiente – o custo ambiental da produção de cana-de-açúcar para a fabricação de etanol, o trabalho goiano alcançou o primeiro lugar entre 124 inscrições nacionais na categoria Produção de Texto. As outras duas modalidades eram Arte e Ciência (com 136 inscrições) e Projeto de Ciências (211 inscritos).
Outros temas abordados pelos trabalhos inscritos foram reciclagem, higiene bucal, dengue e preservação da natureza. Cristina Araripe destaca que o objetivo da olimpíada é despertar o interesse deste público pela ciência e pela tecnologia ainda na juventude e tornar mais forte o desejo de aprender, conhecer, pesquisar e investigar.
Para Cibele, a premiação ajuda a fortalecer a idéia de que o ensino médio no Brasil só terá mudanças significativas quando a educação for laboratorial e o aluno tiver oportunidade de construir o próprio conhecimento, interagindo com colegas e professor. “É necessário investir na produção científica para que os professores possam aplicar de fato o que se aprende na universidade. Senão, perde-se a oportunidade de vencermos como profissionais”, argumenta.
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Wemerson Charlley da Fonseca Fraga, 17
estudante do terceiro ano do ensino médio.
O que faz: Vestibulando para o curso de Jornalismo
Prêmios: Vencedor da promoção da revista Época com o Conselho Britânico para ser embaixador do Brasil em Londres no Fórum Internacional Estudantil, em julho de 2007; Medalha de Prata Monteiro Lobato da Academia Pan-americana de Letras e Artes, em 2006; VI Concurso Kelps de Poesia Falada, em 2006.
Cibele Pimenta Tiradentes, 42
professora de biologia
Formação: Biologia pela Universidade Federal de Goiás; mestre em Ciências Ambientais e Saúde; especialista em docência universitária.
O que faz: Há 22 anos leciona no Estado e na rede privada. É professora do Colégio Estadual Manoel Vilaverde, de Inhumas
Projetos coordenados:
1° lugar na 4ª Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente
3° lugar na 4ª Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente da Região Centro-Oeste